Esta é a segunda parte do artigo “O Brasil e a capacitação de pessoas para P&D”, de autoria do professor da FIA Luis Lopez Martinez. A continuação da análise sobre a situação dos profissionais na área de P&D contempla o exemplo das empresas de saúde mais inovadoras dentre uma lista de 25 empresas publicada anualmente pela Revista Época Negócios / Fundação Getúlio Vargas – FGV-Eaesp.
Confira:
Em 2009, um laboratório de análises clínicas e três indústrias farmacêuticas foram consideradas entre as vinte e cinco empresas mais inovadoras do Brasil, segundo a lista anual publicada pela Revista Época Negócios / Fundação Getúlio Vargas – FGV-Eaesp. Cinco dimensões foram analisadas por um fórum de especialistas da FGV – Eaesp, sendo: A- liderança e os mecanismos adotados para garantir que a inovação faça parte permanente de suas estratégias; B- meio inovador interno e o estímulo à iniciativa e ao envolvimento de pessoas; C- as pessoas que conduzem o processo de inovação, envolvendo capacitação e reconhecimento de colaboradores; D- o processo de inovação, envolvendo alocação de recursos, geração de ideias, desenvolvimento e implementação das inovações e E- os resultados, envolvendo os ganhos financeiros e o sucesso da empresa (6).
Analisando-se o caso do Laboratório Farmacêutico Cristália, em Itapira (SP), a empresa foi considerada inovadora principalmente por ter reinventado o modelo de negócios, adotando o conceito de inovação aberta. Em 2004, a Cristália criou um conselho cientifico, que se reuni a cada 2 meses com o objetivo de descobrir as pesquisas cientificas mais promissoras do Brasil e analisá-las do ponto de vista cientifico e de mercado. Parte dos membros desse conselho não são pesquisadores da empresa, mas especialistas de diferentes áreas recrutados em universidades. Esta parceria entre pesquisadores e profissionais coorporativos faz a ponte bem-sucedida entre a universidade e a indústria, está de acordo com a tendência mundial e torna a empresa uma das mais inovadoras do país (6).
No caso do Laboratório Farmacêutico Daiichi Sankyo, em São Paulo (SP), a empresa foi considerada inovadora, pelo fórum de especialistas da FGV – Eaesp, por introduzir uma série de ferramentas colaborativas para estimular a criatividade na empresa. Através de um trabalho integrado entre as áreas de recursos humanos, interações humanas e inovação e gestão do conhecimento, foi criado um núcleo de inovação, fomentando a produção de ideias, inclusive no processo de pesquisa de novos medicamentos. Seus centros de estudo para descoberta e desenvolvimento de moléculas estão nos Estados Unidos e no Japão, mas a responsabilidade pelo êxito do produto final é dividida entre as principais filiais (6).
Na análise do caso do Laboratório de Análises Clínicas Sabin, em Brasília (DF), segundo o fórum de especialistas da FGV – Eaesp, a empresa foi considerada inovadora por estabelecer parcerias com universidades para desenvolver novas metodologias de diagnóstico de doenças. No ano de 2007, uma parceria com a Universidade de Brasília resultou na descoberta de uma nova metodologia de análise genética e na identificação de uma rara mutação genética na produção de hormônios sexuais, sendo o tema publicado no The New England Journal of Medicine. Estudos em parceria com instituições de pesquisa já resultaram na publicação de 123 artigos científicos e em 16 novos projetos em desenvolvimento. Em 2008, a empresa investiu R$ 1,5 milhão em formação, sendo que 492 dos 708 funcionários da empresa na época receberam bolsas para graduação e pós-graduação (6).
O Laboratório Farmacêutico Prati-Donaduzzi, em Toledo (PR), é considerado um laboratório genuinamente brasileiro e especializado em medicamentos genéricos. Em 1999, após a criação da lei dos genéricos, a empresa então de porte médio, investiu na capacitação de funcionários, criando cursos em parceria com o Senai. O programa de capacitação estendeu-se para a comunidade local e mais de mil pessoas foram formadas em dois anos. A geração desses recursos humanos possibilitou a criação de empresas que passaram a fornecer insumos para o Prati-Donaduzzi, como a CentralPack, fornecedora de embalagens, e a Biocinese, especializada em estudos de bioequivalência farmacêutica. Por estimular o aprendizado e o espírito empreendedor da comunidade, Laboratório Farmacêutico Prati-Donaduzzi foi considerado entre as vinte e cinco empresas mais inovadoras do Brasil (6).
Se compararmos a organização interna de empresas multinacionais e nacionais, ainda notamos a ausência ou pouca presença de posições de trabalho já existentes no exterior e consideradas como parte da estratégia para o P&D. Profissionais como “Scientific Education Manager”, “eCRF Developer”, “Head of Bioinformatics & Biostatistics”, “PSUR Manager”, “Health Economics & Outcomes Research Manager”, “Patient Relations Manager”, “Clinical Trial Budget Manager”; “Medical Science Liaison (MSL)” e outras colocações especializadas em pesquisa clínica e desenvolvimento ainda são pouco frequentes no Brasil. Diante deste cenário, a área de P&D e pesquisa clínica no Brasil é um setor estratégico, com potencial de investimento e crescimento e que necessita de uma constante especialização multidisciplinar, abertura de novos mercados de trabalho locais e criação, aprimoramento e aproveitamento de recursos humanos locais especializados.
Leia Mais: Mas, afinal, o que dificulta a pesquisa clínica no Brasil?
Medicamentos inovadores: como reduzir custos com P&D?
*Este artigo foi dividido em duas partes, veja a primeira AQUI, sob o título O Brasil e a capacitação de pessoas para P&D
**Fonte: Dr. Luis Lopez Martinez, Professor da Fundação Instituto de Administração (FIA). Gerente de Pesquisa do Núcleo de Apoio à Pesquisa Clínica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1- Jornal da USP, 2007. http://www.usp.br/jorusp/arquivo/2007/jusp800/pag09.htm. Artigo de autoria de José Aparecido da Silva, professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP e prefeito do campus da USP em Ribeirão Preto. Jornal da USP, órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
2- Jornal O Estado de S. Paulo, 10 de setembro de 2006. Herton Escobar. Jornalismo científico. Jornal O Estado de S. Paulo. Domingo, 10 de setembro de 2006.
3- Revista Pesquisa FAPESP, Edição Online – 20/08/2009 – http://www.revistapesquisa.fapesp.br
4- Sobral, M.C.& Sbragia, R. Estrutura de P&D Global: O Caso Novartis. Espacios. Vol. 28 (1) 2007.
5- IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Indústria, Pesquisa de Inovação Tecnológica 2005. http://www.ibge.gov.br
6- Revista Época Negócios, ano 3, nº29, julho, p.86 – 118, 2009.
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