Entidades que representam os médicos têm posicionamentos diferentes em relação aos pedidos de desligamento do programa Mais Médicos feitos pelos profissionais brasileiros. Vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Mauro Ribeiro diz que a deserção está relacionada com problemas de estrutura do programa e não com a falta de comprometimento dos médicos. “Não existe uma surpresa em relação a esse dado.Desde o início, alertamos o governo que, na realidade, não é o médico que tem de ser interiorizado, mas todo o sistema de saúde. O médico é apenas um elemento e o governo tem de colocar condições mínimas, como raio X, enfermeiros em edicações básicas para que a equipe possa ter ‘resolutividade’.
As condições de trabalho são terríveis e não há condições de exercer o trabalho em sua plenitude.” Ribeiro diz que o índice de desistência seria menor se o programa oferecesse um plano de carreira para os profissionais.
“Os médicos têm uma perspectiva de carreira. A nossa proposta há décadas é a carreira de Estado, tratar o médico como funcionário público, com dedicação exclusiva, plano de cargos, carreiras e salários para atendimento pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Mas o governo não tem políticas públicas para especialidades básicas, como clínico geral, ginecologista, cirurgião geral, pediatra e médicos do Programa de Saúde da Família.”
Presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Florentino Cardoso diz que o objetivo de obter mais qualificação é o que tem feito os profissionais brasileiros saírem do programa.“Provavelmente,os profissionais que desistiram foram aprovados em programas de residência médica do Brasil inteiro.
A maioria dos brasileiros do programa é formada por médicos que não têm formação além da graduação.” Cardoso acrescenta que o caráter provisório também influencia os profissionais. “O programa Mais Médicos não tem vínculo e o médico está sempre se qualificando, aprendendo. Mas é importante dizer que o médico brasileiro sempre se colocou à disposição para ajudar a melhorar a saúde no Brasil.”
Histórico. Desde o início, o programa foi alvo das associações médicas. A Federação Nacional dos Médicos (Fenam), por exemplo, destacava que o piso salarial dos médicos, estipulado pela entidade, era de R$ 10.412 para 20 horas semanais de trabalho. Enquanto isso, o programa prevê pagamento de bolsa de R$ 10mil para 40 horas semanais.
Além disso, o fato de os médicos cubanos serem pagos via Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) também motivou críticas, tanto políticas quanto na Justiça trabalhista.
Fonte: Estado de São Paulo – 19.09.2015