Fundado há apenas cinco anos, o Hospital São José , apesar de ser pouco conhecido, já disputa espaço com os renomados Sírio-Libanês e Albert Einstein na área de oncologia e caminha para ser um forte concorrente também em transplante de fígado. Entre 2010 e 2012, o faturamento do São José, que pertence ao grupo Beneficência Portuguesa, cresceu 181% e já está sendo erguido um novo prédio para atender a demanda crescente.
O crescimento tem chamado a atenção. Ao fim dos dois primeiros anos de atividades, o hospital, localizado na cidade de São Paulo, tinha apenas 40% de ocupação mesmo contando com equipamentos médicos e infraestrutura de primeira linha, além de um mercado bastante aquecido. O motivo: faltava identidade.
Para mudar esse cenário o São José decidiu focar em oncologia. Para isso, fez um movimento pouco comum na área de hospitais. Contratou médicos "medalhões" como Ben-Hur Ferraz-Neto, que deixou o hospital Albert Einstein, e Antonio Buzaid, Fernando Maluf e Riad Younes, que trabalhavam no Sírio-Libanês há cerca de dez anos.
Hoje, a taxa de ocupação está praticamente no limite e a área de oncologia representa 80% do faturamento.
Entre 2011 e 2012, o número de procedimentos médicos aumentou apenas 1,5% por causa da capacidade do hospital, mas a receita nesse mesmo período cresceu quase 30% atingindo R$ 135 milhões. "Mesmo com o alto custo dos procedimentos oncológicos, o São José é superavitário e esse resultado é revertido para a Beneficência Portuguesa", disse Fernanda Terracini, superintendente do São José e diretora-financeira do grupo Beneficência Portuguesa há um ano.
Ex-executiva do HSBC e Bank Boston, Fernanda tem desafios bem distintos de um banco. "Ao contrário do que se imagina, nem sempre o cliente particular é mais rentável do que o paciente do convênio médico. O risco de inadimplência no particular é mais alto, principalmente, em casos de tratamento de longa duração e pouca expectativa de vida", diz a executiva. "É uma situação delicada porque não podemos interromper o tratamento médico por falta de pagamento", complementou.
Por trás do plano estratégico do São José está a família Ermírio de Moraes, que há quase quatro décadas administra o grupo Beneficência Portuguesa. O São José foi idealizado por Antônio Ermírio de Moraes, que planejava um hospital geral premium. Os ganhos deste seriam revertidos para a Beneficência (nome mais conhecido do Hospital São Joaquim), que tem 60% de seus atendimentos realizados via Sistema Único de Saúde (SUS). Rubens, filho de Antônio Ermírio, comandou o projeto de expandir a área de oncologia.
As cifras envolvidas para atrair os médicos do Sírio não foram reveladas, mas a negociação que levou um ano para ser concluída inclui a construção de um prédio exclusivo para o combate ao câncer. Este projeto é liderado por Buzaid, que acompanha de perto cada detalhe. "Tenho um lado arquiteto. Meu apelido é 'chateast' [o mais chato]", brinca Buzaid, ao mostrar a planta do projeto da nova torre do São José. "Pedi para tirar as floreiras da fachada porque seria necessário um 'spiderman' [homem aranha] para rega-las. Já os corredores terão um dente na parede para colocar um móvel com flores", exemplificou o médico formado pela USP e ex-diretor da prestigiada instituição de saúde americana MD Anderson Cancer Center.
Outro médico de grande prestígio que chegou ao São José em novembro é o cirurgião Ben-Hur Ferraz-Neto, especializado em transplante de fígado. Durante quase dez anos, o médico foi do Einstein, onde foi um dos responsáveis por transformá-lo no maior hospital de doenças hepáticas do país, com cerca de 200 transplantes por ano.
A meta de Ben-Hur é bater esse número no São José nos próximos dois anos. Para isso a Beneficência Portuguesa inaugurou, em janeiro, o Instituto do Fígado, com 48 leitos e investimento de cerca de R$ 5 milhões. O Instituto do Fígado é compartilhado com o São José. "Aqui posso, atender plenamente todos os tipos de público, desde convênio médico, particular e, principalmente, pacientes do SUS. No Einstein, não tinha essa perspectiva", disse Ben-Hur. No Brasil, todos os transplantes de fígado são realizados por meio do SUS devido à fila de espera do órgão. Já o tratamento hepático é pago apenas por alguns planos de saúde, uma vez que não é um procedimento obrigatório.
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