Capital estrangeiro traz aos hospitais dois tipos de investidores
25/08/2015

Depois da permissão do capital estrangeiro como fonte de recursos para a área hospitalar, desde janeiro de 2015, e o cenário de recessão econômica – com inflação beirando aos dois dígitos, previsão de queda do PIB chegando aos 2%, entre outros fatores -, os líderes empresariais devem estar se perguntando: como vamos nos preparar e qual o planejamento para o novo ciclo econômico?

Justamente a nova legislação que passou a permitir investimentos estrangeiros em empresas de assistência à saúde pode fazer parte da resposta.

Devemos lembrar as experiências recentes no Brasil com o ingresso do capital estrangeiro em diversos setores de atividade. No início da década de 90, os supermercados eram controlados predominantemente por empresas familiares e bastante fragmentados. Hoje, com o ingresso de capital estrangeiro, temos grandes centros de compras que representaram uma modernização e consolidação do setor. Na indústria de autopeças ocorreu processo semelhante em que empresas como Metal Leve, Cofap e tantas outras empresas familiares nacionais, foram consolidadas em torno de grupos multinacionais (Mahle, Delphi e outras).

O que vai ocorrer no setor de saúde. A julgar pelas experiências recentes em outros setores? Podemos esperar que esta liberação de investimentos estrangeiros promova uma consolidação no setor (formação de grandes empresas atuando nas diversas regiões) e também uma internacionalização do controle. Ainda é cedo para prever a dimensão que esta consolidação e internacionalização vai alcançar. Se olharmos a indústria farmacêutica constatamos que apesar de ter uma participação dominante de empresas estrangeiras o setor ainda tem a presença de grandes empresas nacionais.

De qualquer modo, para muitas empresas estabelecidas no setor de saúde esta consolidação poderá vir a representar uma oportunidade, pois poderá valorizar seus investimentos; para outras, no entanto, poderá ser uma enorme ameaça.

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De que lado está sua empresa?
Este processo de consolidação e o ingresso do investidor profissional no mercado mudam a dinâmica e principalmente a parametrização de desempenho do setor. Muda a linguagem dos gestores. Surge a necessidade de implantar boas práticas de Governança Corporativa. Palavras como, EBITDA, margem EBITDA, múltiplo EBITDA, alavancagem financeira, relação Dívida/EBITDA, se incorporam ao setor e se tornam alvo da preocupação dos gestores.

A liberação para o investidor estrangeiro traz para o mercado de hospitais dois tipos de investidores, o investidor estratégico e o investidor profissional.

O investidor estratégico é aquele que já faz parte do negócio, é um concorrente, cliente ou fornecedor. Tem como característica fazer um investimento para ficar no negócio, com visão de longo prazo.

O que chamo de investidor profissional é representado em grande parte pelos fundos de private equity. Estes investidores já estão presentes na indústria da saúde tendo investido, por exemplo, no Delboni (Pátria), na Rede D’Or (BTG Pactual, Carlyle) no Hermes Pardini (Gávea) para citar alguns exemplos.
São normalmente muito diferentes as abordagens e as negociações destes investidores. As empresas investidas ou alvo do interesse precisam ter isto bem claro.

O investidor estratégico estará fazendo uma compra definitiva. Na maior parte das vezes é alguém do ramo. Tem interesse na região ou mesmo em especialidades da empresa investida. Normalmente se movimentam por estratégia. Por exemplo, a estratégia definida e de crescer nos mercados emergentes. A partir daí iniciam suas buscas.

O investidor profissional, os private equity funds, podem representar uma boa oportunidade também para muitas empresas. Suas características gerais. São investidores temporários.

Entram para sair em prazo definido (podendo sair antes). Precisam neste período valorizar seus investimentos. Podem tomar participação majoritária (de controle) ou minoritária. Necessariamente participam na gestão. Escolhendo executivos, sendo representados no conselho, definindo estratégias. Na entrada fazem um acordo sobre a saída. Podem não pagar o melhor preço inicialmente, mas tendo sucesso no investimento podem representar um preço maior para o vendedor no longo prazo (uma vez que o vendedor não vende integralmente no início). Dependendo do porte da transação podem sair via abertura de capital ou pela venda a um estratégico. No momento da venda final serão bons parceiros na negociação. Experientes neste tipo de transação têm capacidade de melhorar o valor obtido.

No Brasil fundos deste tipo participam hoje em mais de 650 empresas e investiram até o final de 2014 mais de 120 bilhões nos empreendimentos dos quais participam. Muitos destes investidores elegeram os investimentos no setor de saúde como prioritários na atual conjuntura.

A nova lei acrescenta aos líderes de empreendimentos no setor de saúde pelo menos duas perguntas adicionais: para enfrentar este novo ciclo devo procurar fontes de financiamento ou parceiros investidores? Na procura de investidores, devo procurar um sócio ou vender o empreendimento?

Por óbvio, estas duas perguntas dependem de uma série de fatores, tais como o nível de endividamento de sua empresa, como está seu EBITDA, a estrutura de Governança, a profissionalização de seus gestores, seu Plano Estratégico, e outros tantos que quanto mais bem estruturados estiverem aumentam sua capacidade de crédito e o valor de seu negócio tanto para a busca de fontes de financiamento quanto para encontrar parceiros estratégicos.

Assim, é chegado o momento de grandes decisões no setor da saúde, não será mais possível atuar na zona de conforto e ficar como está, a grande movimentação que se avizinha atingira a todos de uma forma ou de outra.
Na dúvida é bom se preparar. É hora de fazer a lição de casa!

-Este artigo é continuação do “Com crise, demanda do SUS aumenta”

* Fuad Noman – Economista, diretor da EconPrev Consultoria





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