Com o tema “Expandindo a tecnologia e chegando no cuidado ao paciente”, a segunda edição do Congresso da Abcis – Associação Brasileira de CIO Saúde, realizada no auditório do Hcor nos dias 26 e 27 de novembro, reuniu especialistas e líderes do setor para discutir tendências, inovações e desafios da transformação digital na saúde. O evento destacou como a tecnologia pode impulsionar a gestão, melhorar a qualidade dos serviços e oferecer uma experiência mais humanizada aos pacientes.
Olhar para quem importa
O vice-presidente da Abcis, Alex Vieira, refletiu sobre a abordagem tecnológica na saúde. Ele destacou que, nos últimos anos, as pautas do setor foram dominadas pela perspectiva da TI, muitas vezes sem considerar as necessidades do paciente. “No fim, acabava não escutando o nosso cliente final nem o que o paciente, de fato, tem a dizer sobre os processos”, afirmou.
Logo na primeira palestra, “O Futuro do Trabalho e os Caminhos da Transformação Digital”, explorou como a tecnologia pode ser potencializada por pessoas, ressaltando que os funcionários são a base para o sucesso de qualquer instituição de saúde.
Tecnologia para apoiar o cuidado
Fernando Torelly, CEO do Hcor, mostrou como enxerga a área de tecnologia em um hospital. Mesmo com todos os avanços tecnológicos, Torelly destacou que os pilares do cuidado permanecem iguais e só podem ser feitos por pessoas.
“Durante 40 anos que eu trabalho na área da saúde, sem computador, com computador, internet, dispositivos móveis, inteligência artificial, tem uma coisa que não mudou: a empatia, a competência e o carinho quando entra no quarto para cuidar do doente. E a gente tem que falar mais sobre disso”, evidenciou.
Embora a tecnologia seja uma aliada valiosa, o CEO afirmou que ela não resolverá todos os desafios do setor, que são mais profundos. “Os nossos problemas são muito mais sérios. Tem subfinanciamento, escassez de recursos humanos e desigualdades sociais”, completou.
A TI deve atuar preventivamente, segundo Torelly, sustentando processos clínicos, assistenciais e a cultura de segurança. Ele citou como exemplo o Instituto Armstrong, da Johns Hopkins, que usa algoritmos para monitorar pacientes prospectivamente, prevenindo erros antes que aconteçam.
Mulheres na tecnologia
Não existe tecnologia sem pessoas, mas é necessário haver mais representatividade feminina neste cenário. Como moderadora do debate sobre os desafios das mulhres na tecnologia, Joslene Menezes, gerente de Responsabilidade Social, ESG e Estratégia Corporativa do Hcor, ressaltou o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 5 da ONU, que busca a igualdade de gênero.
Apesar de avanços, a executiva enfatizou que nenhum país atingiu a plena igualdade e, segundo estudos, a redução da disparidade salarial global pode levar mais de meio século para ocorrer.
Grace Almeida, gerente de TI da Amil, ilustrou a diferença de gênero ao mencionar que, em sua equipe de 75 pessoas, apenas 15 são mulheres. O painel reforçou a urgência de ações práticas para acelerar a equidade e apoiar a evolução da tecnologia.
Cibersegurança: atenção e investimento contínuo
Peça fundamental na operação de qualquer estabelecimento de saúde, a cibersegurança também esteve em pauta. Ferramentas podem e (devem) apoiar o ambiente hospitalar, além de impactar, positivamente, no cuidado ao paciente.
Leandro Ribeiro, diretor de Cibersegurança na Abcis e gerente de Segurança da Informação do Hospital Sírio-Libanês, destacou que o setor da saúde exige uma abordagem específica e dedicada, devido à complexidade e criticidade das operações hospitalares, como transporte de pacientes, cirurgias e administração de medicamentos.
“Cibersegurança dentro do setor da saúde é parte do processo de proteção do dia a dia de uma vida”, afirmou. Há cerca de 10 anos no setor da saúde, Ribeiro sentia falta de fóruns voltados para o tema, pois a interrupção de sistemas hospitalares pode comprometer diagnósticos, atrasar tratamentos e até causar mortes.
“Hoje, o crime cibernético lucra trilhões. Nossa missão é prevenir danos e proteger vidas”, explicou, reforçando o papel da Abcis em unir especialistas e profissionais do setor para promover a troca de melhores práticas e integrar a cibersegurança à rotina hospitalar. Em três meses, esse grupo dedicado à proteção da informação conseguiu reunir 100 profissionais, do setor público e privado, para formar uma rede colaborativa. Quem tiver interesse em participar ou saber mais informações, entre em contato.
Ressignificar a tecnologia na saúde
Alex Vieira, vice-presidente da Abcis, reiterou como a tecnologia pode potencializar o negócio e a necessidade de mudar a mentalidade. “Quando você trabalha em um hospital, deixa de ser apenas um profissional de TI e se torna um profissional de saúde. A tecnologia deve ser usada para potencializar a saúde, e não o contrário”, concluiu.