Em uma consulta com o paciente, quanto tempo é dedicado exclusivamente ao tratamento da pessoa? Noventa por cento? Oitenta? O fato é que poucos médicos costumam ter uma resposta a esta pergunta tão simples. Afinal, são tantas tarefas rotineiras e obrigatórias em cada sessão que é natural que alguns profissionais se percam em seus expedientes, realizando atendimentos mais padronizados e, consequentemente, menos humanizados. Tudo isso pelo desconhecimento e ausência de automação na medicina.
Podemos entender a automação como ferramentas que realizam atividades e processos operacionais desenvolvidas anteriormente por humanos. Isto é, máquinas, equipamentos, dispositivos e soluções tecnológicas capazes de concluir tarefas que demandavam atenção e esforço das pessoas, liberando-as para afazeres mais complexos, por assim dizer. A ideia é justamente dar mais tempo para os profissionais se dedicarem a afazeres mais complexos, por assim dizer.
Basta comparar uma consulta de 20 anos atrás com atualmente: o médico precisava anotar todos os diagnósticos e sintomas do paciente, procurar sua ficha em arquivos físicos (que ocupavam espaço considerável no ambiente) e prescrever à mão os remédios, pedidos de exames e demais tratamentos. Hoje, tudo isso pode ser feito rapidamente com softwares de computação. Não à toa que o percentual de profissionais que utilizam computador no atendimento ao paciente saltou de 61,2% em 2016 para 87,2% em 2022, segundo a pesquisa TIC Saúde.
Entretanto, em um mundo cada vez mais tecnológico, só isso não basta. Até porque digitar em um computador todos os documentos mencionados ainda toma um tempo considerável do médico no atendimento ao paciente. Isso sem mencionar casos mais complexos, que exigem investigações em outras fontes de informações clínicas. Como se vê, ainda há tarefas que disputam a concentração do profissional.
Hoje dá para fazer muito mais com diversas soluções, principalmente com o avanço da Inteligência Artificial e de conceitos como machine learning. Saber reconhecer quais ferramentas e tendências serão mais úteis para o expediente nos consultórios é o grande diferencial dos médicos que se destacam e conseguem oferecer um melhor serviço à população.
Verdade seja dita, automação na medicina não é algo novo. Desde o avanço da computação e das ferramentas eletrônicas nos anos 1980 já se discutia a importância e a presença de ferramentas tecnológicas dentro de consultórios e clínicas. O que houve nos últimos anos foi um fortalecimento do tema com o surgimento de novas técnicas e soluções, capazes de automatizar tarefas que, há pouco tempo, pareciam impossíveis, como cirurgias simples e o advento da IA a partir do processamento e análise dos dados de saúde gerados a cada interação entre profissionais e instituições de saúde com os pacientes.
Dessa forma, acentuou-se ainda mais os benefícios da presença da tecnologia no dia a dia do consultório. Médicos que conseguem utilizar as melhores soluções para seu expediente automatizam praticamente tudo referente à gestão do consultório, como agendamentos, pagamentos e documentação de convênios, além de agilizar prescrição de receitas e preenchimento do histórico do paciente – já integrado a outros sistemas.
Quem ganha com isso é justamente o cidadão, que não precisa mais acumular calhamaços de papéis com exames de imagem e laboratoriais e pode receber a receita já no seu aplicativo de mensagem no celular, devidamente assinado digitalmente pelo médico. Situações que antes precisavam ser feitas presencialmente em diferentes locais e que agora permite ao usuário fazer tudo virtualmente no conforto de sua casa.
Contudo, é importante ressaltar que não se trata de substituir o relacionamento entre médico e paciente por interações ‘frias’ por meio de dispositivos eletrônicos. Pelo contrário, a automação na medicina surge justamente para melhorar as consultas. Se há ferramentas que fazem todas estas tarefas, os médicos podem focar exclusivamente na história de seus pacientes, buscando alternativas para o tratamento a partir daquilo que ele ouve, vê e investiga. Algo que seria praticamente impossível diante de tantas burocracias que precisam ser preenchidas.
Um dos erros que médicos e hospitais cometem em relação à tecnologia é adquirir tudo o que aparece como tendência e esperar que, sozinhas, estas ferramentas sejam capazes de entregar a agilidade e eficiência que prometem. A automação na medicina começa justamente com a percepção dos profissionais sobre a importância destas ferramentas e, principalmente, quais problemas elas precisam resolver.
Além disso, é necessário “organizar a casa” para implementar estas soluções mais robustas. Isto é, organizar a forma como os dados dos pacientes são estruturados, armazenados e processados na rotina. Se o consultório ainda utiliza arquivos em papel, não faz sentido ter soluções de IA em sua estrutura, não é mesmo? A boa notícia é que o prontuário eletrônico, um dos primeiros recursos tecnológicos que ganharam espaço no expediente dos profissionais, é um importante aliado nesse sentido.
As melhores opções no mercado vão muito além do simples agendamento de consultas e se tornaram no sistema central do trabalho médico, armazenando não só todas as informações dos pacientes (com acesso a poucos cliques de distância até mesmo no celular), como também consegue cruzar com conteúdos de outras fontes, entregando insights importantes para cada diagnóstico e tratamento. Com um bom prontuário, não há risco da informação ficar solta – o que facilita uma integração com outras ferramentas de IA, por exemplo.
Como se vê, a automação na medicina não precisa ser um assunto complexo e difícil para os profissionais de saúde. Com pouco investimento e ferramentas conhecidas já dá para melhorar processos operacionais e otimizar os atendimentos. Porque o mais importante é justamente a forma como cada médico vai se relacionar com seus pacientes, mostrando que anos de estudo e soluções tecnológicas estão lá para servir e impulsionar a qualidade de vida de todos.