Ministério Público do Rio Grande do Sul investiga fraudes em próteses
11/09/2015

Por Giovani Grizotti

Testes revelam que uma em cada três próteses fabricadas no país tem defeitos. Também foram constatadas falhas em modelos importados.

Ministério Público do Rio Grande do Sul investiga uma fraude que atinge a maioria das próteses usadas pelos médicos em todo o Brasil. Tanto os modelos nacionais quanto os importados.

Para aliviar as dores nas costas, a aposentada Rosalina Carvalho da Rosa fez uma cirurgia para colocar uma prótese na coluna. Só que o implante não fez efeito e foi preciso fazer uma nova operação para retirar os parafusos.

“Antes eu ainda fazia todo o serviço da casa, agora não posso fazer mais nada, caminhar muito pouquinho também, porque me dói muito a coluna", se queixa.

Rosalina pode ter sido vítima de uma fraude: uma espécie de clonagem de implantes, que prejudicou também outros pacientes. A suspeita é do procurador da República Pedro Antonio Roso. Ele descobriu que o número de registro de várias próteses vendidas não bate com os cadastros da Anvisa.

“De duas, uma: ou é falso no sistema da Anvisa, ou é falso o produto que foi vendido pela empresa”, explica o procurador.

O Laboratório de Metalurgia Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul testou a qualidade das próteses vendidas no Brasil. O levantamento chegou a uma conclusão preocupante: uma em cada três próteses fabricadas no país tem problemas.

“Se o implante não tem a qualidade desejada, realmente uma cirurgia que é para resolver um problema pode gerar um problema maior ainda”, observa o engenheiro metalúrgico Ralf Wellis de Souza, da UFRGS.

Os números das próteses de quadril e joelho indicam que 62% das marcas nacionais têm falhas no acabamento.

“Sessenta por cento é uma coisa realmente absurda. Mais de 50% das pessoas vão estar sujeitas a algum tipo de desgaste”, diz o presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, Marco Antônio Percope de Andrade.

Entre as importadas, 47% das próteses também apresentaram problemas.

“O mercado tinha que ser melhor controlado, tinha que ter exigências maiores, cobrar a maior qualidade do produto pela agência responsável”, pondera o coordenador do Laboratório de Metalurgia Física da UFRGS, Telmo Roberto Strohaecker.

A Anvisa garante que tomou providências depois da conclusão do estudo.

“Das inspeções realizadas, dependendo da gravidade do problema encontrado, a Anvisa aplicou multas, fez interdição e fez suspensão de produtos”, afirma o diretor-presidente da agência, Jarbas Barbosa.

Há doze anos, o aposentado Aristides Monteiro Filho recebeu uma prótese de má qualidade. Quatro meses depois da cirurgia, o implante teve que ser retirado. E um laudo emitido pelo laboratório da Universidade Federal do Rio Grande do Sul confirmou o que ele temia:

“Consta no laudo dessa prótese que ela tem um material impróprio para ser utilizado no corpo humano, mas de uma prótese um paciente vai reclamar? É aquela história, vai reclamar para quem? Vai entrar na Justiça? Vinte anos depois sai o resultado”, ironiza Aristides.





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