Quando falamos sobre os impactos ocasionados pelas denúncias envolvendo a interferência financeira na escolha de órteses, próteses e materiais especiais por profissionais médicos, não tem sido incomum encontrarmos afirmações que, de maneira cômoda e superficial, atribuem exclusivamente aos doutores e aos fornecedores de OPME a responsabilidade pelos desvios de conduta que vem sendo investigados.
Entretanto, esta avaliação, apesar de correta no que se refere à expectativa de comportamento destas duas classes, não aprofunda a discussão quanto à responsabilidade que os outros agentes da cadeia (hospitais e operadoras de saúde) também desempenharam neste processo.
Em uma estrutura de remuneração baseada na venda de produtos, e não na prestação de serviço em si, não parece impossível considerarmos que, de alguma forma, foi conveniente para todos que os membros deste mercado a realidade que tínhamos.
Se os médicos abusavam nas prescrições, por que hospitais não os descredenciavam?
Se os preços de OPME’s eram um problema, por que propostas justas de remuneração em procedimentos gerenciados são tão difíceis de serem obtidas?
Se fizermos estas perguntas aos representantes das classes, cada um apresentará motivos bastante convincentes para suas posições. Mas estou certo que no cerne das respostas estarão presentes três características preocupantes: a desconfiança no relacionamento, a ausência de comunicação em prol do entendimento da cadeia e o infalível hábito de atribuir exclusivamente ao outro a origem do problema.
Eis que chegamos em uma situação na qual o mercado todo se vê em risco, com condições muito menos favoráveis de se dialogar e encontrar caminhos que previnam um colapso total da cadeia, sem a interferência direta da regulação federal.