A interoperabilidade de sistemas pode diminuir em até 28 vezes desperdícios e até mesmo custos no sistema de saúde nacional; o uso da inteligência artificial não substitui a importância da assinatura de uma pessoa; o remédio para a fragmentação é a governança. Essas foram algumas uma das conclusões apresentadas durante a 5ª edição do Fórum UNIDAS – SP, em São Paulo, que aconteceu na última quarta-feira, 14 de agosto.
Este ano, o evento reuniu operadoras de autogestão, representantes da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e profissionais ligados ao setor, que discutiram interoperabilidade e impactos da inteligência artificial. A abertura ficou por conta de Denise Eloi, curadora do evento e CEO do Instituto Coalizão Saúde (ICOS), que enfatizou a importância de fortalecer vínculos e construir novas relações dentro dos debates promovidos pela UNIDAS.
Em seguida, Dr. José Luiz Toro da Silva, assessor jurídico da UNIDAS, mediou o primeiro painel do dia, sobre os impactos da regulação da IA na Saúde do Brasil, destacando que Estados Unidos e Europa já adotaram uma regulação específica. “O Brasil precisa avançar nesse aspecto apesar de já termos uma comissão de juristas. Mas temos que discutir como regular esse tema preservando direitos, com garantias necessárias, sem trazer um impasse à inovação e à tecnologia”.
O painel ainda contou com a participação de Walquiria Favero, professora e pesquisadora de Inteligência Artificial na Fundação Getúlio Vargas – FGV, consultora jurídica no escritório Machado de Melo e Favero Advogados, que destacou a recente aprovação do plano de inteligência artificial para a saúde, ressaltando que ela deve ser revisada para não conter uma solução definitiva para algo que ainda não aconteceu.
Lincoln Moura, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS), presidente da International Medical Informatics Association (IMIA) e consultor estratégico em Inovação do Instituto Coalizão Saúde (ICOS), frisou que o uso de inteligência artificial não anula o mais importante, que é a assinatura de quem faz o trabalho.
No painel “Saúde global e inovação: desafios e perspectivas”, Claudio Lottenberg, presidente do Conselho de Administração do Hospital Israelita Albert Einstein e Presidente Institucional do ICOS, destacou que os principais desafios da saúde global são as doenças infecciosas, crônicas, desigualdades de acesso e mudanças climáticas. “Temos que avançar para um modelo mais misto, aproveitando as iniciativas das instituições privadas oferecidas pela inovação”, disse.
O último painel da manhã abordou “Inovação sustentável e seus impactos no acesso à saúde, na prática”. Com moderação do Marco Souza, superintendente da UNIDAS – SP, o tema foi debatido por Joatam L. Júnior, Healthcare Executive, Data Management e consultor estratégico em inovação da Acol e Marco Bego, CEO do Instituto de Inovação do Hospital das Clínicas (InovaHC). Segundo Bego, a interoperabilidade de sistemas pode diminuir em até 28 vezes desperdícios e até mesmo custos no sistema de saúde nacional. “Existem muitos problemas de regulação, mas a união do setor certamente pode fazer esses problemas serem resolvidos", afirmou.
A parte da tarde, teve início com o painel “Saúde suplementar: repensando a transformação digital no setor”, com moderação de Anderson Mendes, presidente da UNIDAS, e presença de Vera Valente, diretora executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde); Maurício Cerri, superintendente de Tecnologia e Inovação na Unimed do Brasil e, Marcos Novais, diretor executivo da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge).
Vera Valente trouxe uma perspectiva crítica sobre a situação atual da saúde suplementar e expressou preocupação com a rentabilidade do setor, "Estamos em um momento em que temos o maior número de clientes e o pior resultado”, disse, se referindo a um modelo insustentável que leva a perdas financeiras crescentes exacerbadas por custos altos associados a terapias ilimitadas e pacientes de alto risco.
