A última década foi marcada por avanços nas tecnologias de ressonância magnética e tomografia computadorizada, com melhorias significativas em usabilidade, velocidade na aquisição de imagens e capacidade de pós-processamento. Essas evoluções não apenas facilitaram a operação dos equipamentos, mas também elevaram a segurança e o conforto do paciente, permitindo a realização de exames mais precisos.
O mercado de imagens médicas (hardware, software e serviços) deve chegar a US$ 47,4 bilhões em 2030, segundo estudo da Grand View Research. O relatório mapeou tendências em 21 países, incluindo o Brasil, considerado o mercado com o maior crescimento em diagnóstico baseado em imagens na América Latina. Seguem como tendências nesse setor, de acordo com, dados do relatório, imagens 3D, inteligência artificial, realidade virtual e equipamentos portáteis e móveis.
A medicina diagnóstica no Brasil está experimentando um período de inovação e digitalização, impulsionado pela saúde digital. “A digitalização da saúde tem contribuído para a melhoria dos processos assistenciais em todo o setor, ampliando o acesso aos serviços de saúde e demonstrando agilidade e segurança”, avalia Milva Pagano, diretora-executiva da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed).
De acordo com dados apresentados na 5ª edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico, a demanda por serviços de diagnóstico deve crescer 96% até 2050. As condições epidemiológicas continuam a impulsionar a demanda por exames, tanto na área laboratorial como na de imagem, segundo o documento.
“As tendências globais, como a crescente importância da medicina personalizada e a introdução de novas tecnologias de imagem, estão influenciando o cenário nacional. As empresas do setor estão se adaptando, incorporando novas tecnologias e buscando melhorar a eficiência e a eficácia dos serviços de medicina diagnóstica”, avalia Milva.
A tecnologia tem se firmado cada vez mais como um fator determinante para a evolução das soluções de imagem. “Percebemos que o setor evoluiu e amadureceu muito nesse sentido. Desde a convenção do padrão DICOM (Comunicação de Imagens Digitais em Medicina) como formato das imagens de radiologia, pode-se dizer que todos os PACS (sistema de armazenamento e comunicação de imagens que funciona como um banco de dados de exames, que armazena imagens em formato DICOM) são interoperáveis e integráveis com qualquer equipamento (tomografia computadorizada e ressonância magnética, por exemplo), de qualquer marca”, explica André Toledo, líder de Diagnóstico por Imagem LATAM na Philips.
Na opinião de Toledo, o futuro da radiologia está em saber interoperar imagens com dados de paciente ou dados terceiros. “Por exemplo: cruzar um dado HL7 (formato oriundo de um RIS) que informa o horário de agendamento de um exame, com um dado DICOM (oriundo dos equipamentos) a fim de obter insights de produtividade clínica para entender se os exames estão sendo iniciados conforme agendados. Ou então, cruzar dados de prontuários médicos (oriundos de um EMR) com dados DICOM, para que os médicos laudem exames de urgência/emergência com prioridade.”
Milva destaca que a aplicação da inteligência artificial tem avançado no setor, tornando os resultados de exames de imagem mais rápidos, precisos e, em algumas situações, preditivos.
“A integração de dados também tem sido uma inovação crescente, melhorando a experiência do usuário e a eficiência dos serviços de saúde. No campo do diagnóstico por imagem, a presença da inteligência artificial promete, além da melhora na qualidade das imagens, redução no tempo necessário para a realização do exame, trazendo mais conforto ao paciente”, avalia Milva.
Para Bruno Aragão Rocha, coordenador médico de Inovação do Grupo Fleury, a evolução de softwares que estão embarcados nessas máquinas está sendo fortalecida com a inteligência artificial, que reduz o tempo de um exame de ressonância magnética em até 40%. “A inteligência artificial traz ganho de performance, pois uma redução de tempo em um exame, que geralmente causa incômodo, melhora a experiência do paciente. Nos últimos dois anos, os avanços nos exames de imagem têm sido muito consistentes”, explica Rocha.
