Data Literacy: A chave para o futuro da saúde
25/03/2024

Em um mundo cada vez mais digitalizado e com dados proliferando em todos os setores, a capacidade de compreender e transformar essas informações em ferramentas para o dia a dia e para a tomada de decisões estratégicas é fundamental e há um nome para essa habilidade: Data Literacy, ou fluência em dados.

A Data Literacy vai além da mera leitura e interpretação de dados. É a capacidade de manipular grandes volumes de dados brutos e construir conhecimento a partir deles. A área da saúde está passando por uma mudança de paradigma, migrando do modelo de pagamento fee-for-service, para lógicas de remuneração por valor em saúde e desfecho clínico. E para podermos compor novas lógicas é crucial compreender a saúde populacional, utilizar dados de vida real, tratar informações sobre comportamentos e hábitos dos pacientes, capturar conteúdo gerado por dispositivos vestíveis, resultados de exames de laboratório e de imagem, correlacionando tudo isso à jornada de atendimento, ao custo da assistência, ao faturamento, a geração de receita, e toda regulamentação do setor.

 

Essas são apenas algumas das oportunidades que existem na área da saúde, um terreno fértil com um enorme potencial de gerar insights valiosos a partir de dados. No entanto, a maioria de nós, profissionais da gestão ou técnicos da saúde, ainda não domina essa disciplina.

E isso é apenas um exemplo da enorme quantidade de dados gerados no setor da saúde, porque poderíamos incluir todos dados desestruturados dos prontuários eletrônicos, as informações de pesquisas clínicas, o consumo de medicamentos, suplementos e muito mais. Sem a capacidade de interpretar e usar esse volume de dados de forma eficaz, as empresas de saúde estão perdendo uma oportunidade valiosa de melhorar a qualidade dos serviços prestados, reduzir custos e aumentar a eficiência.
 

É importante ressaltar que ter uma área focada em análise de dados é um bom começo, mas não é suficiente. Ter uma equipe de especialistas técnicos em dados e inteligência artificial, é excelente, e muitas empresas bem-sucedidas fazem isso. No entanto, à medida que a organização se torna "data driven", ou orientada a dados, seu setor de analytics precisará crescer proporcionalmente, começando a faltar gente para dar conta dos pedidos de relatórios, dashboards, BI's, soluções com IA generativa e tantas outras possibilidades. Além disso, corre-se o risco de não chegar a todas as áreas da empresa, o que pode ser um ponto de inflexão e de impedimento para o crescimento da corporação.

É aí que surgem as capacitações em Data Literacy!

Com a alfabetização de dados, qualquer profissional se torna capaz de:

  • Ler e compreender diferentes tipos de dados: desde planilhas simples até visualizações complexas.
  • Analisar dados com senso crítico: identificar padrões, tendências e outliers, questionando suas implicações.
  • Construir conteúdos informativos: comunicar insights de forma clara e concisa, utilizando visualizações e storytelling.
  • Manipular grande volume de dados, tornando-se autônomo para suas demandas do dia-a-dia.
  • Tomar decisões mais inteligentes: baseadas em dados confiáveis e análises precisas.
  • Ser um agente de mudança: promover uma cultura data-driven na sua organização.

Em um mundo cada vez mais guiado por dados, a alfabetização de dados é uma habilidade essencial para o sucesso profissional e pessoal.

Isso pode parecer muito distante da realidade de alguns, mas é importante investir esforços para essa direção, pois trata-se de uma habilidade essencial para o futuro, principalmente da saúde. O Fórum Econômico Mundial, em um relatório de outubro de 2020, apontou a Data Literacy como uma das 15 habilidades essenciais para o futuro da humanidade, englobando o pensamento analítico e a inovação. Em março de 2024, no Summit de Orlando/USA, a consultoria Gartner divulgou um estudo que apontou a Data Literacy como uma das principais tendências para o sucesso das empresas, com ênfase na necessidade de desenvolver habilidades em análise de dados em todos os níveis da organização, pois há um cenário de escassez destes profissionais, tornando-se um obstáculo para o crescimento das empresas.

