O bom desempenho do centro cirúrgico está diretamente relacionado à qualidade dos processos e serviços que o integram. A falha em algum dos pontos do processo cirúrgico, além de comprometer a segurança do paciente, pode acarretar atraso da cirurgia e até mesmo o seu cancelamento. Por isso, garantir uma dinâmica eficaz e o cumprimento da agenda cirúrgica demanda planejamento, acompanhamento e atenção de todas as equipes envolvidas no processo, incluindo a coordenação do centro cirúrgico, setor de agendamento, setor de nutrição, setor de engenharia clínica, setor da central de materiais estéreis, agência transfusional, setor de farmácia e núcleo de regulação interna de leitos do hospital.
Um estudo realizado no Hospital Geral de Itapecerica da Serra analisou a utilização de tecnologias para reduzir cancelamentos de cirurgias eletivas. O “Bate Mapa” tem como propósito identificar potenciais fatores desencadeadores do cancelamento de cirurgias e promover a adoção de soluções efetivas e a comunicação assertiva dos serviços envolvidos na programação cirúrgica, alinhando a eficiência do processo com os avanços tecnológicos.
Programas disponíveis a um baixo custo, como Google Forms e Power Business Intelligence, juntamente com o auxílio do setor de tecnologia de informação para estruturação e assertividade, promovem uma melhora da qualidade e da eficiência no agendamento de cirurgias eletivas, otimizando horários das salas cirúrgicas, diminuindo o cancelamento de cirurgias e possibilitando, se necessário, a substituição de procedimentos em tempo hábil para não comprometer a programação pessoal do próprio paciente.
O trabalho foi liderado por Frederico H. Adatihara Filho, médico coordenador do centro cirúrgico; Ana Carolina Merce, gerente executiva hospitalar; Vanderléia Arruda Torres, enfermeira coordenadora do processo cirúrgico; Débora Cristina Neves, enfermeira supervisora do ambulatório cirúrgico; Ana Luiza Almeida Diniz, enfermeira supervisora do setor de qualidade; Thiago Andrade, coordenador do setor de tecnologia e informática; e Ana Claudia Santos, analista de sistemas.
Cenário atual
A realização de procedimentos cirúrgicos é uma prática essencial na área da saúde e tem aumentado devido ao avanço tecnológico e à rápida transição demográfica e epidemiológica da população. Pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), baseada em dados de 56 países membros, estimou que ocorrem anualmente 234,2 milhões de procedimentos cirúrgicos no mundo (uma cirurgia para cada 25 indivíduos), resultando em dois milhões de óbitos e sete milhões de complicações, dos quais a metade é considerada evitável.
Em 2004, a OMS lançou a Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, no qual um dos desafios teve como foco as práticas de segurança cirúrgica com o slogan “Safe Surgery Saves Lives” (“Cirurgia Segura Salva Vidas”). No Brasil, foi instituído o Programa Nacional de Segurança do Paciente, reforçado pela Resolução RDC nº 36/2013, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que estabelece ações obrigatórias para a promoção da segurança do paciente.
Durante o período de avaliação no Hospital Geral de Itapecerica da Serra (HGIS), constatou-se a importância de não apenas monitorar o indicador, mas também intervir quando necessário. Para isso, o estudo considerou essencial a adoção de ferramentas que auxiliam nas tomadas de decisões. Dentre as ferramentas, estão um formulário especifico para cada setor envolvido no processo cirúrgico através do Google Forms e a análise do compilado de dados por meio de planilhas no Google Drive, de fácil visualização e interpretação via Power Business Intelligence.
Lean nas Emergências
O HGIS é acreditado nível 3 pela Organização Nacional de Acreditação (ONA) e, desde o ano de 2020, está participando de uma iniciativa do Governo Federal, através do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS): o projeto “LEAN nas Emergências”, em parceria com o Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo (HSL).
Com base nos conceitos da metodologia LEAN, cuja essência é a capacidade de eliminar desperdícios continuamente, além de resolver problemas de maneira sistemática, obtém-se o engajamento das pessoas envolvidas com o processo de trabalho, embasado em propósitos claramente definidos e orientados à criação de valor para o cliente.
A partir dessa necessidade, estabelece-se uma relação com as mudanças requeridas nos processos e na maneira como o trabalho está organizado. Novos processos tornaram explícitas as lacunas de conhecimento e habilidades, criando oportunidades direcionadas para se desenvolver o conhecimento e as pessoas envolvidas com o trabalho, e tornando a jornada do cuidado uma experiência positiva aos usuários do HGIS.
Em 2023, iniciou-se a segunda fase do projeto na instituição, que visa a melhoria dos processos cirúrgicos e de internação nas unidades participantes. Uma das ações propostas para evitar desperdícios e melhorar a eficiência foi o “Bate Mapa” de cirurgias eletivas.
A gestão do indicador “cancelamento de cirurgias” mostrou que é possível melhorar os serviços prestados sem envolver grandes investimentos financeiros. Além disso, os resultados vistos por todos os envolvidos acabam criando um senso de melhoria contínua no processo.
Fluxograma do processo de agendamento adotado
Resultados
No período analisado, de fevereiro a outubro de 2023, obteve-se um aumento de 93,6% de cirurgias eletivas realizadas e uma queda na taxa de cancelamento de 17,26% para 10,95%. Além de atingir o objetivo primário com esses indicadores, foram observadas melhorias na qualidade e na eficiência para o atendimento do paciente:
Conclusão
Melhorias no processo cirúrgico podem ser realizadas com mudanças de atitudes, sem gerar custos financeiros à instituição, com redução de desperdícios e garantindo a eficiência do processo com a diminuição das filas de espera de procedimentos cirúrgicos, otimização dos recursos, capacitação dos profissionais e participação ativa dos mesmos, segurança no processo de trabalho, qualidade na entrega dos serviços prestados e uma experiência positiva do paciente e família.
Frederico H. Adatihara Filho, médico coordenador do centro cirúrgico, destaca que o aumento da eficiência contribui para diminuição dos custos, além de a economia gerada possibilitar mais investimentos e inovações.
“A experiência positiva do paciente se reflete a partir da dinâmica exercida nesse processo. Um atendimento mais humanizado, a eficiência do processo e a eficácia do tratamento corroboram para o sucesso do projeto. O aprendizado adquirido em nosso serviço tem nos proporcionado ganhos ímpares a todos os profissionais assistenciais e de apoio, estimulando a cultura LEAN para solucionar problemas e a cultura de qualidade e segurança por meio do fortalecimento dos processos de trabalho em suas práticas diárias”, conclui.