Com capacidade para realizar cerca de 50 mil atendimentos por mês, o Hospital SírioLibanês, em São Paulo, inaugurou em outubro mais uma fase no relacionamento da instituição com seus pacientes. O hospital colocou no ar uma plataforma web, que além de armazenar resultados de exames laboratoriais e de imagem, oferece remotamente, para pacientes e corpo clínico, consultas de dados referente ao prontuário médico. As informações disponíveis no Portal do Paciente ainda podem ser acessadas por aplicativos, disponíveis nas versões IoS e Android.
Luiz Renato Gonçalves Evangelisti, gerente de sistemas do SírioLibanês, diz que é um desafio enorme fazer a informação fluir em tempo real, sem precisar de ajustes manuais ou reprocessamento. Ele explica que, desde 2008, o hospital tem feito reforços em investimentos na área de segurança da informação, como a expansão do datacenter próprio, que passou de cerca de 50 metros quadrados para 160 metros quadrados, entre 2012 e 2013.
Os investimentos incluíram uma estrutura de nuvem privada. Em 2014, ganhou avaliação Estágio 6 (de um total de sete) no modelo de adoção de prontuário eletrônico Eletronic Medical Record Adoption Model (Emram). A avaliação é realizada anualmente pela Healthcare Information and Management Systems Society (Himss), organização global sem fins lucrativos dedicada à melhoria da saúde com o uso de tecnologia e sistemas de informação.
Na visão de Lauro Miquelin, diretor da L+M, empresa que atua há 28 anos em todo o território nacional em projetos de design, engenharia, gestão e tecnologia na área de saúde, é preciso reforçar as áreas de tecnologia da informação na saúde. Segundo ele, no Brasil há uma lacuna em relação ao tratamento e manipulação de dados privados de pacientes nos setores público e privado.
Para Miquelin, o problema da segurança dos dados na gestão em saúde inclui a capacitação adequada de pessoas que lidam com dados de pacientes e a adoção de plataformas tecnológicas adequadas. "Quando se fala em gestão de saúde, a área de TI deve assumir um protagonismo em termos de tomada de decisão. O conhecimento de TI é tão importante quanto o conhecimento médico", afirma.
Ele chama a atenção para os prejuízos decorrentes da negligência ao lidar com dados sigilosos de pacientes. "Costumo fazer um exercício. Nos 60 maiores hospitais do país, há 100 mil leitos, que, se ocupados durante um ano inteiro, podem somar cerca de 900 mil internações. Se houver problema com privacidade de dados com 1% desses pacientes, estamos falando de 9 mil pessoas afetadas que podem entrar com processos judiciais. Se 10% desses pacientes ganharem na Justiça, isso pode gerar um prejuízo da ordem de R$ 100 milhões ao ano para os hospitais."
O Hospital Moinhos de Vento, que começou a ser construído em Porto Alegre na primeira década do século 20, também está investindo na comunicação transparente com seus pacientes. Ivana Lech, gerente de TI do hospital, conta que sua equipe está se preparando para inaugurar no primeiro semestre de 2016 uma expansão do Portal do Paciente, para que médicos e pacientes possam ter acesso remoto a dados que reflitam o histórico do paciente.
Ivana diz que desde 2013 os pacientes que realizam exames de imagem no Moinhos de Vento podem acessar os resultados pelo portal. A diferença a partir da expansão é a possibilidade de o paciente acessar seu histórico de relacionamento com a instituição. Para isso, além do reforço na infraestrutura de TI, com investimentos em firewall e criptografia, há uma atenção especial à cultura da segurança da informação. "É fundamental, para mantermos uma boa segurança da informação hospital, a participação e a informação dos nossos colaboradores. Não basta a TI fortificar todos os limites do hospital com ferramentas de bloqueios, se o nosso colaborador por um descuido passa senha, deixa máquina aberta. Estamos desenvolvendo campanhas com nossos pacientes para que eles resguardem seus dados."
Fonte: Valor Econômico - 06.11.2015