O professor de Educação Médica da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), Melchor Sánchez-Mendiola, termina nossa série de entrevistas com os keynote speakers do Medinfo– evento de TI em Saúde que acontecerá nos dias 19 a 23 de agosto (SP).
Mendiola falou sobre a importância crescente da informática biomédica, apesar de ainda enfrentar barreiras no mercado para a área decolar em termos de educação e abrangência.
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Antes da entrevista, compreenda o que é a Informática Biomédica: É a área que cuida do desenvolvimento de softwares e equipamentos eletrônicos para serem empregados nas áreas biológica e médica. O bacharel em Informática Biomédica cria softwares que otimizam as tarefas em hospitais, clínicas, centros de saúde, laboratórios de análises clínicas e núcleos de pesquisa. Aliando conhecimento em Ciência da Computação e Ciências Médicas, esse profissional cria, aperfeiçoa e adapta equipamentos eletrônicos móveis para a realização de exames. Desenvolve e implanta softwares para análise de exames laboratoriais e arquivamento de dados sobre os pacientes. Ele também pode trabalhar na indústria, em parceria com outros profissionais, como engenheiros, no desenvolvimento e manutenção de equipamentos e sistemas de imagem usados na Medicina.
Na sua apresentação no Medinfo, você vai falar sobre Educação na Informática Biomédica: o copo está meio cheio ou meio vazio? Você pode explicar melhor?
A formação de profissionais de saúde competentes é um dos mais complexos desafios que enfrentam as instituições acadêmicas. Uma das competências fundamentais para a prática médica de qualidade é a efetiva utilização dos métodos e ferramentas de informática.
Apesar das contribuições para a saúde que o campo da informática produziu nas últimas décadas, a importância dada ao seu ensino é relativamente limitada, a exemplo da escassez de escalas médicas que a contemplem no seu curso formal.
A Association of American Medical Colleges (EUA) recomendou a inclusão da informática nos programas educacionais, mas as escolas médicas têm sido relutantes em adicionar cursos e horas de treinamento em sua grade de curricular já saturada. Porém, este cenário está mudando à medida que a nova subespecialidade de informática clínica decola, e hospitais e escolas médicas desenvolvem departamentos de Informática Biomédica.
A metáfora do “meio copo cheio ou meio vazio” reconhece que, enquanto um grande esforço tem sido feito pela comunidade de informática em saúde com relação ao ensino e aprendizado de seus conceitos básicos, um caminho longo e complexo começa a ser trilhado com a inserção desses conceitos de forma integrada na formação e pós-graduação dos profissionais de saúde.
Como está a demanda para a especialização em informática biomédica no mundo?
Eu não tenho o número preciso, mas acho que a demanda explícita, ou seja, o número de cargos específicos nas universidades e instituições de saúde é variável mas crescente, enquanto a importância da contratação de profissionais de informática biomédica é reconhecida.
Por outro lado, creio que a demanda implícita, ou seja, a necessidade ainda não expressa é claramente muito maior, paralelamente ao crescimento da importância do uso de dados e informações para a Saúde e vida das pessoas em geral.
Como você analisa a demanda por esse professional no Brasil, EUA e México?
O mercado para este profissional está crescendo em todos os lugares, não apenas em países em desenvolvimento. A academia e a indústria precisam trabalhar juntas para estabelecer as reais necessidades de curto e longo prazo para os profissionais de informática biomédica, uma vez que os processos educativos formais costumam levar um longo tempo.
Atualmente, quais são os principais desafios para educar estudantes de medicina?
Existem muitos desafios: a quantidade de dados e informações que eles precisam usar e gerar conhecimento é enorme, e não mostra sinais de diminuir; a integração do conhecimento durante o treinamento na escola médica exige um grande esforço por parte dos professores, alunos e líderes organizacionais da escola de medicina; o “currículo oculto” da medicina afeta fortemente o que os alunos aprendem no local de trabalho; a economia na saúde está ficando cada vez mais complexa, e os médicos quase não têm treinamento neste campo, lembrando que os custos de infraestrutura de TI são sempre elevados; há ênfase nas “ciências duras” (bioquímica, fisiologia), com menor ênfase nas “ciências humanas” (psicologia, antropologia), o que distorce a formação médica em diversas escolas médicas; dificuldades de avaliar a aprendizagem de uma forma holística e autêntica, sendo que a avaliação tem uma forte influência na aprendizagem e eu acho que é uma oportunidade perdida não usá-lo alinhado com o currículo.
Qual é a principal ferramenta de TI para os médicos?
Provavelmente seus devices pessoais, como smartphones e tablets, pois têm uma grande influência no dia a dia, assim como também para estudantes de medicina e residentes. Os avanços nas tecnologias de registros eletrônicos de saúde também são uma das mudanças mais influentes na área da saúde.
Os médicos estão preparados para os wearable devices, redes sociais, ferramentas de business analytics e outras?
Bem, sim e não. Sim, no sentido de que essas tecnologias estão em todo lugar, e estão ficando mais baratas e mais fáceis de usar. É difícil não usar redes sociais nesta área. Por outro lado, já não é tão simples usar essas ferramentas de uma maneira eficiente e efetiva durante a prática clínica, e assim produzir resultados benéficos tangíveis para os pacientes e sociedade.
Como a informática biomédica ajuda na gestão de crônicos, levando em conta o envelhecimento populacional?
Trabalhando na coordenação de um time de saúde, com médicos e enfermeiros habilitados em atenção primária, para atender as necessidades específicas de uma população. O uso da telemedicina, registros eletrônicos de saúde, dados e informações centrados no paciente, acompanhamento longitudinal dos dados clínicos e laboratoriais podem ajudar a otimizar substancialmente o atendimento e resultados clínicos.
Qual é a principal preocupação do hospital em relação à segurança dos dados dos pacientes?
Uma importante preocupação é a privacidade e confidencialidade dos dados. É importante estar ciente a respeito do código de ética da Associação Internacional de Informática Médica para profissionais de saúde (International Medical Informatics Association Code of Ethics) e disseminar seu uso pelas instituições de saúde. Os dados dos pacientes dentro de hospitais precisam ser protegidos, é preciso saber abordar ambos os lados, o tecnológico e o humano.
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