Para muita gente, 2015 vai embora sem deixar saudades. Para a saúde do Brasil, também. O ano foi marcado por problemas em hospitais públicos, com falta de recursos, e pelo surto de microcefalia, que já beira os 3 mil casos suspeitos. A situação inda intriga os pesquisadores e autoridades de saúde. Embora se saiba que há uma relação com o zika, não se conseguiu compreender o mecanismo de ação do vírus no sistema nervoso dos bebês em formação, nem se tem uma noção exata dos danos que ele é capaz de causar.
A esperança é que em 2016 as pesquisas avancem e se tenha mais certezas. Também são respostas o que procuram os grupos que vão analisar a verdadeira eficácia da fosfoetanolamina, outro tema polêmico para a saúde em 2015 e que deve continuar na pauta . Confira a seguir outras tendências para a área neste ano:
Ainda mais dificuldades no SUS
Os cortes no orçamento federal também atingiram o Ministério da Saúde. Embora a pasta tenha acabado com um orçamento maior que o inicialmente previsto pelo governo, os R$ 118 bilhões reservados para a Saúde em 2016 representam um aumento de pouco mais de 8% em relação ao ano passado. O valor não chega nem a cobrir a inflação acumulada nos últimos 11 meses de 2015, que chegou a 9,6% (medida pelo IPCA). Ou seja, não houve um aumento real no orçamento da saúde. Dessa forma, com os recursos previstos, será possível oferecer, no máximo, os mesmos serviços deste ano. Como 2016 promete ser de alta do desemprego -- como consequência, com mais gente sem plano de saúde -- e com o desafio do zika vírus e da microcefalia, fica evidente que o dinheiro será insuficiente e o SUS enfrentará ainda mais dificuldades.
Mais casos de microcefalia relacionados ao zika vírus
O número de bebês com suspeita de microcefalia relacionada à doença transmitida pelo Aedes aegypti chegava a quase 3 mil em 29 de dezembro e esse número só deve crescer nos próximos meses. Apesar das tentativas de autoridades sanitárias e dos esforços da população, é pouco provável que o mosquito seja controlado no país já neste verão. Como consequência, o zika vírus continuará contaminando mais pessoas, inclusive grávidas no início da gestação.
Teremos respostas sobre a fosfoetanolamina
Sintetizada por pesquisadores do câmpus da Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos, a substância tem fama de curar o câncer, mas não há nada cientificamente comprovado. Depois de muita polêmica e uma crescente busca por decisões judiciais que obrigassem a USP a fornecer a fosfoetanolamina a doentes, o governo federal resolveu investir R$ 10 milhões em pesquisas para verificar a eficácia e segurança da substância. O Instituto do Câncer de São Paulo coordenará os testes em humanos, mas ainda não se sabe quando essa etapa da pesquisa vai começar. A expectativa, porém, é que em 2016 já tenhamos algumas respostas.
A vacina contra a dengue chegará ao mercado
A Anvisa liberou na última segunda-feira (28) a comercialização da vacina contra a dengue desenvolvida pelo laboratório Sanofi Pasteur e em breve o imunizante deve estar disponível no mercado brasileiro. No começo de dezembro, a vacina desenvolvida pela farmacêutica francesa foi liberada no México. Recomendada para pessoas a partir dos 9 anos, ela reduz em 66% a contaminação pelos quatro subtipos da dengue. Também é capaz de diminuir em quase 100% as manifestações graves da doença. Em outra linha, o imunizante em estudo pelo Instituto Butantan também avança. A última etapa dos testes clínicos deverá começar nos próximos meses. A expetativa é que até 2018 ela esteja no mercado.
O número de cesarianas com data marcada vai cair
A pressão da Agência Nacional de Saúde Suplementar para que se priorize o parto normal deve começar a ter efeitos em 2016. Em julho deste ano, começaram a vigorar as novas regras para a assistência ao parto nos atendimentos por planos de saúde. Entre as regras, está a possibilidade de a grávida saber os porcentuais de partos normais e cesarianas realizadas por obstetras e a exigência do partograma -- espécie de diário do nascimento do bebê -- para o pagamento do procedimento. Pelas regras, as cesárias eletivas (agendadas) só serão pagas pelas operadoras mediante a apresentação de um termo assinado pela gestante. As regras, que são uma tentativa de reduzir o alarmante porcentual de 84,6% de partos cirúrgicos realizados na rede privada do país, devem começar a ter reflexos em 2016, com maior conscientização de gestantes e vigilância sobre os médicos.
A internet vai ajudar ainda mais médicos e pacientes
Recentemente, o Ministério da Saúde lançou um aplicativo para ajudar pacientes a identificarem os sintomas do zika vírus, que tem assustado o país. Neste ano, um médico canadense criou uma espécie de instagram para médicos. Por meio do programa, profissionais do mundo todo podem publicar imagens de exames e descrever sintomas para buscar outras opiniões. Esses dois exemplos são mostras de como a internet pode beneficiar pacientes e médicos e essa tendência só deve se ampliar com a facilidade de acesso à web por meio dos smartphones.
Configurações das cidades
Com a pressão para a redução dos gases de efeito estufa, a necessidade de conter a obesidade da população e as discussões sobre a ocupação dos espaços urbanos, a influência da formatação das cidades sobre a saúde das pessoas deve ser uma pauta cada vez mais discutida. Nessa onda, a Organização Mundial da Saúde (OMS) quer capacitar gestores para que consigam mensurar o quanto economizam quando implementam medidas, como ampliação da rede de saneamento ou melhora no sistema de transporte público. O projeto deve começar em 2016 em países africanos e logo deve chegar à América do Sul. Outro reforço nessa discussão será a 22.ª Conferência Mundial de Promoção da Saúde, que ocorrerá em maio em Curitiba e também tratará de temas relacionados aos movimentos urbanos e as ações intersetoriais.