Fábrica da Toyota nos Estados Unidos: o americano gera 85% mais riqueza que o trabalhador chinês
Nova York - À espera de sinais mais convincentes de recuperação econômica, os americanos pelo menos enfrentam a turbulência num patamar bem acima da média mundial em diversos quesitos. Um deles se refere à produtividade dos trabalhadores. Os Estados Unidos geram hoje a maior riqueza por empregado entre as principais economias do mundo.
O crescimento da produtividade se manteve nas últimas décadas — e resistiu à crise. “Os Estados Unidos vêm sustentando sua liderança por meio da construção de ciclos de inovação importantes ao longo da história”, diz o economista Bart van Ark, da agência de pesquisas The Conference Board, com sede em Nova York.
Um grande passo para a conquista da superioridade americana nesse aspecto foi dado do fim da Segunda Guerra Mundial até meados dos anos 70 e coincidiu com um dos maiores avanços de prosperidade da história dos Estados Unidos. Em pouco mais de duas décadas, a produtividade americana dobrou.
O impulso ampliou o lucro das empresas, que, por sua vez, aumentaram o salário dos funcionários de maneira proporcional. A explosão da classe média foi a consequência imediata. A produção do setor imobiliário passou de 114 000 novas casas, em 1944, para 1,7 milhão, em 1950.
Uma medida do avanço do consumo está na velocidade com que os cartões de crédito se multiplicaram. Em setembro de 1958, o Bank of America testou seus primeiros 60 000 cartões de crédito em Fresno, na Califórnia. Uma década mais tarde, já havia 100 milhões deles espalhados pelo país.
Por trás da multiplicação da riqueza, os economistas apontam a construção de um modelo voltado para a inovação — tradicionalmente, o principal combustível do aumento da produtividade. Com uma população altamente educada, criou-se no país um ambiente favorável à geração de conhecimento em laboratórios bem equipados, que logo estabeleceram uma relação direta com as empresas.
A excelência atraiu profissionais qualificados de todo o mundo. Especialistas chamam a atenção para a cultura meritocrática do meio acadêmico americano, que colaborou para a velocidade do desenvolvimento tecnológico. “As universidades americanas mantiveram uma tradição em que pesquisadores jovens e talentosos são encorajados a progredir”, diz o americano Robert Gordon, professor de economia da Universidade Northwestern e um dos maiores especialistas em produtividade no mundo. “Já na Europa sempre prevaleceu uma cultura de hierarquia segundo a senioridade.”
Boa parte dos especialistas atribui essa fase à rápida adoção de novas tecnologias da informação. Criou-se uma espécie de éden econômico, com crescimento, mais empregos e salários mais altos — e, para completar, sem inflação. Na época, economistas — e o próprio Alan Greenspan, então presidente do banco central americano — saudaram o início de uma “nova economia”, em que a produtividade sem precedentes gerada pelos computadores seria suficiente para impedir o avanço inflacionário.
O uso da tecnologia se espalhou não apenas na indústria, mas também no setor de serviços, no qual o Walmart é o exemplo máximo. (E, diga-se, polêmico. No começo dos anos 2000, a empresa enfrentou acusações de espremer os funcionários em jornadas extenuantes em troca de salários baixos.)
“Na década de 90, a produtividade americana aumentou tanto nas fábricas como também na distribuição de produtos”, diz o economista Van Ark, que realizou um estudo a respeito do papel de grandes varejistas nesse período. É verdade que, mais tarde, os estudiosos reconheceram a avalanche de produtos importados baratos como outro fator para manter a inflação sob controle, mesmo com o aquecimento no consumo.
Ameaças à frente
O avanço mais recente da produtividade americana sofreu influência da crise. Num primeiro momento, com as demissões nas empresas, o indicador cresceu: a mesma produção passou a ser obtida com menos funcionários. Agora, esse ganho se esgotou. Outro motivo de preocupação é o aumento da desigualdade.
Por décadas, ganhos de produtividade representaram contínuos saltos na renda das pessoas. Isso não é mais verdade — ou pelo menos não no mesmo ritmo. A produtividade no país cresceu 254% de 1948 a 2010, mas o salário por hora trabalhada avançou 113% no período — as curvas desgrudaram a partir dos anos 80.
Os dados da produtividade mostram que o mito de que os Estados Unidos estão sumindo ainda não passa disto: um mito. Para os paranoicos, no entanto, o que vale é o fato de que, em 1990, os Estados Unidos possuíam o maior percentual global de graduados em universidades na faixa de 25 a 34 anos — e, hoje, o país está na décima posição (o líder é o Canadá). Tentar repetir a própria história, nesse caso, parece a melhor maneira de evitar um retrocesso.