O último dia do Congresso Nacional dos Hospitais Privados (Conahp) selou o sucesso do evento que tem lugar cativo no calendário do setor. A cada ano, o Congresso cresce e, nesta edição, superou as expectativas de cinco mil visitantes. No total, 6.340 pessoas estiveram no Transamérica Expo Center ao longo de dois dias.
Os quatro palcos de conteúdo permaneceram, inclusive o Saúde do Futuro que fez sua estreia. No entanto, houve uma mudança nas temáticas abordadas em dois espaços. A Inovação e o ESG, abordados separadamente em palcos laterais no primeiro dia, deram lugar aos temas Assistencial e Pessoas.
A necessidade de ampliar as oportunidades para debater assuntos imprescindíveis ao setor foi um dos pontos que motivou a troca de temas de um dia para o outro, de acordo com Evelyn Tiburzio, diretora técnica da Anahp.
O público teve a oportunidade de acompanhar um mix de conteúdos que, de forma integrada, reuniu os principais pilares da gestão hospitalar: excelência no cuidado, desenvolvimento de pessoas e tecnologia.
No palco Pessoas, o Colégio Brasileiro de Executivos em Saúde (Cbexs) lançou a segunda edição do Atlas Cbexs 2024. Com 1.533 gestores entrevistados, a pesquisa mapeia profissionais de saúde e suas atuações, proporcionando insights valiosos sobre a liderança do setor.
“É um material que busca conhecer e ouvir o líder. Acho importante que as pessoas conheçam o perfil do nosso líder e no que ele(a) sente dificuldade. Entender como essa figura está percebendo o aquecimento do termômetro em relação ao que acontece no sistema de saúde. E, a partir desses elementos, saber como investir para melhorar a liderança e apoiar no desenvolvimento de equipes técnicas”, explicou Tacyra Valois, CEO do Cbexs.
No Conahp há muitos anos, assim como o Cbexs,Tacyra enfatizou a relevância do Congresso para o setor. “Estou impressionada que, a cada ano, o Conahp consegue crescer ainda mais. Traz temas novos para o sistema e, o mais importante, a oportunidade de discutir a parceria público-privada. Sob a minha concepção e a que o Colégio defende, a parceria público-privada é uma ferramenta extremamente importante na evolução do sistema de saúde no Brasil”, concluiu.
Sobre essa integração entre o SUS e a saúde suplementar, Laura Schiesari, coordenadora do Executive MBA Saúde da FGV-EAESP e consultora do Banco Mundial, trouxe à tona a complexidade dessa parceria, destacando a necessidade de investimentos a longo prazo na educação. “Investir em educação traz frutos no médio e longo prazo, especialmente quando falamos de educação profissional e permanente em saúde,” afirmou.
Ela apontou que a educação permanente é essencial para reduzir as discrepâncias na formação dos profissionais de saúde no Brasil, além de destacar a importância de remunerar adequadamente aqueles que atuam nos pontos críticos do sistema, como Atenção Primária à Saúde e Emergências.
Os debates do Conahp, em diferentes aspectos, refletem a busca constante por melhorias no sistema de saúde, tanto no âmbito público quanto privado, para oferecer um atendimento mais qualificado e equitativo para a população brasileira.
No contexto da saúde pública, a transformação da Atenção Primária à Saúde foi amplamente discutida como um dos pilares para melhorar o acesso e a qualidade da saúde no país. Jérzey Timóteo Ribeiro Santos, secretário adjunto de Atenção Primária à Saúde (SAPS) do Ministério da Saúde, ressaltou etapas para que isso aconteça.
“O SUS é de todos, para todos e todas. Então, só aí já temos uma missão e, ao mesmo tempo, um desafio”, pontuou. Segundo ele, o fortalecimento da saúde da família é um dos maiores símbolos dessa transformação, com o objetivo de ampliar a cobertura atual de 54% para 80% até 2026.
Jerzey também abordou o modelo de financiamento e a necessidade de trazer novos parâmetros assistenciais. “Estamos trazendo novos parâmetros para priorizar qualidade sobre quantidade,” explicou. Para ele, o sucesso dessa mudança está atrelado à criação de métricas e indicadores que incentivem boas práticas entre as equipes de saúde.
Outro tema bastante caro ao setor é a variabilidade injustificada na prática clínica, uma preocupação crescente diante de um sistema de saúde cada vez mais complexo. Gabriel Dalla Costa, superintendente médico e diretor técnico do Hcor, chamou a atenção o equilíbrio necessário entre interesses econômicos e a priorização das necessidades dos pacientes.
“O ponto mais sensível é como garantir que os interesses de saúde dos pacientes e suas preferências sejam sempre priorizados, mesmo em um contexto de incorporação tecnológica e tratamentos caros.”
Ele também mencionou a importância de evitar tratamentos de baixo valor, reforçando a necessidade de que as instituições equilibrem incentivos financeiros com a autonomia profissional, mantendo o foco no que o paciente realmente precisa.