Desde a pandemia de Covid-19, a telemedicina se consolidou como uma ferramenta indispensável para conectar profissionais de saúde e pacientes. Com consultas à distância, emissão de receitas digitais, acesso a exames online e telemonitoramento, a saúde digital abriu novas possibilidades de atendimento com qualidade e maior acessibilidade aos serviços de saúde.
No entanto, ainda existem desafios significativos. Segundo Carlos Carvalho, professor titular de Pneumologia da USP e diretor do Instituto do Coração (InCor) e de Saúde Digital do Hospital das Clínicas da FMUSP, muitos médicos enfrentam dificuldades no uso das ferramentas digitais. “A grande maioria formada antes de 1990 não possui formação na área digital, enquanto os profissionais formados a partir dessa década têm maior facilidade e entendimento”, explica Carvalho. Ele destaca que estamos em uma fase de transição, onde gestores e profissionais precisam se atualizar para acompanhar as inovações.
Para o Dr. Chao L. Wen, professor e chefe da disciplina de Telemedicina da FMUSP, a integração da inteligência artificial (IA) na prática médica é essencial. Ele acredita que, ao aliar IA às competências do médico generalista, é possível transformar esse profissional em um “médico investigativo de cuidados integrados”. “O uso de tecnologias em saúde é irreversível e essencial para a sustentabilidade do setor”, afirma Wen.
Um exemplo é o Programa de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Saúde Digital de São Paulo, resultado da parceria entre a Secretaria de Saúde do Estado e o Hospital das Clínicas da FMUSP. Este programa inaugurou o Centro Líder de Inovação em Saúde Digital, reforçando a importância de investimentos em educação digital para os profissionais da área.
A escassez de profissionais qualificados para operar tecnologias digitais é um dos grandes desafios. Segundo Wen, a formação deve incluir habilidades como análise de dados, gestão de sistemas de informação e uso de IA. Para atender a essa demanda, o HCX do Hospital das Clínicas da FMUSP lançou um MBA em Saúde Digital, coordenado pelos professores Wen e Carvalho.
Este programa inédito busca unir pensamento acadêmico e aplicação prática, com foco em empreendedorismo, logística e ecossistemas de saúde conectada, projetados para a realidade de 2030. “A inteligência artificial não substituirá o médico, mas ajudará no raciocínio cognitivo e no monitoramento contínuo do paciente”, reforça Wen.
A saúde digital também desempenha um papel estratégico para atender à população idosa, um mercado em crescimento conhecido como “economia prateada”. Segundo o IBGE, em 2022, o Brasil contava com mais de 22 milhões de pessoas com 65 anos ou mais, e a previsão da OMS é que, até 2050, esse número chegue a 90 milhões.
“É crucial desenvolver soluções estruturantes, eficientes e humanizadas para essa população, que frequentemente demanda monitoramento e suporte clínico”, destaca Carvalho. O MBA em Saúde Digital, voltado também para o cuidado integral, reflete essa necessidade ao capacitar profissionais para lidar com os desafios da longevidade e promover maior eficiência na saúde.
O MBA do HCX vai além da telemedicina e da telessaúde ao incluir disciplinas sobre ética e bioética digital, saúde distribuída, telepropedêutica, humanização e questões jurídicas. O curso também abrange aprendizado contínuo, tecnologias para casas inteligentes e telessaúde voltada ao bem-estar e estilo de vida.
“Queremos formar profissionais com uma visão biopsicossocial e prontos para os desafios do futuro”, conclui Wen.