Hospital Dona Helena comemora ciclo de expansões aos 108 anos
05/11/2024

Um dos mais importantes centros de saúde do Sul do Brasil, o Hospital Dona Helena, de Joinville (SC), passa por um ciclo de expansões e ampliação de serviços. Às portas de completar 108 anos, a instituição fundada em 1916 por um grupo de voluntárias, por iniciativa de Helena Trinks Lepper, anunciou a instalação de duas clínicas externas ao seu tradicional endereço, que fica na Rua Blumenau, região central. Uma na Zona Sul, em um shopping-center, e outra na Zona Norte, em um parque empresarial. Há quase seis meses, realizou a primeira cirurgia via robótica, com equipamento de última geração fabricado pela empresa pioneira nessa técnica em âmbito mundial. O programa credenciou médicos da região e qualificou equipes de profissionais para trabalhar com a nova tecnologia. Neste ano, o hospital comemorou um avanço no ranking dos melhores hospitais do país, divulgado pela Revista Newsweek. Nesta entrevista, José Tadeu Chechi, diretor geral do Dona Helena, percorre as ações mais recentes e desenha o hospital do futuro.

O que a abertura de clínicas nos bairros representa na estratégia de posicionamento do hospital perante a comunidade?

À medida que as demandas da cidade crescem, o hospital precisa acompanhar as necessidades da população. A gente percebeu a necessidade de ampliar a presença em Joinville, para nos aproximar cada vez mais da comunidade. É o nosso desafio. Joinville se expande mais e mais, e o deslocamento das pessoas também acaba tendo impacto relevante no dia a dia. Isso nos levou a buscar a descentralização da nossa estrutura, primeiro com a clínica no Perini Business Park, na Zona Norte, e em breve também com a clínica no Shopping Estação, na Zona Sul. É um passo importante, e com certeza temos a capacidade de atender a esse novo desafio.

Como foram escolhidos os locais para a instalação das clínicas e como será a composição dos serviços oferecidos?

Uma delas, do Perini Business, responde à necessidade de estar próximos das empresas, lembrando que se trata de um centro de negócios com número significativo de pessoas circulando diariamente. Não há estrutura de saúde no parque com o modelo que o Dona Helena está se propondo a fazer. Assim, a ideia foi de oferecer uma assistência dentro do próprio complexo. No caso da Zona Sul, estamos mapeando as especialidades que teremos, inclusive exames e diagnóstico. Diria que a escolha dos dois pontos foi natural, na perspectiva de atuar perto das regiões periféricas da cidade, levando em consideração o perfil da população de cada região. Em síntese, o que vai determinar o tipo de clínica, o tipo de especialidade que vamos instalar, é a demanda da população.

Qual é a estimativa de abertura da clínica do shopping?

Primeiro semestre do ano que vem. Mas já fomos desafiados a antecipar a data, acelerando o processo. Já no comecinho do ano, devemos ter a estrutura preparada para atender.

O perfil das duas unidades deve ser distinto, pela característica do público?     

Sem dúvida. Até pelo volume de pessoas que circulam nesses ambientes. O Perini tem uma população mais voltada a um determinado segmento, são pessoas mais jovens, funcionários das empresas que operam no complexo. Quanto à unidade no shopping, o propósito é atender a toda uma faixa da população que reside nas imediações. O perfil é mais abrangente.

Com as novas clínicas, diminui a frequência no hospital? Isso permitirá a abertura de novos serviços?

Deve acontecer uma complementação. A tendência é de que a gente coloque procedimentos de menor complexidade na clínica. Isso naturalmente pode abrir espaço na Rua Blumenau, para ampliar a estrutura de alta complexidade. O que vai ocorrer é uma distribuição melhor das agendas, dependendo da necessidade do paciente. Um exemplo: o paciente que vai passar por uma consulta dermatológica, procedimento até certo ponto simples, não precisa vir até a Blumenau. Aí eu abro espaço para um procedimento mais complexo. Essa acomodação vai acontecer, mas a intenção é de agregar atendimentos, otimizando o uso dos espaços. A expectativa é de que possamos ampliar o atendimento na parte cardiológica, principalmente, entre outras áreas relevantes e com demanda elevada, para diminuir o tempo de atendimento.

