A parceria entre os setores público e privado para a gestão de serviços de saúde no Brasil tem se consolidado como uma alternativa eficaz, principalmente para atender as demandas crescentes do Sistema Único de Saúde (SUS).
Durante o HIS - Healthcare Innovation Show 2024, o painel “Gestão privada de instituições públicas: filantropia, estratégia e acesso”, no Palco Estratégia e Liderança, destacou esse tema. Luciana Borges, Diretora de Cuidado Público do Hospital Israelita Albert Einstein, foi uma das palestrantes e, em entrevista exclusiva ao Saúde Business, discutiu o impacto dessas colaborações, as inovações resultantes dessa parceria e o papel essencial da filantropia na ampliação do acesso a serviços de saúde de qualidade.
Segundo Luciana Borges, o modelo de gestão compartilhada com o setor privado, que envolve organizações sociais e fundações, trouxe ganhos de agilidade e eficiência. Esses ganhos são perceptíveis na ampliação do acesso aos serviços de saúde, especialmente em áreas críticas. Contudo, um dos principais desafios é o fortalecimento do papel do Estado na definição de políticas públicas, na normatização dessas parcerias e na garantia de que os recursos sejam utilizados de forma transparente. Ela ressalta que "é fundamental o aprimoramento dos processos normativos e a implementação de indicadores robustos que avaliem o desempenho e a transparência no uso dos recursos."
Para assegurar a sustentabilidade dessas parcerias, a escolha de instituições qualificadas é crucial. "É essencial que as entidades contratadas tenham um histórico de eficiência e expertise na gestão de serviços de saúde, evitando aquelas que não possuem capacidade técnica ou idoneidade para gerenciar serviços essenciais", afirma Luciana.
A diretora destaca que, antes de iniciar uma nova parceria, tanto o ente público quanto as instituições privadas devem considerar uma série de variáveis. Para as entidades públicas, o foco deve estar na escolha de instituições que ofereçam qualidade, segurança e eficiência operacional. Já para as instituições privadas, é importante avaliar a compatibilidade do escopo do serviço com sua expertise e a viabilidade financeira do contrato.
"O alinhamento entre o escopo de atuação e a experiência prévia da instituição é determinante para que o serviço seja prestado com qualidade e de forma sustentável", ressalta.
A gestão privada tem se mostrado um caminho para a introdução de inovações tecnológicas no SUS, promovendo melhorias em processos administrativos e assistenciais. O Hospital Israelita Albert Einstein, pioneiro em telemedicina e cirurgia robótica no SUS, é um exemplo claro desse movimento. "O Einstein foi desbravador no uso da Telemedicina e na implementação de cirurgia robótica em unidades públicas, garantindo maior precisão em procedimentos de alta complexidade e reduzindo o tempo de recuperação dos pacientes", explica Borges.
Outro avanço tecnológico importante, mencionado por Luciana, é o uso da inteligência artificial (IA) para diagnóstico e tratamento. Um exemplo é o projeto Supra, que utiliza IA para detectar alterações cardíacas e acionar equipes de intervenção em tempo oportuno, salvando vidas em unidades públicas.
A filantropia desempenha um papel fundamental na ampliação do acesso à saúde de qualidade para populações em situação de vulnerabilidade. Como instituição filantrópica, o Einstein aplica seus princípios, como a expressão judaica Tikkun Olam (que significa "reparação do mundo"), para transformar a vida das pessoas por meio da excelência assistencial e do conhecimento. "Um dos pilares do Einstein é contribuir para o desenvolvimento do sistema público de saúde, transferindo práticas e conhecimentos que possam melhorar o acesso e a qualidade do atendimento", afirma Borges.
Através do PROADI-SUS, o hospital realiza projetos que levam inovação e práticas de eficiência para o SUS, ampliando a equidade no acesso e reduzindo lacunas assistenciais. "A telemedicina, por exemplo, tem sido um fator de equidade ao levar atendimento especializado a regiões de difícil acesso, onde há escassez de médicos", complementa.
A pandemia de Covid-19 demonstrou a importância da colaboração entre o setor público e privado para enfrentar crises sanitárias. Luciana destaca que a expertise do setor privado em áreas como telemedicina e gestão de crises foi fundamental para a rápida reorganização dos serviços de saúde. "Essa colaboração permitiu a implementação de ferramentas importantes, como cursos rápidos de capacitação, predição de cenários e reorganização dos serviços para responder às demandas da pandemia", conclui.
Ao fim de seu painel no HIS 2024, Luciana Borges ressaltou a relevância do evento como uma oportunidade para discutir a transformação do SUS. "Acho que foi um momento bem rico de trazer soluções inovadoras para o SUS e refletir sobre o impacto que podemos causar no sistema de saúde", afirmou. Para ela, o painel ofereceu um espaço valioso para troca de experiências com outras instituições, destacando a importância da colaboração.
Ela ainda mencionou a fala de Carolina Lastra, Diretora Executiva de Instituto Sírio-Libanês de Responsabilidade Social, como inspiradora, ao reforçar que as instituições devem trabalhar em conjunto para alcançar um propósito comum: fortalecer o SUS. "Se unirmos forças, podemos contribuir de forma mais potente, somando ideias que se conectem para gerar mais impacto no SUS", acrescentou. Ela concluiu destacando que essa sinergia entre diferentes atores é essencial para promover mudanças significativas no sistema público de saúde.