O sistema de saúde brasileiro enfrenta hoje um enorme paradoxo: enquanto pacientes frequentemente reclamam do atendimento, os planos de saúde são considerados caros, as operadoras de saúde reportam déficits financeiros e os médicos recebem pouco a cada consulta. Não quero aqui entrar no mérito dos motivos que levam a essas considerações discrepantes, mas o fato é que a balança da saúde encontra-se claramente desequilibrada e mudanças são necessárias para corrigir o cenário.
Diante desse contexto, uma gestão integrada pode ser a chave para alcançar eficiência, qualidade e sustentabilidade nos custos da saúde. Isso porque a integração permite uma visão holística dos processos, possibilitando a identificação de gargalos e a implementação de melhorias contínuas nas diferentes áreas da saúde.
Há de se destacar ainda que esse tipo de gestão promove a padronização. Padronizar significa que todos os procedimentos seguem protocolos estabelecidos, reduzindo variáveis que podem comprometer a qualidade e a segurança do atendimento. Além disso, um gerenciamento eficaz facilita a integração de tecnologias avançadas, aumenta a capacidade de resposta e reduz custos operacionais drasticamente.
A questão financeira, aliás, vale uma análise à parte. Embora exista um paradigma predominante na saúde que associa corte de gastos a impactos negativos, é preciso deixar claro que estamos falando de custos que serão eliminados em função da maior produtividade operacional. Ao eliminar desperdícios e possíveis redundâncias, é possível gerar um atendimento mais qualificado e econômico a longo prazo. Até porque uma gestão ineficiente, com diversos fatores como objetivos e prioridades distintas, traz desperdícios, custos desnecessários e prejudica toda a cadeia do cuidado.
A pandemia de COVID-19 trouxe à tona a necessidade urgente de uma gestão mais eficiente na saúde. Hospitais, clínicas e profissionais se viram no limite de suas capacidades, o que evidenciou que a saúde precisava avançar não apenas na rapidez do atendimento, mas na redução de custos e na melhoria dos processos médicos. Esse cenário caótico demonstrou a importância de passos estratégicos e da adoção de novos recursos e soluções rumo a uma gestão mais competente.
E já existem fatores que serão, sem dúvida alguma, essenciais para esse esforço em busca de maior eficiência. A tecnologia, por exemplo, assume um papel crucial na dinâmica de transformação. Além de aprimorar os próprios recursos médicos, ela permite a automação de processos. Dessa forma, é possível afirmar que a chegada de novas soluções traz agilidade na rotina e a possibilidade de uso da mão de obra humana para atividades mais relevantes, algo essencial para a área do cuidado assistencial.
Mais do que isso, há de se ressaltar ainda que o uso de ferramentas tecnológicas ajuda na melhoria da capacidade de tomada de decisões estratégicas, tornando o atendimento médico mais assertivo e qualificado como um todo.
A digitalização da saúde precisa ser ampliada pelo uso da Inteligência Artificial (IA). Embora ainda incipiente e em fase de muitos testes, ela promete revolucionar o setor, proporcionando análises mais precisas e suportes diversos às atividades em saúde. Ou seja, a adoção de IA deve transformar a gestão operacional e gerar ganhos significativos em eficiência.
Não há dúvidas de que o cenário atual da medicina brasileira exige mudanças. Hoje, o principal desafio passa pelo alinhamento de todos os stakeholders da área – operadoras, SUS, hospitais, médicos, clínicas e pacientes – em busca de maior qualidade. Atualmente, o que temos é um diálogo fragmentado, onde cada parte defende seus próprios interesses, resultando em um sistema caótico e oneroso para todos.
O desafio de equilibrar os interesses dos diferentes players é real, mas não insuperável. Até por isso, a integração da gestão operacional não se trata de concentrar poder em um único local. É fundamental que o processo seja participativo e transparente, envolvendo todos. A comunicação clara e constante será essencial para construir confiança e garantir o alinhamento dos objetivos. A integração de diferentes perspectivas enriquece a tomada de decisões e certifica que as soluções implementadas atendam às necessidades como um todo.
*Rogério Guariniello é Diretor Geral do HELP.