Como tendências em exames de imagem, Marcos Queiroz, líder do Comitê de Radiologia e Diagnóstico por Imagem da Abramed e diretor de Medicina Diagnóstica do Hospital Israelita Albert Einstein, cita a tomografia computadorizada por contagem de fotos (PhotonCounting CT). Permite exames de alta resolução com menos radiação e ganham espaço, por exemplo, em angiotomografias de coronárias de pacientes já submetidos à colocação de stents prévios.
Queiroz destaca ainda o uso da inteligência artificial na redução de radiação e na melhora do posicionamento dos pacientes no equipamento.“Na ressonância magnética, as empresas têm investido em softwares de aceleração de sequências, tornando os exames mais rápidos e confortáveis, além de bobinas visando melhor resolução de imagens. Na tomografia, também existem ferramentas de inteligência artificial que facilitam o posicionamento dos pacientes, reduzindo a taxa de repetição de exames”, avalia. Ele também aponta equipamentos com magneto selado como tendências na área. "Com pouco uso de gás Hélio, há menos custos e impactos ao meio ambiente", analisa.
Atenta a esse mercado, a Philips desenvolveu uma tecnologia de magneto selado, chamada BlueSeal, para operações de ressonância magnética com sete litros de gás Hélio, enquanto as convencionais utilizam mais de 1.500 litros. Segundo Toledo, a tecnologia proporciona mais tranquilidade em relação aos custos com recargas inesperadas, além de reduzir a necessidade de possíveis interrupções durante o exame. “Esses equipamentos não exigem infraestrutura específica para serem instalados, pois já não requerem um tubo de resfriamento – necessário para que os sistemas de ressonância magnética tradicionais expulsem, com segurança e rapidez, grande volume do gás, em caso de emergência.”
Queiroz pontua também algumas tendências em medicina nuclear. “Temos muita evolução no PET CT, por exemplo, que são exames bastante utilizados para diagnóstico e acompanhamento de pacientes oncológicos. Novos equipamentos têm surgido, como os que permitem exames mais rápidos, favorecendo a redução da dose de radiofármacos e o conforto do paciente oncológico.”
No Hospital Moinhos de Vento, Alice Schuch, chefe do Serviço de Radiologia, conta que, nos últimos dez anos, o número de equipamentos de ressonância magnética e tomografia computadorizada mais que dobrou na instituição. “O investimento varia a cada ano, mas sempre são contemplados, no orçamento anual, a renovação do nosso parque tecnológico, bem como sua expansão.”
Alice diz que, junto com o aumento no número de exames, também aumentou a complexidade e a necessidade de investir em tecnologia. O investimento mais recente foi na aquisição de três tomógrafos de última geração (em um valor que chega a R$ 5,5 milhões), além de R$ 2,2 milhões investidos em obras de melhoria de infraestrutura.
As inovações se refletem em exames mais rápidos, que fornecem mais detalhes anatômicos e com uma emissão menor de radiação ionizante (no caso da tomografia). Há também o investimento em melhores meios de contraste e a maneira como eles são administrados, com os técnicos buscando fazer um uso inteligente da medicação, com a menor dose possível. “Essa conduta possibilita diagnósticos mais precisos, aliados à máxima redução de possíveis danos.”
Em relação aos exames de ressonância magnética, Alice conta que, no próximo mês, serão testados softwares de inteligência artificial que deverão ajudar a acelerar a aquisição de imagens de ressonância magnética, mantendo a mesma qualidade, mas trazendo mais conforto ao paciente e menor tempo na realização dos exames.
Ela comenta ainda que os investimentos em novas tecnologias para diagnóstico por imagem se refletem de maneira indireta na satisfação do paciente. “Quando se trata de saúde, o paciente quer precisão diagnóstica, mas principalmente um atendimento humanizado. Assim, precisamos que toda essa tecnologia permita que tenhamos mais tempo de dedicação para o cliente, otimizando o tempo gasto em atividades burocráticas e permitindo uma melhor relação entre o paciente e a equipe médico-assistencial”, explica.
Outra experiência ocorre no Hospital Albert Einstein, que anualmente destina entre 6% e 7% da sua receita para a expansão, atualização e aprimoramento de arsenal tecnológico em exames de imagem, como tomografia computadorizada e ressonância magnética. “Essa estratégia de investimento contínuo é um pilar fundamental para nos mantermos relevantes na geração e disseminação de conhecimento medico e na oferta do melhor atendimento”, explica Adriano Tachibana, gerente Médico de Diagnóstico por Imagem.
