A maior importante fonte de informação sobre a saúde da população brasileira tem sido ignorada por muitos planejadores e gestores do setor da saúde, particularmente no sistema privado. Trata-se da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada pelo IBGE, que abrange uma amostra representativa de todo o país, com mais de 80.000 domicílios, onde os entrevistados receberam visitas pessoais com a coleta de diversas informações relevantes, realizaram medidas biométricas (como peso, circunferência abdominal e pressão arterial) e coleta de material biológico (para dosagem, por exemplo, de hemoglobina glicada, colesterol, creatinina). Frequentemente observamos alguns relatos de pesquisas (públicas ou privadas) apresentando unicamente dados referidos e ignorando as relevantes informações da PNS.
Neste post, desejo comentar algumas informações dos volumes 2 e 3 da pesquisa, recentemente lançado. Avaliou-se a proporção de pessoas que tinham algum plano de saúde (médico ou odontológico). A média nacional foi de 27,9%, mas com grande variação entre as Regiões (Norte, 13,3%; Nordeste, 15,5%; Centro-Oeste,30,4%; Sul, 32,8% e Sudeste, 36,9%). Na população urbana, 31,7% dos respondentes possui plano de saúde, em contraste com apenas 6,2% na população rural. Muitas vezes os programas de saúde são elaborados com a premissa de que a distribuição de usuários de planos de saúde é homogênea no Brasil, mas o fato, por exemplo de que cerca de 85% dos moradores nas regiões Norte e Nordeste não tem esta cobertura é uma informação muito relevante.
A pesquisa revelou que 7% dos respondentes tiveram limitações em suas atividades habituais por problemas de saúde. A primeira causa está relacionada aos resfriados/gripes (17,9%) seguida dos distúrbios musculoesqueléticos (lombalgia, cervicalgia, artrites, DORTs) com 16% e causas externas (acidentes, violência), 5,5%. Neste último item, chama a atenção que mais de 20% dos brasileiros relataram ainda não utilizar cinto de segurança quando viaja no banco da frente dos veículos. Estes resultados estão em sintonia com os recentemente publicados pela pesquisa “Global Burden Disease – GBD” e devem ser considerados pois trazem consequências para a qualidade de vida das pessoas e impacto para os empregadores e à sociedade.
Com relação ao uso do sistema de saúde, cerca de 6% dos respondentes relataram ter sido internados em hospital nos últimos doze meses, sendo 65,7% no sistema público. Além disso, 71,2% responderam que consultaram médico neste período (homens, 63,9% e mulheres, 78%). Constatou-se que 33,2% dos respondentes obtiveram pelo menos um dos medicamentos prescritos no sistema público de saúde
Com relação ao exame preventivo do câncer de colo do útero, 79,4% relataram tê-lo realizado nos últimos três anos (variando de 75,1% na região Nordeste a 83% na região Sul). Chama a atenção a informação de que, dentre as mulheres que nunca fizeram estes exames, 45,6% não os achavam necessários e 20,7% nunca foram orientadas para fazer o exame. Deste modo, ainda há necessidade reforçar a informação e comunicação sobre este tema em nosso país.
Com relação à mamografia, dentre as mulheres de 50 a 69 anos, apenas 60% realizaram o exame nos últimos dois anos (o parâmetro da OMS é de 80%), chegando a apenas 38,7% na região Norte do país. Sem dúvida, este fato está associado à maior frequência de casos de câncer avançados de mama no Brasil em relação aos países da OCDE.
O excesso de peso foi constatado na maioria da população adulta (homens e mulheres), chegando a 71,4% nas mulheres de 55 e 64 anos. Além disso, quase um quarto das mulheres (24,4%) e 16,8% dos homens apresentavam obesidade, atingindo 32,2% das mulheres entre 55 e 64 anos. Além disso, há uma informação bastante relevante que não existe em outras pesquisas com este porte. Avaliou-se a prevalência de pessoas com circunferência da cintura aumentada. Sabe-se que esta medida é um marcador importante de risco de doenças cardiovasculares. No Brasil, 52,1% das mulheres e 21,8% dos homens estavam com circunferência abdominal aumentada, superando 70% nas mulheres acima de 50 anos.
Com relação à pressão arterial elevada, mais de um quarto dos homens adultos (25,3%) e 19,5% das mulheres (total no país, 22,3%) apresentaram valores aumentados por ocasião da avaliação. A prevalência aumentou ao longo das diferentes faixas etárias.
Estas informações trazem um importante cenário dos fatores de risco e da importância do planejamento adequado para as ações em promoção da saúde e prevenção de doenças, com ações estratégicas e baseadas em evidências, buscando desfechos que melhorem a saúde e a qualidade de vida da população.