Há alguns dias vimos estourar na imprensa uma denúncia da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge) sobre a Máfia das Próteses. A entidade que representa os planos de saúde ? que por sua vez tem nas empresas uma parcela significativa de clientes – denunciou um esquema fraudulento e escandaloso que envolve profissionais, hospitais e fabricantes de órteses, próteses e materiais especiais ? as chamadas OPMEs -, e que lesa pacientes, o Sistema Único de Saúde (SUS), as operadoras e à sociedade como um todo.
Em uma década, o percentual médio dos gastos com o benefício saúde saltou de aproximadamente 3% para, em vários casos, chegar a mais de 11% em relação a folha de pagamento das empresas. Reajustes sistemáticos acima do IPCA provocaram esta realidade indesejada. Convivemos com alguns ?ofensores? de custos médicos lícitos: novas tecnologias em diagnóstico, novos medicamentos, maior longevidade da população e maiores coberturas incorporadas a cada dois anos pela agência reguladora. Apesar de dificuldades na hora de pagar a fatura, podemos compreender a conta. O que não é compreensível, são más e inescrupulosas práticas de profissionais de saúde que promovem a disparada da utilização de ?materiais cirúrgicos? de alto custo em busca de ?suas comissões obscenas? pela indicação dessas órteses e próteses, dispensáveis em boa parte dos casos.
Se retirarmos o custo das fraudes, poderíamos supor que, pelo preço atual, as empresas poderiam oferecer a seus trabalhadores um plano de saúde com coberturas muito melhores, o que permitiria um tratamento mais completo e digno.
A denúncia do esquema repercutiu em todo o Brasil não só pela covardia e pela irresponsabilidade com os pacientes, muitos deles com risco de agravamento de seus quadros clínicos e até de morte. A revelação da fraude acendeu um alerta na Economia, porque atinge em cheio o benefício mais oferecido pelas empresas e mais procurado por brasileiros de todas as classes sociais (principalmente com o aumento do poder aquisitivo entre as camadas mais populares): o plano de saúde.
Recentemente, a Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-RJ) encomendou uma radiografia sobre a percepção dos profissionais de grandes empresas do Rio de Janeiro em relação aos benefícios oferecidos por suas corporações. Nesta pesquisa 83% dos entrevistados responderam que o plano de saúde é o benefício mais valorizado entre os trabalhadores, que começa a ser acompanhado de perto pela concessão da Previdência Privada, beneficío que também se torna cada vez mais relevante para os trabalhadores, diante de outra falência do sistema público oficial.
A sociedade precisa acompanhar de perto casos como o da Máfia das Próteses, porque são vergonhosos e nos afrontam. Após o Governo federal anunciar a formação de um grupo de trabalho para estudar medidas que ponham fim ao esquema, outras propostas surgiram e devem ser apoiadas, como a divulgação das principais empresas fornecedoras desses materiais, com os volumes comprados e os valores envolvidos. Além do Ministério da Saúde, a Polícia Federal e o Ministério Público devem agir com rigor. E a sociedade deve estar atenta. Se a conta é nossa, devemos acompanhar, e o governo fica devendo uma resposta rápida para a sociedade.