Taxas de volta do câncer colorretal após remissão diminuíram nas duas últimas décadas
24/10/2024

Estar em remissão do câncer – quando há a redução ou desaparecimento dos sintomas e sinais da doença – é uma condição desejada pelos pacientes que recebem o diagnóstico de câncer. Esse processo é interrompido quando ocorre a recorrência. A probabilidade diminui com passar do tempo e, quando se completa cinco anos de remissão, o risco de volta da doença é menor.

As taxas de recorrência variam de acordo com o tipo de câncer e da fase em que a doença é descoberta. Com o câncer colorretal (intestino grosso e reto), por exemplo, um dos mais incidentes na população brasileira, com 45 mil novos casos previstos para 2024, o risco de volta da doença após remissão é de 20%. Por conta disso, é recomendado que os pacientes com esse tipo de câncer recebam vigilância pós-operatória.

Um amplo estudo publicado em 2023 na revista científica JAMA Oncology mostra que houve redução de taxas do retorno da doença entre os pacientes diagnosticados com câncer colorretal nos estágios I a III quando se compara o cenário atual com as taxas de recorrências apresentas no período 2004/2008.

Os dados, tabulados e analisados até 2023, mostraram que – nas últimas duas décadas – as taxas de recorrência caíram para o câncer de cólon (intestino grosso) de 16,3% para 6,8% (pacientes diagnosticados em estágio I), de 21,9% para 11,6% (estágio II) e de 35,3% para 24,6% (estágio III). Para o câncer retal, as quedas foram de 19,9% para 9,5% no estágio I, de 25,8% para 18,4% no estágio II e de 38,7% para 28,8% no estágio III da doença. O trabalho reuniu os dados de 34 mil pacientes.
 

Nas últimas duas décadas, entre as iniciativas que propiciaram a redução de taxas de recorrência do câncer, além da evolução das técnicas cirúrgicas, também se destacam a abordagem de equipe multidisciplinar e os protocolos melhorados de recuperação após cirurgia. “O acompanhamento, pós-tratamento, é essencial para, em caso de recidiva, ela ser descoberta precocemente”, ressalta o cirurgião oncológico Rodrigo Nascimento Pinheiro, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) e titular do Hospital de Base, de Brasília.

De acordo com Pinheiro, o risco de volta da doença é maior quando, antes da remissão, ela apresentava um crescimento acelerado e perfil mais agressivo. Para cada tipo de câncer, explica o especialista, há um padrão comum de recidiva. Segundo ele, é fundamental seguir as orientações do cirurgião oncológico para o seguimento após a finalização do tratamento. “Com o acompanhamento regular e uma rotina de exames periódicos, qualquer indício de retorno da doença pode ser mais facilmente identificado”, reforça.

Como as recidivas ocorrem?

A recidiva do câncer ocorre quando células tumorais permanecem no corpo após o tratamento. Trata-se de micro metástases, que são indetectáveis por exames de imagens, mesmo os mais modernos. Com o passar do tempo, essas células podem se multiplicar indiscriminadamente, levando ao desenvolvimento de um novo câncer.

Quais são os tipos de recidivas do câncer?

O câncer em recidiva pode reaparecer no mesmo local onde foi diagnosticado inicialmente ou em outras regiões do corpo. De acordo com essa localização, costuma-se classificar os diferentes tipos de recidiva:

  • recidiva local: é quando o câncer volta no mesmo lugar onde houve a primeira ocorrência da doença;
  • recidiva regional: o câncer volta nos linfonodos próximos à região do primeiro câncer;
  • recidiva metastática distante ou metástase à distância: quando o câncer volta em outra parte do corpo, geralmente distante de onde ocorreu pela primeira vez. É quando um paciente, a princípio com câncer de intestino, por exemplo, desenvolve a doença no fígado.

É possível prevenir a recidiva?

Algumas medidas, multifatoriais, podem contribuir para a redução do risco de volta da doença, como a interrupção do tabagismo. Embora não haja evidências sólidas da influência dos alimentos na prevenção do câncer — seja na primeira ocorrência ou em recidivas — está comprovado que as consequências da má alimentação, sobretudo a obesidade e o sobrepeso, estão entre os principais fatores de risco para a recidiva do câncer.

Ao mesmo tempo, o organismo de pessoas com déficit nutricional pode ter mais dificuldade em combater a doença, prejudicando a evolução do tratamento. Por isso, a dieta equilibrada é uma das chaves para prevenir as manifestações da doença. Aliada à alimentação, a prática de atividades físicas atenua os efeitos colaterais da quimioterapia, ajuda a melhorar a imunidade e a controlar o sobrepeso. Além disso, é importante o suporte psicológico e emocional ao paciente.

Neste sentido, ressalta a SBCO, o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar (com a presença de nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos, educadores físicos e outros profissionais que apoiem a melhora na qualidade de vida), tem impacto positivo na recuperação do paciente e na prevenção de novas ocorrências.





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