A terapia celular tem impulsionado a oncologia de forma tão significativa que já podemos afirmar que se trata da nova fronteira para a cura do câncer. As últimas pesquisas apresentadas nos principais congressos científicos mundiais comprovam o avanço dos resultados relacionados ao aumento da sobrevida e da qualidade de vida dos pacientes oncológicos. Outra boa notícia é que o Brasil já conta com algumas destas terapias de ponta que renovam as esperanças dos pacientes e seus familiares.
A implementação da terapia CAR-T, que se baseia na modificação genética das células de defesa T do próprio paciente, se mostra como um divisor de águas no tratamento dos cânceres hematológicos. Durante o recente Congresso Anual da Associação Europeia de Hematologia (EHA) deste ano, um dos principais eventos sobre onco-hematologia do mundo, foram apresentados estudos científicos que demonstram como esta terapia tem trazido um progresso efetivo para os tratamentos.
Sabemos que além da eficácia da terapia, ganhar tempo é um dos fatores determinantes para o sucesso do combate ao câncer. Neste contexto, estudos apresentados no EHA demonstraram, por exemplo, que ao usar a terapia CAR-T como segunda linha em vez de terceira linha, ou seja, após a recidiva ou o insucesso do primeiro tratamento oncológico convencional, os pacientes com linfoma de grandes células B recidivado ou refratário conseguem produzir duas vezes mais células de defesa T – primordial para a remissão da doença.
Esse estudo aponta também a possibilidade de redução do tempo entre a retirada das células do paciente (leucaférese) e a infusão das células modificadas pela terapia – o que chamamos de processo veia-a-veia. Em oncologia, pesquisadores e médicos buscam correr contra o relógio em busca dos melhores resultados.
Atualmente, as terapias celulares estão focadas em destruir os alvos mais específicos do câncer por meio de medicamentos que atuem nesses alvos. Esta modalidade reduz significativamente os danos às células saudáveis. Terapias tradicionais, como a quimioterapia e a radioterapia, não costumam diferenciar células cancerosas de células normais. Com a terapia CAR-T, uma das diversas vantagens é que os pacientes podem ter menos efeitos colaterais adversos, melhorando a qualidade de vida durante o tratamento.
O processo personalizado da terapia CAR-T, utilizando células T do próprio paciente, que são coletadas, modificadas e reintroduzidas em seu organismo, aumenta as taxas de sucesso por oferecer uma abordagem de precisão e totalmente focada no paciente, podendo ajustar o tratamento conforme as necessidades e condições específicas de cada pessoa.
Dados de estudos clínicos têm demonstrado um prognóstico muito favorável para pacientes em tratamento com CAR-T, com aumento significativo na taxa de sobrevida. Atualmente, há pacientes vivendo com qualidade seis anos após a terapia – algo inalcançável até então. Os avanços na terapia CAR-T estão pavimentando o caminho para a possível cura de câncer hematológico.
Este cenário é encorajador e indica que estamos mais próximos de transformar essa esperança em realidade. A precisão, a redução dos efeitos colaterais, a melhoria da qualidade de vida dos pacientes e a personalização da terapia celular nos colocam em outro patamar no panorama oncológico. Vale ressaltar ainda que a agilidade propiciada pelo tratamento CAR-T, somada a estes outros fatores, tem contribuído muito para o avanço no combate às neoplasias hematológicas. Na luta pela cura do câncer, a corrida contra o tempo pode determinar quem vai vencer a batalha.
*Douglas Vivona