Custo Saúde: Gestão Estratégica dos Recursos é Inadiável
Em workshop da ASAP, Professor da FEA/USP Marcelo Caldeira Pedroso apontou soluções para gerenciamento dos recursos para saúde
21/10/2015

Rever, ajustar e tornar mais eficiente a gestão dos recursos de saúde foram ações apontadas por Marcelo Caldeira Pedroso como necessárias diante do cenário instalado no país. Professor Doutor da FEA/USP, Pedroso debateu o tema Custo Saúde: Gestão de Risco, em workshop da ASAP, no dia 7 de outubro, em São Paulo. Na avaliação de Pedroso, a crise traz, por outro lado, desafios e oportunidades ao setor de saúde, que neste momento depende de uma gestão estratégica. “As empresas estão preocupadas com a eficiência, pois o atual momento impõe essa necessidade e a questão é se as organizações têm a estratégia adequada para alcança-la”, questionou.

No workshop, Pedroso expôs quais os fatores principais que estão associados ao aumento consistente dos custos em saúde. O primeiro deles é a longevidade e o envelhecimento da população. Há dois aspectos a serem considerados na questão da longevidade: o positivo é a aumento da expectativa de vida e bem estar dessa população, proporcionados pelos avanços tecnológicos. Por outro lado, há o impacto nos custos de saúde das operadoras de planos. Isso porque há uma progressão das doenças crônicas e deficiências adquiridas com o avanço da idade. Pedroso mostrou no workshop pesquisa publicada pela Census Bureau, Washington DC, de 2010, sobre deficiências na população americana que aponta: as pessoas com idades entre 65 a 69 anos apresentam 35% de deficiências adquiridas, sendo que 24,7% delas são deficiências graves. Na faixa de idade entre 70 a 74 anos, as incapacidades aumentam em 42,6%, sendo 29,6% severas. Entre as populações dos 75 aos 79 anos, as deficiências adquiridas alcançam percentual de 53,6%, com 37,5% de deficiências graves, enquanto que acima dos 80 anos, as incapacidades adquiridas chegam a 70,5%. “Esses números revelam que é necessário mudar a forma como se gasta e como se demanda cuidados com saúde, pois com o avanço da idade aumenta o consumo per capita de recursos financeiros”.

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A ineficiência na concepção e gestão dos sistemas de saúde foi outro fator apontado por Pedroso como preponderante no aumento dos custos. Ao citar relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), o professor mostrou que percentuais de 20% a 40% de todos os recursos financeiros alocados para a saúde são desperdiçados por ineficiência. Durante sua palestra no workshop da ASAP, Pedroso disse considerar que o investimento de 10% do PIB do Brasil em saúde “não é um número distante da realidade de muitos países, como o Japão”. “Na minha visão particular não há subfinanciamento da saúde no país. A questão é o uso racional desses recursos”.

Um dos pontos altos da palestra de Pedroso surgiu quando os percentuais gastos pelas operadoras de planos de saúde com despesas administrativas foram apresentados: 12,6% dos recursos, e pode chegar a 16%. Em tom de alerta, o professor comparou os percentuais consumidos pelas despesas administrativas nas operações dos planos de saúde dos Estados Unidos, que é de 7%. Os dois países têm patamares muito altos. “Se houver melhor gestão, uma fatia maior de recursos poderá ser alocada para a assistência, ou para a margem de lucro”. O percentual é ainda maior quando os gastos com comercialização são somados, podendo alcançar até 16% dos recursos no Brasil.

A segurança dos pacientes foi o último aspecto apontado pelo professor da FEA/USP como fator de aumento de custos. Apresentando um case ocorrido no estado de New York, nos Estados Unidos, Pedroso mostrou como é possível melhorar a gestão por meio da mensuração e divulgação dos resultados de procedimentos médicos. Segundo ele, citando relatório do Institute of Medicine, nos Estados Unidos, erros médicos matam 44 mil pessoas por ano, e esse número pode chegar a 98 mil. Em uma ação inédita, a Clínica Cleveland adotou como procedimento publicar o número de cirurgias cardíacas realizadas e a taxa de sucesso associada aos riscos da cirurgia, ou seja, se a cirurgia foi bem sucedida ou levou o paciente a óbito. “Depois que os hospitais do estado de New York passaram a divulgar ao público essas informações, inclusive apontando o nome do médico à frente do procedimento, conseguiram reduzir em 41% as mortes em cirurgias cardíacas. Isso é política pública”.





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