A Coluna de Defesa do Consumidor do Jornal O Globo publicou hoje, dia 24, entrevista com Jay Cohen, Chairman do Monarch HealthCare, que está no Brasil para participar do 1º Fórum de Saúde Suplementar, evento organizado pela FenaSaúde, que acontece hoje e amanhã em São Paulo. Confira abaixo a íntegra da matéria.
Discutir um novo modelo para a saúde suplementar brasileira, desde a forma de remuneração da cadeia até de sistema de informação, é o objetivo do 1º Fórum de Saúde Suplementar que acontece nesta terça e na quarta-feira, no Hotel Hilton, em São Paulo. Com o tema “Sobrevivência do Setor de Saúde Suplementar – Propostas, Metas e Responsabilidades”, o evento promovido pela Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) reunirá, além de representantes das operadoras, de governo, agentes reguladores e consumidores, fora especialistas internacionais.
“Para cada um dos painéis a gente vai buscar endereçar, não apenas o diagnóstico, mas proposta factíveis. É recomendável fazer alguma coisa no Brasil como HCCI, sistema de informação americano. Mas a ideia é sair do fórum com uma proposta factível para o setor”, antecipa o presidente da Fenasaúde, Marcio Coriolano.
Um dos painéis do evento, “Organização da Assistência e Remuneração”, contará com a participação de Jay Cohen, Chairman do Monarch HealthCare, que falará sobre o Accountable Care Organization (ACO), modelo construído nos Estados Unidos, que prevê que uma empresa organize e ofereça às operadoras a prestação integrada e coordenada de serviços, de forma que todos respondam pelos atos sobre os quais têm responsabilidade de gestão e aumente a eficiência em relação a custos. Cohen deu uma entrevista exclusiva para a “Defesa do Consumidor” explicando como funciona o sistema e como ele se aplicaria ao Brasil.
Jay Cohen, Chairman do Monarch HealthCare |
O que é a ACO e como ela opera?
A ACO, sigla em inglês para Accountable Care Organizations, estabelece um sistema de coordenação que permite aos médicos e hospitais locais colaborarem e cumprirem de forma mais eficiente e mais efetiva com suas funções. São estabelecidas métricas da qualidade da performance das ACOs, que são usadas para medir e premiar estas organizações. O sistema criado nos Estados Unidos por operadores que se juntaram para melhorar a forma de se prover saúde. Elas funcionam de formas diversas, mas sempre incluem médicos, especificamente clínicos-gerais, e, frequentemente, um ou mais hospitais localizados nas comunidades nas quais os médicos trabalham. O setor privado de planos de saúde e as agências governamentais estão ativamente buscando estabelecer ACOs ao oferecer contratos que encorajam o tipo de serviço. O princípio norteador das ACOs é a criação de um sistema de prestação de contas do serviço de saúde.
Quais foram as principais dificuldades que precisaram ser superadas para criar as ACOs nos Estados Unidos?
Mudanças sempre são difíceis de se implementar. Transformar a forma como o sistema de saúde funciona nos Estados Unidos não é uma exceção. Todos os elementos do sistema de saúde americano - incluindo planos de saúde, médicos, hospitais e até pacientes - estão acostumados a fazer coisas do jeito como tem sido feitas há décadas. Então, quando uma abordagem inovadora é apresentada, há uma inércia que precisa ser superada. Embora estejamos tendo progresso e os princípios de cuidado com responsabilização estejam sendo adotados por várias organizações em todos os Estados Unidos, levará anos até que os benefícios potenciais deste movimento em direção à responsabilização estejam totalmente concretizados.
Para os consumidores, o modelo de ACOs é melhor? Se sim, quanto?
Do meu ponto de vista é melhor. As ACOs em geral possuem três grandes objetivos: melhorar a qualidade do serviço de saúde oferecido da população pela qual é responsável; melhorar a experiência dos pacientes sob seus cuidados; e fazer isso de forma mais eficiente, por um custo menor do que o normal. Acreditamos que é possível entender como o resultado destes esforços pode ser bom para consumidores: mais saúde, experiência melhor, e preços mais baratos para a cobertura.
O senhor acredita ser possível criar uma ACO no Brasil?
Sim. Aliás, se não me engano, um ou dois operadores de planos de saúde no Brasil já funcionam com modelo similar aos das ACOs. Por outro lado, acreditamos que implantar este sistema será tão desafiador no Brasil quanto foi nos Estados Unidos. Acredito que há uma inércia no Brasil, baseada em décadas de experiências anteriores, de fazer as coisas de uma determinada forma. Assim, acredito que todos os atores do processo - planos de saúde, médicos, hospitais, pacientes e organizações governamentais - podem se beneficiar ao entender as potenciais melhorias quando as pessoas são encorajadas a colaborar e a serem mais responsabilizadas pela qualidade e custo total do cuidado de saúde sendo dado.