Desigualdade de médicos no território brasileiro coloca a saúde em xeque
22/10/2024

Entre 2010 e 2024, o Brasil conseguiu dobrar o número de médicos por habitante na maioria dos estados. Dados do Conselho Federal de Medicina (CFM) revelam que 13 estados já superam países como os Estados Unidos e o Japão em densidade médica. No entanto, essa conquista esbarra em um grande desafio: a distribuição desigual desses profissionais pelo território nacional. 

Enquanto nas capitais há, em média, 7 médicos para cada mil habitantes — o dobro da média dos países da OCDE —, no interior do país, a realidade é bem diferente, com apenas 1,9 médico por mil pessoas. Essa disparidade evidencia a profunda desigualdade que permeia o sistema de saúde brasileiro, afetando sobretudo aqueles que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS) e não têm condições de buscar atendimento em clínicas particulares. 
 

No Dia do Médico, celebrado hoje, essa discussão torna-se ainda mais relevante, destacando o papel essencial dos profissionais de saúde e a necessidade de valorizá-los em todo o território nacional, incluindo as regiões mais remotas. 

Desigualdade urbana e social 

Para Educardo Teixeira, presidente da Associação Brasileira de Médicos com Expertise de Pós-Graduação (Abramepo), o problema reflete uma questão crônica de desigualdade urbana e social. "Cidades pequenas se tornam armadilhas para médicos. Faltam infraestrutura adequada, serviços essenciais e qualidade de vida comparável aos grandes centros, o que perpetua um ciclo vicioso de escassez. Essa distribuição desigual cria o que chamo de 'medicina de segunda classe' para uma 'população de segunda classe'. Quem tem recursos paga por médicos particulares, enquanto quem depende do SUS pode esperar anos por consultas e cirurgias", critica Teixeira. 

Ele também aponta falhas na formação médica, destacando que muitas escolas de medicina não preparam os profissionais para enfrentar a realidade das regiões mais carentes. "Em alguns lugares, a infraestrutura é tão precária que desestimula os médicos a atuarem ali. Além disso, a baixa atratividade das cidades menores acaba empurrando os médicos para os grandes centros", explica. 

Investimentos e políticas públicas necessárias 

Para Teixeira, a solução passa por investimentos substanciais em pós-graduação de qualidade e incentivos concretos para atrair e fixar médicos em áreas remotas. “Sem políticas públicas eficazes que promovam a equidade no acesso à saúde e valorizem os profissionais que atuam em regiões menos favorecidas, continuaremos a ver a medicina brasileira sendo nivelada por baixo. Quem pode pagar terá acesso aos melhores profissionais; quem não pode, ficará à mercê do sistema público. Isso aprofunda a desigualdade social já existente”, alerta. 

O Brasil precisa garantir que a formação de novos médicos seja acompanhada por uma distribuição justa, combatendo a desigualdade e assegurando saúde de qualidade para todos, independentemente de onde vivam. Afinal, de que adianta ter um grande número de médicos, se a maioria está concentrada em poucas áreas do país?  





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