Uma fatura de R$ 6 bi: “Operadoras transferiram seus problemas para os hospitais”, diz Anahp
19/06/2024

A situação para as operadoras de saúde começou a melhorar, mas a sangria ainda não foi estancada nos demais elos da cadeia de saúde suplementar.  

Entre prestadores de serviços, desde hospitais a centros de medicina diagnóstica, os prazos para receber pagamentos se estenderam consumindo caixa e deixando muitos players na UTI.   

Números compilados pela Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) mostram que, nos caixas dos hospitais, ao menos R$ 6 bilhões de pagamentos a serem feitos pelas operadoras ficaram em aberto no ano passado – seja por meio de glosas (despesas não reconhecidas pelos planos), pela extensão nos prazos de pagamento,  exigência de desconto ou “criação de dificuldades para que fossem apresentadas as faturas”, segundo a organização.  

É o equivalente a 16% da receita de pouco menos de R$ 40 bilhões registrada pelos 66 hospitais que participaram da 2ª edição do Balanço Observatório Anahp, que acaba de ser publicado.  

“O momento é de muita tensão na relação, porque as operadoras transferiram seus problemas operacionais e fizeram um ajuste de caixa reduzindo o fluxo de receita para os hospitais”, diz Antônio Britto, diretor-executivo da Anahp, que reúne mais de 100 hospitais que estão entre os mais renomados do país, incluindo unidades da Rede D’Or, Mater Dei, Albert Einstein, Sírio-Libanês e as unidades da Dasa.  

O cenário no setor é caracterizado por dois fenômenos. Por um lado, as operadoras já começam a se recuperar do seu pior momento pós-covid, com melhora na sinistralidade. De acordo com a Anahp, 76% delas reportaram resultado positivo em 2023.  

Por outro lado, os prestadores de serviço ainda estão pressionados, com prazos de pagamento saltando de 70 dias para até 120 dias. Os números corroboram uma análise feita pela Polo Capital ainda em abril apenas com os provedores listados na Bolsa.   

Ainda de acordo com o levantamento da Anahp, as glosas aumentaram expressivamente em 2023, sinalizando essa relação desgastada.   
 

A média de glosa inicial gerencial, que calcula os valores glosados pelas operadoras de planos de saúde ainda em fase de negociação, foi de 11,89% do valor total dos serviços em 2023 entre os hospitais que fazem parte da associação. O valor glosado somou R$ 4,72 bilhões.   

Ao final das discussões sobre cada glosa entre operadoras e prestadores de serviço, 1,17% não são pagas. E, segundo amostragem, em torno de 5% entram como perdas para efeitos contábeis. “Vale dizer: grande parte do volume inicialmente glosado comprova-se, ao final do processo, como indevidamente glosado”, diz a associação no estudo.  

Somado a esse cenário, 60% dos hospitais sofreram com descredenciamento seletivo dos serviços por parte das operadoras.  

Esse contexto deve acelerar, segundo Britto, fusões e aquisições no setor, depois de uma queda no número de operações. “Há uma busca de maior eficiência e ganho de escala exatamente para assegurar a sustentabilidade econômico-financeira”, diz.  

Mas as respostas são diferentes, segundo ele. São ao menos três alternativas. A primeira dela é a verticalização, como é o caso, por exemplo, da Hapvida, que oferece planos mais baratos e consegue ganhar eficiência ao ter seus próprios hospitais.  

A segunda resposta é a criação de grandes redes, como a Rede D’Or, e, por fim, a criação de numa trilha de serviços em torno de uma marca, como funciona com o Albert Einstein. “Não existe uma fórmula única ou mágica.”  

“O mercado vai continuar muito agitado e gerando muitas surpresas pelos próximos meses”, afirma Britto – que, apesar de tudo, se diz “otimista” com a busca dos administradores hospitalares por soluções. 
 

Fonte: Exame




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