SUS Digital, inteligência artificial, tecnologias emergentes, interoperabilidade dos sistemas, cibersegurança e personalização na jornada do paciente foram algumas das tendências que nortearam a 10ª edição do HIS - Healthcare Innovation Show, o principal evento de tecnologia e inovação em saúde da América Latina, realizado na semana passada (18 e 19 de setembro) em São Paulo.
Durante os dois dias de evento, 4.000 participantes tiveram a oportunidade de explorar mais de 100 horas de conteúdo exclusivo em sete palcos, com a contribuição de 350 palestrantes, que incluíam profissionais de saúde, gestores, executivos de alto escalão e acadêmicos renomados. A área dedicada à apresentação de soluções e casos contou com a participação de 110 marcas.
“Esta edição foi histórica, celebrando os 10 anos do evento. O HIS 2024 cresceu 30% e trouxe inovações que proporcionaram experiências interativas e oportunidades de aprendizado prático, além de facilitar conexões valiosas entre os profissionais do setor. Foram dois dias de troca de experiências e debates sobre as inovações que moldarão o futuro da saúde”, afirmou Juliana Vicente, head do portfólio de Saúde da Informa Markets, organizadora do evento.
Juliana também enfatizou a qualidade da área de exposição, que reuniu 95 empresas, incluindo 32 startups. "A qualidade da visitação e o impacto nas dinâmicas de networking foram notáveis. Os participantes do HIS tiveram a chance de vivenciar de perto as principais tendências em tecnologia e inovação na saúde. O que há de mais moderno no Brasil foi apresentado aqui", avaliou. A 11ª edição do HIS já tem data marcada para os dias 1 e 2 de outubro de 2025, no São Paulo Expo, na capital paulista.
Durante o HIS 2024, a Informa Markets, organizadora do evento, e a Associação Brasileira de CIO Saúde (Abcis) assinaram um Termo de Cooperação para realizar o projeto Observatório de Tecnologia nos Hospitais Brasileiros. A iniciativa propõe conduzir uma pesquisa qualitativa para mapear o uso de soluções tecnológicas em hospitais do Brasil, cujo principal intuito é oferecer ao mercado um panorama atualizado e abrangente sobre as inovações que impulsionam o setor.
“Identificamos a dificuldade em obter informações amplas sobre a saúde digital nos hospitais e, conversando com a Abcis, percebemos que enfrentávamos o mesmo desafio. Assim, vimos o potencial de uma cooperação para realizar um estudo amplo do mercado", contou a head do portfólio de Saúde da Informa Markets Latam, que também anunciou o lançamento do estudo já no próximo mês.
O vice-presidente da Abcis, Alex Vieira, reforçou a relevância da aliança. “O mercado de saúde carece de conteúdo de qualidade sobre tecnologia e eficiência e essa parceria vem para fortalecer o setor. Nosso objetivo é fazer com que a tecnologia impacte diretamente o paciente, melhorando a saúde no Brasil”, afirmou ele.
No fórum, destacou que o SUS Digital foi criado para fortalecer a atenção básica e promover a transformação digital do sistema, ampliando o acesso da população aos serviços de saúde. Segundo ela, o SUS Digital é o primeiro programa nacional com recursos dedicados ao fomento do ecossistema de saúde digital.
Ana ressaltou o impacto do Sistema Único de Saúde (SUS) na vida de milhões de brasileiros: "O SUS realiza 2,8 bilhões de atendimentos por ano, atendendo 70% da população – cerca de 150 milhões de pessoas." Ela enfatizou que a transformação digital do SUS exige um tratamento simultâneo de diversas áreas, como conectividade, segurança da informação e governança de dados, para garantir o impacto assistencial desejado.
Entre as principais ações do SUS Digital estão a universalização do prontuário eletrônico, a interoperabilidade dos sistemas de informação e a criação de um prontuário unificado, acessível em toda a rede de atendimento. “Estamos avançando com a Rede Nacional de Dados de Saúde (RNDS) e a telessaúde integrada, que são fundamentais para essa transformação digital”, explicou Ana Estela.
A secretária também comentou os resultados da telessaúde no SUS, com mais de 141 mil atendimentos realizados até agora. "A telessaúde ampliou o acesso a áreas remotas, melhorou a coordenação do cuidado e reduziu deslocamentos. No Ceará, por exemplo, foram evitados 256 mil quilômetros em viagens graças aos 918 teleatendimentos realizados entre janeiro e julho de 2024."
A expansão da telessaúde para populações vulneráveis também foi destacada. "O primeiro quilombo a implementar a telessaúde foi em Boa Vista, no Pará, reduzindo a distância dos centros urbanos e facilitando o acesso a atendimento especializado", disse Ana Estela. "Nosso objetivo é construir um futuro inclusivo, sem deixar ninguém para trás."
A adoção da inteligência artificial (IA) no setor de saúde foi uma temática central no HIS 2024. Leonardo Vedolin, Chief Marketing Officer (CMO) da Dasa, abordou como a IA pode reduzir o tempo de diagnóstico de ataques cardíacos. Ele explicou que a primeira decisão estratégica no desenvolvimento da ferramenta de IA foi selecionar a tecnologia mais adequada para cada doença. “Optamos pela doença cardiovascular, pois é a principal causa de morte no mundo e representa os maiores custos para o setor de saúde. Atualmente, aproximadamente US$ 600 bilhões são gastos no mapeamento e manejo dessa condição, e a previsão é que esse valor chegue a US$ 2 trilhões em 2050, equivalente ao PIB do Brasil.”
Vedolin destacou que, para encontrar a solução ideal, a Dasa adotou uma filosofia colaborativa. Um dos parceiros estratégicos foi a startup NEO, que já possuía uma solução para a leitura de exames de eletrocardiogramas. Juntas, as empresas aprimoraram essa ferramenta, que atualmente processa os 400 milhões de exames realizados pela Dasa a cada ano, identificando mais de 50 doenças cardiovasculares e integrando os resultados à jornada de cuidado do paciente. "Hoje, mais de 10 mil pessoas identificaram riscos de doenças cardiovasculares. A IA nos permitiu reduzir o tempo entre o diagnóstico e a intervenção médica”, afirmou.
Outra inovação relevante é a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal da Santa Casa, que está passando por uma transformação significativa com a integração de tecnologias digitais para a identificação precoce de riscos de sequelas neurológicas em recém-nascidos. Segundo o Dr. Gabriel Variane, diretor médico do programa da UTI Neonatal Neurológica da Santa Casa de São Paulo, essa mudança impacta profundamente tanto a qualidade do cuidado quanto a economia da saúde.
"Com tecnologias avançadas, como o monitoramento contínuo da atividade elétrica e da oxigenação cerebral, além de outros sinais vitais, conseguimos obter uma visão detalhada e em tempo real do estado clínico e neurológico dos pacientes”, explicou. Ele acrescentou que essas inovações são essenciais e estão alinhadas ao conceito de Medicina de Precisão. "Nosso objetivo é personalizar o tratamento de acordo com as características individuais de cada paciente, resultando em intervenções mais eficazes e direcionadas.”