Com movimentos de mercado descolados da economia, alguns eventos colocaram uma pitada de atrativos no setor de saúde aos olhos dos investidores. Um deles foi a mudança na legislação em janeiro, com a edição da Medida Provisória 13.097, que permite a aquisição de 100% do capital de hospitais e laboratórios nacionais por investidores estrangeiros.
A desvalorização cambial também ajudou ao tornar os ativos no Brasil mais baratos em dólar. Por fim, a arrancada de um movimento de consolidação em um setor fragmentado tornou esses negócios mais atraentes. De janeiro a setembro deste ano, houve 29 transações entre fusões, aquisições e jointventures envolvendo investidores nacionais e estrangeiros, em comparação a 25 em 2014.
O tíquete médio das negociações também cresceu. "Enquanto em 2014 a média de cada transação no setor de saúde foi de US$ 32,54 milhões, em 2015, subiu para US$ 209,57 milhões", afirma Rogério Gollo, sócio da PricewaterhouseCoopers (PwC) no Brasil e especialista em fusões e aquisições. "É só o começo. O segmento de saúde precisa de escala para crescer, além de melhora na gestão de risco e custos", ressalta Gollo.
Além dos movimentos entre empresas, os fundos de private equity têm demonstrado apetite especial. O investimento de US$ 800 milhões da Bain Capital para comprar a Intermédica reflete bem isso. Pelo menos outras duas operações ajudam a compor o cenário. Em abril, o Carlyle Group adquiriu 8,3% da Rede D'Or São Luiz por R$ 1,75 bilhões e a Advent, em setembro, 13% do Grupo Fleury. "O aumento da renda, o envelhecimento da população, a sofisticação dos diagnósticos e tratamentos preventivos trazem uma combinação boa entre crescimento e resiliência para este mercado", diz Juan Pablo Zucchini, sócio da Advent International, que lidera os investimentos no área.
Só para aquisições na América Latina, a gestora americana levantou até março o maior fundo da região até hoje, de US$ 2,1 bilhões. Parte dos recursos já foi usado em transações, como a do Fleury. "Há outros negócios em andamento. Um deles envolve o Brasil na área de saúde", adianta Zucchini, que diz observa com interesse o setor.
"No Brasil, o setor de saúde ainda é pouco representado na carteira dos fundos de private equity. Não chega a 8%", afirma o professor Cláudio Vilar Furtado, coordenador da Centro de Estudos sobre Private Equity da Fundação Getulio Vargas (GVCepe). Considerando esse percentual e o total de recursos que o professor estima que os fundos de private equity tenham disponível para investimentos cerca de US$ 19 bilhões no país, R$ 5 bilhões devem ir para a saúde.
O primeiro grande caso de ciclo completo de private equity na área foi o da consolidação do Grupo Dasa, que utilizou o Delboni Auriemo como plataforma de crescimento, e contou com aportes do Pátria Investimentos. O importante para o private equity é como será daqui a dez anos, diz. Para ele, se a saúde crescer no ritmo dos últimos três anos, será preciso ter mais 23 mil novos leitos hospitalares, que irão consumir R$ 7,5 bilhões em investimentos até 2025. "Isso sem contar os aportes em equipamentos cirúrgicos, enfermaria e outras instalações necessária".
Outro indicador de que a participação do private equity avança no Brasil é a baixa representatividade em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) nacional, cerca de 0,3%. "O nível de investimento anual de um private equity em países maduros gira em torno de 1%. O Brasil tem condições de pelo menos triplicar o seu percentual", diz Carlos Asciutti, sócio da EY no Brasil e especialista nessas transações.
Fonte: Valor Econômico - 06.11.2015