Uma novidade, no final do primeiro semestre, foi a implementação do programa de robótica. Que balanço o hospital faz deste primeiro ciclo do programa?

A primeira cirurgia ocorreu no dia 4 de junho. O balanço é positivo. Sendo algo totalmente novo, é natural que tenhamos uma curva de aprendizado. Uma tecnologia de ponta que mexe com toda a estrutura do hospital, do ponto de vista do atendimento, recebimento, acolhimento do paciente, e que exigiu uma adaptação do espaço, da infraestrutura por trás do robô, não apenas física, mas de capacitação. A parte instrumental do robô precisa ser acompanhada detalhe por detalhe. Os primeiros meses de atendimento foram muito bons. Fizemos diversos procedimentos híbridos, com uma parte coberta pelo operador. Estamos satisfeitos com a maneira como conduzimos isso até agora, é uma curva que está crescendo. A cada mês, realizamos mais procedimentos. Para 2025, teremos uma condição consolidada, com o sistema beneficiando pacientes também de outros municípios, como vem ocorrendo, aos poucos. A chegada do equipamento ao Dona Helena foi um marco, porque cada vez que agrega mais tecnologia, mais resolutividade, você coloca Joinville em um patamar semelhante ao de grandes capitais. Nosso paciente não precisa mais ir para um centro maior para realizar esses procedimentos. Tanto do ponto de vista tecnológico quanto profissional, temos hoje pessoas especializadas para realizar os procedimentos aqui na cidade, gerando conforto e tranquilidade, tanto para o paciente quanto para a sua família. Esse é um diferencial para Joinville.

Outra frente divulgada pelo hospital em 2024 foi a estruturação de seu programa de ESG. Que impacto isso traz para o paciente e para a comunidade?

O conceito do ESG é novo, mas sempre adotamos práticas que envolvem as frentes contempladas por ele, como meio ambiente. Temos, há pelo menos 15 anos, um sistema de captação de água de chuva para utilização nas descargas sanitárias, para a parte de limpeza, jardinagem. Outro exemplo: já fazíamos reciclagem antes de haver uma legislação específica para isso. O que estamos fazendo agora é organizar melhor esses processos, identificando oportunidades. No ano passado, mapeamos a nossa pegada de carbono e conquistamos até uma certificação, recebendo o Selo Prata do programa, a partir das informações sobre os impactos de nossa atividade na emissão de gases de efeito estufa. Entre outras ações, mantemos uma horta orgânica onde plantamos diversas verduras utilizadas na alimentação dos pacientes e funcionários, claro que sem o uso de agrotóxicos. Algo que muita gente desconhece.

Em agosto, a unidade de inovação do Dona Helena completou dois anos. O que a abertura para startups, neste trabalho voltado ao desenvolvimento de soluções na área da saúde, representou de efetivo para o hospital?

A grande questão da inovação é sair da zona de conforto. A gente tende a se acomodar, repetir a rotina. Mas sabemos que, hoje, o trabalho precisa ter um aprimoramento contínuo, para fazer frente a necessidades cada vez maiores. A inovação ajuda a partir do momento que nos aproximamos de startups e podemos compartilhar problemas, atrás de novas soluções. Também temos incentivado os funcionários a trazer os problemas das suas áreas, para buscar apoio. A mentalidade inovadora é um fator irreversível. Os processos devem ser constantemente revisados para dar conta da velocidade imposta pelo mercado. Antigamente, as empresas maiores se sobrepunham às menores. Hoje, são as mais ágeis que se sobrepõem às mais lentas. Então, temos que atingir uma velocidade cada vez maior para resolver os nossos problemas, e a inovação, a aproximação com as startups, a busca por soluções inovadoras, contribui enormemente. Na perspectiva de envolver os times no processo, fizemos recentemente um primeiro hackathon, com grande êxito. É uma iniciativa muito importante porque o nosso funcionário se sente participante da mudança, passa a entender que a mudança é necessária, e você tem que se engajar para evoluir também junto com a instituição.

