Tecnologias médicas avançam a passos largos em todas as fases, da prevenção à reabilitação, estimulando debate sobre a abrangência, a eficácia e o custo de tantas novidades
15/10/2015 - por JULIANA VINES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Saem os prontuários com letra de médico e as pastas com fichas de pacientes, entram os documentos com assinatura digital e os bancos de dados virtuais.

Em alguns hospitais espalhados pelo país, rotinas "analógicas", como checagem de medicação e registro de pacientes, já foram transportadas para o digital.

No Real Hospital Português de Beneficência, em Pernambuco, por exemplo, um sistema único desenhado pela área de tecnologia da informação permite que, desde a entrada do paciente na instituição, todos os seus movimentos sejam monitorados.

Prontuários e exames são visualizados on-line. Quando o médico solicita um remédio, o pedido chega à farmácia, a enfermagem é notificada e a conta já vai para o paciente ou plano de saúde.

"É tudo interligado. O sistema monitora horários de medicação, tempo de atendimento e processos administrativos, como solicitação de equipamentos", diz Ademir Novais, gerente de tecnologia da informação da instituição.

De seis anos para cá, quando a ferramenta passou a funcionar mais amplamente, o faturamento do hospital cresceu 300% e aumentou em 40% o número de atendimentos emergenciais realizados. O tempo para a liberação de um leito caiu de seis horas para uma hora e 20 minutos.

"A informatização evita telefonemas, caminhadas incessantes entre setores para localizar dados, reduz custos com papel e filmes radiográficos e nos libera para prestar mais atenção no paciente e menos na papelada", afirma Petrus Silva Costa, coordenador de emergência geral do hospital.

Ainda no Nordeste, a rede Hapvida é uma das pioneiras no uso da biometria para identificar pacientes e funcionários.

O sistema foi implementado em 1997 para tentar reduzir fraudes. Deu tão certo que a instituição resolveu adotar, mais recentemente, prontuários digitais unificados para toda a rede, além de uma ferramenta para o agendamento de consultas on-line, totens de autoatendimento e até aplicativos para celular em que o usuário pode acompanhar resultados de exames e marcar procedimentos.

"Se o paciente não quiser, nem precisa falar com um atendente", diz Tarciso Machado, superintendente de tecnologia do Hapvida.

Nos últimos três anos, a rede conseguiu diminuir em 20% o tempo de espera nos ambulatórios. Caiu também o número de consultas e exames.

Para a vendedora Raquel Ferreira, 28, paciente do Hapvida há cinco anos, a tecnologia só trouxe vantagens.

"Não tenho que levar mais aqueles envelopes de exames nas consultas e posso marcar tudo pelo computador."

INVESTIMENTO VIRTUAL

No Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, a migração para um modelo 100% digital já tem data para começar: abril de 2016.

Há dois anos, o hospital gastou R$ 200 milhões na compra de um sistema de prontuário eletrônico avançado.

"Será uma revolução total. São 200 pessoas trabalhando nisso. Em 2017, esperamos ser um hospital livre de papel", afirma Nelson Wolosker, vice-presidente da instituição.

Por agora, ele comemora os resultados de uma pesquisa realizada em dois prontos-socorros do hospital. "Comparamos por 12 meses o desempenho de duas unidades que usavam prontuário eletrônico com duas que não usavam. As que usavam registraram a metade de eventos de erro de medicação. O novo sistema será ainda mais eficaz que esse", diz.

Para Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, o uso da tecnologia em hospitais pode, sim, revolucionar o atendimento, mas falta muito para isso acontecer.

"Tem modismo nessa história de informatização e, às vezes, pouca funcionalidade. Tem hospital que diz ter prontuário eletrônico e, na verdade, digita e imprime o papel. Ou o médico deixa a prescrição escrita e outros profissionais digitam. Isso pode resultar em erros sérios."

O ideal, de acordo com Lopes, além de ser tudo digital, seria implementar um sistema de prontuário unificado não só na rede privada, mas também no sistema público. "Isso sim seria revolucionário", opina.

No Distrito Federal, o primeiro passo nessa direção já foi dado. No dia 15 de agosto, a Secretaria de Estado de Saúde colocou no ar uma ferramenta para informatizar 100% das operações da rede de saúde.

"Agora precisa haver mudança de cultura dos profissionais para que usem isso", afirma Fábio Gondim, secretário de Saúde.





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