Para Queiroz, os avanços tecnológicos têm dado destaque ao papel do radiologista, que evoluiu para um integrador de informações (em quantidade e qualidade cada vez maiores), essencial para garantir desfechos clínicos otimizados.
“A expertise de nossos radiologistas subespecialistas, combinada com a nossa capacidade de integrar informações clínicas à análise de imagens, constitui um diferencial em nossa instituição, assegurando diagnósticos precisos e contribuindo decisivamente para o planejamento terapêutico”, complementa.
Tachibana comenta que a constante atualização tecnológica é um componente-chave para manter e elevar o Net Promoter Score (NPS), refletindo diretamente na percepção de qualidade dos pacientes. “Um NPS consistentemente acima de 80 é testemunho do impacto positivo dessas inovações, não apenas em termos de eficiência e resolutividade dos exames, mas também no conforto, na segurança e na satisfação do paciente.”
Para Cássio Ide Alves, superintendente médico da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), as inovações tecnológicas nos exames de imagem são importantes para o melhor atendimento, mas como toda inovação, estas também trazem, na outra ponta, o fator custo.
“Nem sempre as inovações significam melhorias em diagnósticos. Cabe ao gestor em saúde avaliar aquilo que realmente agrega valor ao beneficiário. Vários fatores devem ser ponderados. Muitas vezes, uma tecnologia mais custosa, mas que traga menos riscos e melhor cuidado, pode gerar economia a longo prazo. Eu acredito que seja importante que toda tecnologia em saúde seja avaliada em relação ao seu custo-benefício antes de ser adotada.”
Na Unimed Nacional, estão sendo abertas unidades próprias de atendimento para absorver os custos das inovações tecnológicas em exames de imagem. “Faz parte da nossa estratégia de crescimento ampliar a nossa rede própria, com a inauguração de seis unidades do Cuidar Mais Laboratórios, que vão oferecer diversidade de exames, tanto laboratoriais quanto de imagem. Nossos beneficiários poderão realizar, nesses espaços, exames como tomografias, ultrassonografias e ressonâncias. Essas unidades representam também uma nova linha de negócios, pois vamos oferecer esses serviços para o mercado”, conta Luiz Paulo Tostes Coimbra, presidente da operadora.
Com isso, ele acredita que será possível propiciar aos beneficiários exames de ponta que ajudarão no tratamento cada vez mais precoce de diversas doenças. “Investir em equipamentos modernos de imagem permite entregar melhores serviços de saúde, trabalhar na prevenção e evitar futuras internações e atendimentos mais complexos. No entanto, também é necessário estabelecer protocolos baseados em evidência médica, para indicação dos exames, para evitar pedidos desnecessários e combater assim o desperdício, que é um fator relevante nos custos médicos”, analisa.
Coimbra destaca ainda que proporcionar o acesso a equipamentos mais modernos é fundamental para que uma empresa se mantenha competitiva dentro do setor de saúde suplementar. “Os beneficiários estão cada vez mais criteriosos e avaliam a rede prestadora. Isso significa que as operadoras precisam acompanhar a sua rede credenciada, para saber se elas têm feito investimentos contínuos em seu parque tecnológico, assegurando, assim, os melhores exames e tratamentos aos seus beneficiários. Quem não assimilar isso, muito provavelmente perderá mercado.”
Suzy Cabral, gerente sênior de Engenharia Clínica do Grupo Fleury, lembra que o diagnóstico preciso não depende apenas do equipamento, mas sim da infraestrutura da instituição e da capacitação do profissional que realizará e interpretará o exame. “Investimos na capacitação dos nossos profissionais para que eles estejam aptos a tirar o melhor proveito das novas tecnologias com reciclagens constantes.”
A capacitação, lembra Milva, é um caminho para que as empresas se posicionem estrategicamente nesse cenário em constante evolução, aproveitando as oportunidades decorrentes dessas inovações. “As empresas devem investir em pesquisa e desenvolvimento, garantindo a acessibilidade sem comprometer a sustentabilidade dos sistemas de saúde, promovendo a educação e o treinamento de profissionais de saúde e pacientes e estabelecendo ações rigorosas de segurança de dados e privacidade.”