O Brasil está envelhecendo, isso é um fato. Chegaremos a 2070 com cerca de 75 milhões de brasileiros com mais de 60 anos, ou seja, mais de 37% da população será idosa, segundo as estimativas do último censo demográfico nacional divulgado pelo IBGE.
A mudança de padrão etário é observada em todo o país: de 2000 para 2023, a proporção de idosos quase duplicou, ou seja, passamos de 15,2 para 33 milhões de pessoas na terceira idade, como apontaram as projeções de população do IBGE, um cenário que não pode ser desconsiderado pelas políticas públicas, pelo setor privado e pela sociedade para garantir que o sistema de saúde esteja preparado para as futuras necessidades médicas dessa faixa etária.
O envelhecimento impacta diretamente a saúde populacional e, juntamente com o aumento nos fatores de risco, traz a perspectiva de que mais pessoas desenvolvam doenças crônicas – incluindo as cardíacas –, o que implica maior procura por serviços de saúde e eleva os custos, especialmente com relação a cuidados de longa duração, hospitalizações frequentes e uso de medicamentos contínuos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, a American Heart Association prevê que, até 2050, os custos relacionados com doenças cardiovasculares tripliquem. A associação publicou um documento que estima que, pelo menos, 6 em cada 10 adultos (61%) – mais de 184 milhões de americanos – tenham algum tipo de doença cardiovascular nos próximos 30 anos, com custos diretos e indiretos que chegarão a US$ 1,8 trilhão.
A epidemia do sedentarismo, alimentação inadequada, tabagismo e o uso nocivo do álcool e dos dispositivos vape, já trazem consequências para a saúde do coração a curto prazo. Se pensarmos mais adiante, poderemos ter uma população adoecida cardiologicamente ainda mais cedo, que vai sofrer com pressão alta, diabetes e obesidade, que indicam maior risco de desenvolvimento de ataques cardíacos, acidentes vasculares cerebrais, insuficiência cardíaca e outras complicações, que representam as principais causas de morte, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
O grande desafio para cuidar da saúde cardíaca da população a longo prazo é investir em ações de cuidado integral. É preciso ter a dimensão de que se trata de um problema complexo que requer medidas que envolvam diferentes camadas assistenciais: o gerenciamento de questões socioambientais com combate às mudanças climáticas e poluição e acesso a comida saudável e não industrializada, usar estratégias de prevenção que valorizem o estilo de vida saudável desde a infância; incentivar campanhas educativas; fomentar a atenção primária à saúde; investir em avanço tecnológico na medicina que beneficie o diagnóstico precoce e o monitoramento de pacientes cardíacos; promover a acessibilidade a tratamentos e elaborar um planejamento que abarque a maior demanda por serviços de saúde no futuro.
A combinação dessas abordagens preventivas e educativas podem ajudar a reduzir a carga das doenças nessa área e possibilitar, a longo prazo, uma população com o coração batendo mais saudável.
*Alexandre Siciliano é cirurgião cardíaco, gerente do Setor de Cardiologia do Hospital São Lucas de Copacabana, da Dasa, e membro da Academia Nacional de Medicina (ANM).