Marcos Novais fez uma análise adicional, revelando dados financeiros alarmantes. Em 2022, o setor enfrentou um déficit de R$ 11 bilhões, causado por uma redução de receita de R$ 7 bilhões, apesar da inclusão de um milhão de novos beneficiários. “No modelo atual, não conseguimos fazer a inclusão total dos dados eletrônicos em sistema como foi com telecom, por exemplo. É preciso democratizar o acesso à saúde para então avançarmos rumo à digitalização total do sistema”, reforçou.
Com uma visão mais otimista sobre as oportunidades proporcionadas pela transformação digital, Maurício Cerri destacou que a digitalização pode gerar uma abundância de oportunidades e melhorias para o setor, mencionando avanços como a Inteligência Artificial que pode melhorar o diagnóstico e reduzir procedimentos necessários.
Anderson Mendes concluiu o painel reforçando que é preciso encontrar um equilíbrio entre acesso e sustentabilidade. “Não queremos negar tratamentos e sim garantir que sejam feitos de uma forma sustentável e com qualidade”, afirmou.
A moderadora Larissa Eloi, CEO Fehoesp e SindHosp, iniciou a mesa sobre “Qualidade em Saúde como prioridade para líderes conscientes” ressaltando a conexão do tema com a qualidade em saúde e pediu aos palestrantes Mara Machado, membro da Academia Brasileira de Qualidade (ABQ) e CEO do Instituto Qualisa de Gestão (IQG) e Paulo Chapchap, diretor médico do Instituto de Estudos de Políticas de Saúde (IEPS) e diretor do Instituto Todos pela Saúde e Diretor de Estratégia Corporativa do Grupo Santa Joana, que comentassem a importância de desenvolver um ambiente de confiança, como os líderes podem se tornar mais conscientes e como promover essa mudança de mindset na liderança com foco na gestão de saúde.
Paulo Chapchap destacou que é essencial que as competências de liderança criem um ambiente de confiança e reestruturem o sistema de saúde. “A primeira competência é a coragem intelectual e para tê-la, é preciso ter conhecimento na área em que deseja atuar”, disse enfatizando a necessidade de desenvolver qualidades como coragem intelectual, inteligência emocional, visão espiritual, vitalidade física e identidade de propósito.
Ainda sobre esse assunto, ele complementou que a condução deve ser colaborativa e não competitiva, e que é fundamental estar atento à saúde física e mental para manter uma liderança eficaz e que, em uma negociação as partes devem se colocar no lugar do outro, esquecendo de qual lado estão, para construir acordos mais justos e equilibrados. “A atitude e o comportamento podem estragar o contrato perfeito, ainda mais aquele que foi criado para levar vantagem.”
Mara Machado focou na distinção entre qualidade em saúde e acreditação. “A primeira se refere a entregar o que foi prometido, independentemente de acreditações externas. Já a acreditação é apenas uma avaliação externa e não garante qualidade por si só.” Ela também ressaltou a importância de integrar pessoas, processos e tecnologia para melhorar a qualidade dos serviços prestados. “Temos que lembrar que, 95% da transformação é de pessoas e processos, o digital representa apenas 5%.”
Mara também abordou a questão da cultura organizacional do silêncio, onde profissionais de saúde veem problemas, mas não se reportam. “Estamos há 30 anos discutindo qualidade, segurança do paciente, valor e experiência, num cenário onde pessoas testemunham o oposto acontecendo. Um ambiente tóxico é difícil aprender, melhorar e evoluir.”
O Fórum também contou com apresentações dos cases do Grupo Fleury, Hemomed e Interplayers. No encerramento, Amanda Bassan Alves, gerente executiva da UNIDAS comentou que o 27° Congresso Internacional UNIDAS que acontece entre os dias 27 e 29 de novembro, em Florianópolis será realizado em uma arena 360° com quatro palcos simultâneos, que propiciará muito conhecimento, trocas e networking.