Viver de sombra
25/09/2015
Falta de vitamina D é comum entre quem passa os dias em ambientes fechados, mas exposição proposital ao Sol divide médicos.

A vida moderna, com o ar-condicionado dos escritórios, tem um problema: a baixa exposição ao Sol abala a produção de vitamina D.

Além de passarmos muitas horas em ambientes fechados, o uso do protetor –fundamental contra o câncer de pele– também reduz a exposição.

Em vários países, estudos têm apontado carência de vitamina D na população –a luz artificial, sem raios ultravioletas, não substitui o Sol.

Um estudo da USP com 603 funcionários da universidade entre 18 e 90 anos apontou que 77% deles tinham algum grau de hipovitaminose D.

Outros países fizeram estudos mais abrangentes.

Nos Países Baixos, o Estudo Longitudinal de Envelhecimento apontou que 45% dos homens e 56% das mulheres tinham níveis de vitamina D abaixo de desejável. Outras pesquisas mostram fenômeno parecido nos EUA.

A vitamina D é importante por atuar na absorção de cálcio e fosfato da dieta, na mineralização dos ossos e no controle de mais de 200 genes, incluindo os responsáveis pela proliferação, diferenciação e morte das células.

Baixos níveis de vitamina D estão associados a diversas doenças, como osteoporose, raquitismo, esclerose múltipla e doenças cardiovasculares.

ALIMENTAÇÃO

Apesar do nome, a vitamina D não é uma vitamina. É um hormônio, nomeado erroneamente ao ser descoberto, no início do século passado.

Para o neurologista e professor da Unifesp Cícero Coimbra, a confusão cria problemas. "Vitamina passa a ideia de que é possível obtê-lo só a partir da alimentação."

O Institute of Medicine (IOM), que emite as recomendações dietéticas nos EUA e Canadá, sugere o consumo de 600 UI (Unidades Internacionais) de vitamina D por dia.

Não é consenso, porém. Um estudo publicado no periódico "Nutrients" argumenta que a recomendação deveria ser de 7000 UI. No Hospital Sírio-Libanês, o ginecologista Alexandre Pupo diz recomendar de 800 a 1000 UI às pacientes.

Cem gramas de salmão têm entre 100 e 250 UI de vitamina D. A gema do ovo tem 20 UI.

O Sol é bem mais eficiente: só cinco ou dez minutos de exposição direta de pernas e braços, sem protetor, garantem cerca de 3000 UI. Ou seja, para ter carência de vitamina D, é preciso não tomar sol algum.

Mas tomar sol sem proteção é algo que incomoda os dermatologistas. E o câncer de pele? Qual é o nível seguro?

"É como cigarro. Existe uma quantidade segura? Nós recomendamos filtro solar, sempre" diz Gabriel Gontijo, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Já Coimbra considera que pequenas exposições podem ser benéficas. "A palavra-chave é tempo. É só não se expor demais. Uma solução é não sair de casa com o protetor, passar uns minutos depois."

Enquanto não entram em acordo, alguns médicos sugerem suplementação. Em cápsulas ou gotas, é possível ingerir de 200 UI a 7000 UI por dia.

A enfermeira Vanessa Costa, 39, toma uma cápsula de 5000 UI ao dia. "A dermatologista jamais me mandaria tomar mais sol, mas nem se dependesse de mim eu tomaria. Estou sempre trabalhando, não consigo." Ela descobriu que seus índices estavam baixos em um exame de sangue. Depois de um ano de suplementação, o nível subiu de 20 ng/ml para 55 ng/ml.

A carência de vitamina D não tem fortes sintomas no curto prazo. "Geralmente são sintomas gerais de deficiência imunológica: menor produtividade, cansaço", diz Pupo. Crianças também podem tomar a vitamina, em doses menores. Mas é preciso cautela.

"Para ter problemas sérios de saúde é preciso ter níveis muito baixos. Eu recomendo a forma natural: alimentação e exposição solar", diz José Paulo Ferreira, médico da Sociedade Brasileira de Pediatria.

O excesso de vitamina D no organismo pode deixar os rins sobrecarregados, mas são necessárias doses muito grandes.

Fonte: Folha de São Paulo – 22.09.2015




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