A ideia é manter esse tipo de iniciativa envolvendo os funcionários?

Não só manter, mas ampliar, abrindo espaço também para a comunidade. Quando a gente fala, por exemplo, de ESG, a participação do paciente, do funcionário, dos stakeholders que estão conosco no dia a dia, também é fundamental. O hospital precisa disseminar essa cultura junto à comunidade à sua volta.

Um momento crítico, neste ano, foram os surtos de dengue. De que forma a experiência da covid-19 trouxe mais proatividade, mais agilidade no atendimento a essas situações?

Importante destacar a capacidade de reação que o Dona Helena tem para reagir às adversidades. No caso da dengue, em um fim de semana conseguimos abrir uma unidade de internação com 20 leitos. Na pandemia, a gente preparou o hospital, montou leitos de UTI, conseguimos equipamentos, no espaço de uma semana. Tudo isso porque a gente já faz um monitoramento prévio. A cada dificuldade, somos desafiados a aprimorar a capacidade de resposta. Temos planos de ação engatilhados para diversas situações, de maneira que, quando aparece o problema, estamos preparados. As crises dos últimos anos contribuíram para desenvolver no hospital essa capacidade de reação, porque temos tudo muito bem mapeado.

Como o hospital tem conciliado a referência de uma instituição centenária com a necessidade de modernizar processos e investir em tecnologia?

O Dona Helena é uma instituição privilegiada, com passado primoroso. Ao longo de 108 anos, foi agregando valor, ampliando e se desenvolvendo. Nossa história é uma história de desenvolvimento. Baseado nessa longa trajetória é que podemos projetar um desenvolvimento futuro com tranquilidade muito maior, porque já faz parte do nosso DNA, sempre estar um passo à frente, atentos ao comportamento da população e do mercado, às tendências tecnológicas, e tentando nos antecipar a tudo isso. Hoje falamos de inovação, assim como ESG, mas o Dona Helena já inova há longo tempo, a gente faz inovação desde o momento em que trouxemos a primeira ressonância magnética para o hospital há mais de 20 anos, isso para citar só um exemplo. A inovação está presente no nosso dia a dia. O que a gente tem hoje é uma roupagem um pouco diferente, levando em consideração as terminologias modernas disseminadas nos últimos anos. Digo mais: hoje, não somos um hospital, somos um sistema de saúde. O que fazemos aqui vai desde o atendimento primário, com as consultas ambulatoriais, os tratamentos, o acompanhamento, os exames, as cirurgias… É isso que desejamos transmitir para a sociedade joinvilense. O Dona Helena é o local onde o paciente pode resolver o seu problema desde o primeiro momento, desde a sua consulta até o seu tratamento, com todo o acompanhamento necessário.

Como vai ser o hospital daqui a 20 anos?   

Terá uma pegada muito mais tecnológica. O empoderamento do paciente é cada vez maior. A relação do hospital com o paciente tende a ser cada vez mais profunda, mais próxima. A população, naturalmente, vai desenvolver novas necessidades ou conviver com outras doenças que a gente nem conhece. À medida que as pessoas vivem mais, novas doenças vão surgir. O hospital vai se aproximar do paciente, e os nossos profissionais também precisarão ter uma mentalidade mais preventiva, e não apenas curativa. A tendência é de que as pessoas não precisem operar, internar. O hospital trabalhando como uma unidade que ajuda a pessoa a não ficar doente. Acho que esse será o nosso futuro. E estaremos sempre preparados para atender às demandas crescentes da cidade e da região.

Fonte: Anahp




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