Einstein e Ministério da Saúde geram as primeiras evidências científicas de uso da telemedicina em UTIs
18/10/2024

Um estudo do Einstein, realizado por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS), do Ministério da Saúde, em parceria com o Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal), gerou as primeiras evidências científicas do mundo em relação ao uso da telemedicina em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). O ensaio clínico randomizado envolveu mais de 17 mil pacientes de 30 UTIs de hospitais públicos brasileiros em 17 estados, entre junho de 2019 e julho de 2021.

Cuidar de pacientes de alta complexidade requer uma equipe de especialistas, incluindo médicos intensivistas. No entanto, diante da escassez global desses profissionais, principalmente fora das grandes cidades, um caminho que vem sendo explorado pelas organizações de saúde é a telemedicina. Porém, apesar da promessa da tecnologia e do seu uso crescente, até hoje, nenhum grande estudo havia testado o real impacto dessa abordagem nas UTIs.

Diante disso, o projeto batizado de Telescope 1, que teve como pesquisador responsável Adriano Pereira, médico intensivista do Einstein, e Otávio Ranzani, da ISGlobal, como autor sênior, buscou, pela primeira vez, determinar se a prática contribui com o tratamento de pacientes internados. Os resultados, apresentados no Congresso da Sociedade Europeia de Medicina Intensiva, em Barcelona, e publicados no The Journal of the American Medical Association (JAMA), indicam que ainda há um desafio em encontrar a melhor forma de utilizar essa tecnologia em cuidados intensivos.
 

Na metodologia, metade das UTIs seguiu suas rotinas habituais de atendimento, enquanto a outra metade recebeu, além dos cuidados habituais, rodadas diárias de telemedicina que consistiam em reuniões entre um intensivita em regime remoto e a equipe local para discussão de diagnósticos e planos de tratamento. O especialista também fornecia à equipe médica orientações atualizadas de tratamento e realizava sessões virtuais mensais para revisão dos indicadores de qualidade da UTI.

A principal questão do estudo era se a telemedicina poderia reduzir o tempo de permanência dos pacientes na UTI, e a resposta foi que não. Isso porque a permanência média na UTI foi praticamente a mesma nos grupos de telemedicina e de cuidados habituais – cerca de 8 dias. Outros resultados, como taxas de infecção e mortes hospitalares, também não mostraram diferenças significativas.

De acordo com Adriano Pereira, autor principal do estudo, algumas razões podem explicar esses achados. “A questão parece ser mais complexa do que simplesmente colocar um médico intensivista remoto para se conectar diariamente com as equipes que atuam na UTI. Algumas questões importantes podem, por exemplo, ter ficado de fora da jornada de cuidado desses pacientes, como o atendimento multidisciplinar, fornecido por enfermeiros intensivistas, fisioterapeutas e farmacêuticos clínicos; e questões relacionadas à gestão, incluindo o processo e fluxos de cuidado, comunicação entre a equipe, entre outros fatores”, explica. “Além disso, algumas UTIs podem não ter tido recursos ou pessoal suficiente para se beneficiarem plenamente do modelo”.

Outro fator que pode ter influenciado os resultados foi a pandemia de covid-19, que ocorreu durante a realização do estudo e pode ter sobrecarregado os recursos dos hospitais participantes. “Os resultados não significam, porém, que outros modelos não funcionarão em outros ambientes. O primeiro passo foi dado: temos as primeiras evidências científicas sobre o tema. Agora, precisamos seguir em busca da melhor forma de utilizar esta tecnologia em cuidados intensivos”, completa Adriano.

Como resposta a esse desafio, o projeto será continuado por meio de uma nova pesquisa, nomeada “Telescope 2”. Formatado com metodologia que envolve a participação que vai além da atuação médica, o ensaio clínico multicêntrico e randomizado encabeçado pelo Einstein prevê avaliar se um pacote de intervenção via telemedicina composto por visita multidisciplinar diária com médico especialista em medicina intensiva, somado à intervenção prestada por equipe multiprofissional especializada (enfermagem, fisioterapia e farmácia clínica) e intervenção de gestão, focada em qualidade e segurança, reduz o tempo de internação em pacientes internados em unidades de terapia intensiva no Brasil.

A pesquisa, que tem resultados esperados para 2026, também é realizada por meio do PROADI-SUS e busca ampliar o olhar inicial testado pelo Telescope 1.





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