Para a Defensoria Pública da União, motivo é a incompetência de gestores dos hospitais. Mais de 20 mil pacientes do SUS esperam na fila.
O número de cirurgias realizadas em seis hospitais federais do Rio despencou para menos da metade desde 2008. Para a Defensoria Pública da União, o motivo é a incompetência dos gestores dos hospitais. Faltam profissionais, medicamentos e até materiais básicos.
Faz três anos e cinco meses que a Ana Lúcia de Oliveira fez exames para uma cirurgia no joelho. De lá para cá, o papel continua o mesmo. O joelho também, porque operação, que é bom, nada. Ela tem artrose e não consegue trabalhar.
“Não tenho qualidade de vida, eu não posso fazer nada, não posso ficar muito em pé, de noite eu deito para dormir e dói, é dor, dor direito, 24 horas”, afirma a empregada doméstica.
O caso da Ana Lúcia não é isolado. Mais de 20 mil pacientes do Sistema Único de Saúde esperam na fila para uma cirurgia nos seis hospitais federais que funcionam no Rio de Janeiro.
Entre setembro do ano passado e outubro deste ano, os seis hospitais federais fizeram mais de 25 mil cirurgias. Mas de 2008 a 2014, o número de cirurgias caiu pela metade, de acordo com levantamento do Tribunal de Contas da União - o TCU. De 68 mil passou para 31 mil.
A situação é mais grave nos hospitais dos Servidores e do Andaraí. Para o defensor público federal Daniel Macedo, o principal problema é administrativo.
“Em primeiro lugar falta de uma gestão qualificada dos seis hospitais federais. É uma constante faltar insumos e medicamentos nesses hospitais, então cirurgias são desmarcadas por falta de roupa cirúrgica, falta de esparadrapo, fio de sutura, isso é uma realidade”, afirma.
O relatório do TCU mostra também que o número de funcionários nos hospitais caiu quase 18% no mesmo período. O defensor informou ainda que em 2014 e 2015 os hospitais receberam, juntos, R$ 1,059 bilhão do Fundo Nacional de Saúde.
A Defensoria Pública da União entrou com uma ação civil pública contra o governo federal pedindo um plano para resolver o problema.
“Estamos indo para a terceira audiência. No dia 17, a União, estado e município vão ter que apresentar um plano concreto de ações para realização dessas cirurgias no prazo máximo de dois anos, nem que para isso tenha que comprar leitos privados para realizar essas cirurgias”, afirma o defensor.
É tudo o que a Ana Lúcia quer e precisa para deixar de ouvir sempre a mesma resposta. “Dizem que eu tenho que aguardar só, não falam o motivo da demora, não falam nada, só que eu tenho que esperar. A gente se sente humilhado, com esse tempo todo, e não tem uma previsão, não tem um motivo, um porquê da demora, não explica”, diz a empregada doméstica.
O Departamento de Gestão Hospitalar do Rio, ligado ao Ministério da Saúde, informou que 31 mil pessoas já saíram da fila depois que começou a valer um sistema para os pacientes monitorarem o seu cadastro.
A Secretaria Municipal de Saúde disse que aumentou as cirurgias em hospitais da sua própria rede. E a Secretaria Estadual de Saúde disse que está elaborando um plano de ação conjunta com o Ministério da Saúde e com a prefeitura do Rio.
Fonte: Globo.com – 13.11.2015