O Congresso de Atenção Domiciliar e Cuidados de Transição estreou (CAD) na 29ª Hospitalar com casa cheia. Dentre os principais temas, o encontro discute inovações e impactos que o setor vivencia, política de mercado da saúde suplementar, integração de serviços e tecnologias digitais.
Realizado em parceria com o Enconsad - Encontro Nacional de Serviços Atenção Domiciliar, o CAD iniciou os trabalhos com a presença de Mariana Dias, Coordenadora Geral de Atenção Domiciliar do Ministério da Saúde, no painel” Desafios e Oportunidades do Envelhecimento Populacional: A Escalabilidade da Atenção Domiciliar".
Com moderação de Leonardo Salgado, presidente do Núcleo de Empresas de Atenção Domiciliar (NEAD), a discussão também contou com a participação de Martha Oliviera, CEO do Grupo Laços, Frederico Berardo, fundador da Rede Altana e Sheila Lopes, diretora da Captamed.
Mariana Dias abriu o debate destacando o sucesso do Programa "Melhor em Casa", que após 13 anos de implantação, já alcança quase mil municípios em 26 estados brasileiros, exceto Roraima. Conversamos com a coordenadora do programa, na Hospitalar 2023, sobre os resultados do Programa e, desde então, a quantidade de atendimentos mensais aumentou quase 30%, totalizando 400 mil atendimentos por mês.
Também houve alta no número de equipes do programa. “Cresceu a habilitação de equipes e a compreensão da finalidade do Melhor em Casa. Não é para ficar com o paciente para sempre, pelo menos em 80% dos casos. É um cuidado transitório para estabilização do quadro agudo. À medida que as pessoas entendem que é para estabilizar e dar alta, tem mais rotatividade e aí chegam mais pacientes e atendimentos”, explica.
Outra novidade é a Portaria 3005/2024, que atualizou as regras do Serviço de Atenção Domiciliar (SAD) e do Programa Melhor em Casa (PMeC). “Com a Portaria, existe a possibilidade dos municípios pequenos, com menos de 20 mil habitantes, terem equipes próprias. Nossa expectativa é que o programa cresça ainda mais”, pontuou.
Leonardo Salgado apontou os desafios financeiros enfrentados pela área, destacando a baixa remuneração. "Os valores pagos por diária estão cada vez mais apertados, e os custos crescem rapidamente", afirmou. A questão financeira foi amplamente debatida, com todos os participantes concordando sobre a necessidade de encontrar soluções sustentáveis para o financiamento desses serviços, especialmente diante do envelhecimento populacional previsto para 2040.
Martha Oliviera enfatizou a importância de valorizar a entrega do serviço em vez de competir apenas pelo preço. "Nós precisamos parar de nos canibalizar", disse. Ela ressaltou que, para conseguir uma remuneração justa, é crucial focar na qualidade e no valor entregue ao pagador. "Consigo ser remunerada pelo valor", comentou, apontando que essa abordagem começa a ser compreendida pelo mercado.
Uma pergunta do público trouxe à tona a preocupação com a disponibilidade de profissionais qualificados para atender a demanda crescente. Salgado comentou sobre a dificuldade atual na contratação de enfermeiros e terapeutas ocupacionais, especialmente nos grandes centros. "O modelo vai ter que passar por transformação", disse, sugerindo o uso da tecnologia para ampliar o alcance dos serviços.
Frederico Berardo destacou a necessidade de investir na capacitação dos profissionais como uma solução viável. "Já existe um ponto de conhecimento acumulado suficiente que exige uma formação específica para todos os profissionais", afirmou. Ele sugeriu a criação de cursos de pós-graduação e especializações para atrair e motivar mais pessoas para o setor.
Mariana Dias concluiu ressaltando a importância da colaboração com as universidades para incluir a atenção domiciliar na grade de todas as profissões da saúde. "Precisamos cada vez mais estar unidos às universidades, à academia, para inserir atenção domiciliar nos currículos", finalizou.