Para entender o estilo chinês no comando das empresas
Valor Econômico
13/03/2013

Para entender o estilo chinês no comando das empresas

Por Rafael Sigollo | De São Paulo

 

 
Luis Ushirobira/Valor
David Cui, presidente da Sany, diz que uma das principais diferenças de estilo de gestão, comparando com os brasileiros, é a velocidade para entrega de resultados

 

Em um mercado global, a habilidade de lidar com chefes, colegas e subordinados de nacionalidades diferentes se tornou essencial para executivos que atuam em multinacionais ou precisam lidar com clientes, parceiros e fornecedores mundo afora. Nesse contexto, a tendência é que o choque de culturas seja ainda maior entre gestores ocidentais e orientais.

Isso tem ficado mais evidente com o crescente destaque da China nos últimos anos, país que assumiu, inclusive, a posição de segunda maior economia do mundo e o protagonismo no grupo dos emergentes, os chamados Brics.

De acordo com o sócio-diretor da consultoria de desenvolvimento humano e organizacional Ateliê RH, Roberto Santos, reconhecer e entender essas diferenças de estilos de liderança é fundamental para facilitar as relações e os negócios. Muitas vezes, porém, as empresas se prendem apenas aos aspectos técnicos de um cargo e deixam de lado os de natureza psicológica ou cultural. "Esse último elemento, em especial, geralmente se baseia em preconceitos, avaliações superficiais e 'achismos' que estão longe da realidade", diz.

Santos faz essa afirmação com base em uma pesquisa realizada pela consultoria Hogan Assessments com cerca de mil gestores de quatro países: China, Estados Unidos, Alemanha e Austrália. A escolha se deu em razão da alta concentração de negócios entre esses mercados, mas o consultor afirma que o resultado também serve para comparar a interação profissional entre gestores brasileiros e chineses.

Ao contrário do que se imaginava, os gestores chineses são, por exemplo, participativos em seu processo decisório e costumam dar apoio aos esforços de suas equipes. "Eles demonstraram um alto nível de altruísmo, indicando que se importam com o bem estar coletivo. Já os ocidentais são mais ambiciosos e individualistas. Além disso, os orientais dão grande valor a questões como aparência pessoal, organização do ambiente físico e sua reputação", afirma Santos, que é distribuidor nacional dos testes desenvolvidos pelo psicólogo americano Robert Hogan.

Na avaliação, são levados em conta fatores como personalidade, desafios, valores e preferências dos profissionais. Quando estão em situações de estresse ou crise, por exemplo, os gestores chineses apresentam quatro características mais destacadas em relação aos seus pares ocidentais: podem ser mais temperamentais, com maior oscilação de humor e entusiasmo com pessoas e projetos; reservados, isolando-se dos outros; arrogantes, ao passar uma imagem intimidadora e prepotente; e obsequiosos, ao bajular seus superiores.

"Claro que cada profissional tem sua identidade e modo de agir. Conhecer as peculiaridades de cada cultura, porém, nos ajuda a evitar desentendimentos, a não levar alguns comportamentos para o lado pessoal", afirma Santos, citando a já disseminada informalidade do brasileiro, a rigidez do alemão e a frieza do americano no ambiente de trabalho.

O que mais dificulta a atuação de alguns dos executivos chineses que comandam empresas no Brasil, no entanto, é a burocracia. "Administrar um negócio legalmente aqui não é fácil", afirma Jack Lu, diretor da montadora chinesa Chery no Brasil. Há quatro anos vivendo no país, ele cita a complexidade dos impostos, políticas e leis, que são conflitantes.

De acordo com Lu, o gestor chinês, de maneira geral, é agressivo, 'workaholic' e inteligente. Gosta de fazer um plano bem detalhado e segui-lo estritamente. "Levamos em conta todos os possíveis riscos e encontramos previamente as soluções, além de controlar cada etapa do processo. Os brasileiros são bem focados, porém mais flexíveis", compara.

Lu afirma que já trabalhou por curtos períodos em países como África do Sul, Egito, Chile e Vietnã. A experiência que está tendo no Brasil, contudo, é até agora a mais profunda de sua carreira. "Com os brasileiros, podemos aprender não apenas a metodologia do mercado, mas também a ser otimistas."

David Cui, presidente da Sany do Brasil, multinacional chinesa que produz máquinas pesadas para setores como construção civil e mineração, tem opiniões parecidas. No Brasil desde 2010, ele afirma que um dos maiores empecilhos é adaptar uma organização de grande porte como a sua às constantes mudanças na legislação e na economia do país.

Para Cui, os líderes de negócios chineses são práticos, empreendedores e têm metas orientadas para a tomada de decisões. "As principais diferenças entre o estilo da gestão, comparado ao dos brasileiros, é a velocidade para entrega de resultados e o gerenciamento de riscos", diz.

Uma das maiores qualidades dos executivos brasileiros, segundo ele, é o conhecimento profundo na área em que atuam. "Além disso, eles são abertos para novas culturas e para as diferentes opiniões."

O sócio-diretor da consultoria Ateliê RH, Roberto Santos, ressalta que essa habilidade ajuda o profissional brasileiro a ganhar destaque e também a atrair negócios para o país. "É preciso ter flexibilidade para sobreviver no atual cenário corporativo. Quem consegue compreender e tolerar as diferenças tem mais chance de se adaptar rapidamente e ser mais bem-sucedido", afirma.

 

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