Crise faz planos de saúde perderem 42 mil clientes em Campinas, diz ANS
10/11/2015

Fonte: Portal G1 - 07/11/2015

Cidade tem 623,7 mil beneficiários e queda ocorreu entre março e setembro. 
Secretário de Saúde diz que buscas por serviços no SUS aumentaram 10%.

Por Fernando Pacífico

Os planos de saúde médico-hospitalares perderam 42,4 mil beneficiários de Campinas (SP) entre março e setembro, de acordo com estatísticas da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). A pesquisa divulgada neste mês indica que a cidade tinha 666,1 mil conveniados em março, e o número caiu para 623,7 mil em setembro - menor quantidade nos últimos dois anos.

Com a redução de beneficiários, Campinas tem pelo menos 53,5% da população de 1,1 milhão de habitantes conveniada. Segundo a ANS, o cliente considerado é o titular do plano de saúde e ele pode ter mais pessoas vinculadas como dependentes. A agência não comenta resultados.

Desemprego gera perdas
Para o economista Roberto Brito de Carvalho, da PUC-Campinas, a perda de beneficiários pelos planos de saúde está atrelada ao índice de desemprego na cidade. De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Campinas acumula 146,5 mil demissões desde janeiro, ante 138,3 mil admissões. Com isso, o saldo negativo equivale a 8,1 mil vagas de trabalho fechadas.

"Quando este trabalhador fica desempregado ele perde não somente o salário, mas também os benefícios. Com essa dificuldade financeira, ele não tem como bancar esse ônus e usar a saúde suplementar", frisou o professor.

Ao ponderar sobre outros reflexos, Carvalho avaliou que o próprio Sistema Único de Saúde (SUS) será mais pressionado diante da desvalorização cambial e da alta na demanda de pacientes. [Veja aqui reportagem da EPTV, afiliada da TV Globo, com relatos de moradores que perderam o plano].

De acordo com a pesquisa da ANS, as operadoras perderam 28,3 mil beneficiários de Campinas que usavam planos de saúde coletivo empresarial de março a setembro - o número de clientes caiu de 424,6 mil para 396,2 mil. Em relação aos usuários de planos individuais e familiares, o saldo negativo corresponde a 4,7 mil - passou de 146,1 mil para 141,4 mil em seis meses.

O total de contemplados, segundo levantamento da agência, inclui também beneficiários de planos coletivo adesão, coletivo não identificado e de planos não informados pelos usuários. Em toda Região Metropolitana (RMC), os planos perderam 58,5 mil clientes de março a setembro.

Reflexos no SUS
"Nós temos a alta do dólar e o governo terá de atender a um número maior de pessoas", falou o economista. Segundo ele, os indicadores financeiros devem fazer com que a quantidade de beneficiários também seja reduzida no último trimestre deste ano.

"É um mercado concentrado que tem pouca sensibilidade de preços. Talvez daqui seis meses  seja uma variável considerada entre as empresas para atrair mais clientes."

Desejo do brasileiro
Para o superintendente-executivo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), Luiz Augusto Carneiro, o total de beneficiários em todo país irá diminuir neste ano, em relação a 2014. A expectativa dele, entretanto, é de que a queda ocorra em menor proporção do que o Produto Interno Bruto (PIB) e nível de emprego. Segundo levantamento da ANS, 200 mil deixaram os planos de saúde médico-hospitalares em todo país, durante o terceiro trimestre deste ano.

"Uma pesquisa que divulgamos no primeiro semestre indicou que o plano de saúde é o terceiro principal desejo do brasileiro, atrás apenas de educação e casa própria. É também um benefício muito reconhecido pelos funcionários das empresas e elas evitarão deixar de concedê-lo."

Em relação aos preços, Carneiro evitou projeções. "Em 2014, as receitas das operadoras igualaram as despesas totais, o que gerou uma margem de lucro de 0% em média. Isso demonstra a dificuldade que esse segmento teria para reduzir os valores das mensalidades", falou o superintendente.

A assessoria de imprensa da ANS informou, em nota, que há regras específicas para cada tipo de contratação e que monitora permanentemente a aplicação dos percentuais, para identificar e corrigir eventuais distorções na aplicação dos índices aplicados pelas operadoras de assistência.

Alta no movimento
O secretário municipal de Saúde, Cármino de Souza, explicou que, caso a tendência de queda de beneficiários continue, ela pode gerar reflexos nas unidades que atendem pelo SUS.

"Não temos mensurado de forma técnica, mas nós temos um movimento superior da ordem de 8% a 10% já. Estou esperando o tempo correr um pouco para ter um intervalo de tempo maior para falar disso. A crise dentro da economia, com muita gente perdendo plano de saúde, certamente vai pressionar SUS tanto na assistência, quanto assistência farmacêutica", avaliou.

Em 2015, a Secretaria Municipal de Sáude contou com orçamento de R$ 1,12 bilhão. Para o próximo ano, a pasta deve ter R$ 1,23 bilhão, alta de 9,9% no comparativo com este ano, segundo projeto de lei orçamentária anual levado à Câmara de Vereadores pelo prefeito, Jonas Donizette (PSB). Uma audiência pública será realizada em 5 de novembro.

 





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