A indústria farmacêutica investe entre 12% e 16% de seu faturamento anual em pesquisas, o que representa US$ 120 bilhões a US$ 160 bilhões mundo afora. Contudo, o Brasil recebe apenas US$ 300 milhões para pesquisa e desenvolvimento de novas terapias. “Esse investimento é muito pequeno. Precisamos resolver dois problemas no País para que possamos nos tornar mais competitivos no cenário mundial”, afirmou Antônio Britto, presidente-executivo da Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa), em nota ao mercado.
O principal problema é o tempo de aprovação da pesquisa clínica. Um estudo é avaliado em 30 dias na Coréia, em 60 dias nos Estados Unidos, em até 75 dias na Europa, mas no Brasil é preciso esperar 12 meses; o dobro da média mundial.
Isso acontece por causa da dupla avaliação do sistema CEP/CONEP, em que a CONEP (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa) avalia novamente os estudos submetidos ao CEP (Comitê de Ética em Pesquisa). “É fundamental mantermos um padrão elevado de análise ética das pesquisas clínicas submetidas à aprovação, mas não podemos demorar tanto para isso. Essa morosidade acaba fazendo com que muitos estudos deixem de ser feitos no país, o que dificulta o acesso dos pacientes às drogas experimentais e também prejudica o avanço da ciência no país”, disse Britto.
Recentemente, os principais pesquisadores da área médica no País assinaram uma carta aberta à presidente Dilma Rousseff, em que reivindicavam atenção para o problema. Eles argumentavam que a pesquisa não poderia se tornar refém da burocracia sob o pretexto de proteger a ética. Mais de 40 médicos participaram da iniciativa.
Outra questão é referente à integração entre universidade e iniciativa privada. “Os principais centros geradores de novas drogas são centros em que o governo apoia pesadamente a pesquisa básica; a indústria e a universidade trabalham de forma muito integrada para transformar a pesquisa básica em pesquisa aplicada, o que significa novos medicamentos no mercado. No Brasil, a universidade resiste em trabalhar com a iniciativa privada e a iniciativa privada resiste em assumir riscos”, avaliou o presidente-executivo da Interfarma.
Estudos perdidos
No primeiro semestre, as associadas da Interfarma deixaram de realizar 16 estudos no Brasil devido à morosidade dos órgãos regulatórios. As pesquisas tinham como objetivo investigar alternativas de combate a problemas como câncer, doenças raras, diabetes e esclerose múltipla.
Ao perder estudos, o País vai caindo no ranking mundial de pesquisas clínicas e, por consequência, desperdiça oportunidades de se tornar inovador. Hoje, embora o Brasil seja o quinto mercado farmacêutico do mundo, ele ocupa apenas a 15ª colocação entre as nações que mais realizam estudos clínicos. Apenas 2,3% das 186 mil pesquisas em andamento mundo afora são realizadas no Brasil; equivalente a 4.309 protocolos.
Sobre a Interfarma
Fundada em 1990, a Interfarma possui atualmente 56 empresas associadas. Hoje, esses laboratórios são responsáveis pela venda, no canal farmácia, de 80% dos medicamentos de referência do mercado e também por 33% dos genéricos produzidos por empresas que passaram a ser controladas pelos laboratórios associados. Além disso, as empresas associadas respondem por 46% da produção dos medicamentos isentos de prescrição (MIPs) do mercado brasileiro e por 52% dos medicamentos tarjados (50% do total do mercado de varejo).