Unimed Porto Alegre é um exemplo inspirador. Uma das maiores operadoras e cooperativas de trabalho médico do Brasil, criou o DATA LAB. Um programa de capacitação com mais de 40 horas de treinamento para analistas operacionais de diferentes setores e funções, composto por duas trilhas de desenvolvimento, uma focada na lógica do negócio da operadora e outra com conteúdo técnico de análise, totalizando 18 capacitações, mais uma dezenha de horas de mentoria.

A jornada do DATA LAB não é apenas teórica, é prática. Os participantes são incentivados a aplicar o conhecimento adquirido em projetos reais, orientados e apoiados por mentores especializados. Os resultados são tangíveis na melhoria em eficiência operacional, na qualidade dos serviços prestados aos seus beneficiários, na visão assistencial e cuidado com o paciente, até o aprimoramento da satisfação do cliente.

Alguns exemplos de projetos entregues pelos alunos da primeira turma do DATA LAB: dashboards com sinalizações para agilizar autorização; análise de viabilidade da implantação de OCR (Optical Character Recognition); monitoranto da evolução do tratamento de pacientes com autismo; painel de gestão de indicadores baseado no novo Prontuário; estudo populacional sobre o uso de alguns medicamentos.

Ao capacitar seus colaboradores a analisar, interpretar e manipular informações, a Unimed Porto Alegre não apenas visa aprimorar seus resultados organizacionais, mas também fortalecer as habilidades individuais de seus funcionários, preparando-os para um futuro impulsionado por dados e inovação.

Data Literacy: Uma oportunidade para todos

Independentemente do tamanho ou tipo da sua empresa na área da saúde, seja operadora de planos de saúde, laboratório, hospital, clínica ou indústria farmacêutica, todos fazemos parte de um setor que está sendo impulsionado pela inovação, transformação digital, interoperabilidade de dados e uma avalanche de informações. A Data Literacy emerge como uma competência fundamental para impulsionar a excelência de todas as empresas da área de saúde.

À medida que os líderes adotam decisões estratégicas embasadas em dados, surge a necessidade de promover essa competência em todos os níveis da organização e até, em um segundo momento, com parceiros de negócio.

É importante ter em mente que entender o cenário da saúde passa também por dominar conceitos, siglas e métricas para então se aventurar nas questões de análise e interpretação dos dados. Pode parecer óbvio, mas, em geral, as pessoas são muito especialistas em sua atuação e não dominam conceitos fundamentais para que não haja viés e má interpretação dos dados trabalhados.

Mas calma, tudo é treinável! A fluência em dados desmistifica o que parece complexo e torna acessível que profissionais possam agir com rapidez e precisão neste mundo de constante mudança.

Outro ponto relevante é ter uma visão sistêmica e agnóstica das principais ferramentas de tratamento de dados no contexto da sua empresa. Cada local terá acesso a alguma tecnologia, e como elas eventualmente podem ser diferentes, isso torna mais prático e acessível aos profissionais do seu negócio.

O conteúdo teórico é relevante e tem seu espaço, mas a maior parte da metodologia deve ser prática, com manuseio das ferramentas e desenvolvimento de projetos aplicáveis à rotina diária de quem está sendo capacitado. E talvez, começar com alguns conteúdos que ajudem a desfazer preconceitos sobre inovação, inteligência artificial e outros tipos de ciência de dados, passando pela introdução em pensamento analítico, raciocínio lógico e estatístico, até alguns ensaios na construção de algoritmos.

É imprescindível reconhecer o potencial disruptivo que é dominar dados e nos desprendermos da necessidade de relatórios com olhar viciado. Se entendermos a capacidade transformacional que é gerar informações que possam levar a soluções com predição de custo, jornada do cliente, diagnósticos e tratamentos para doenças, bem-estar e eficiência operacional... ao adotar a abordagem orientada por dados, podemos moldar o futuro mais saudável e sustentável para o sistema de saúde!

Mas como podemos fazer isso? Comece aos poucos:

  • Incentive a cultura data-driven: Incentive a tomada de decisões baseadas em dados, mostrando que todos que dominarem essa habilidade terão um papel estratégico na sua área de atuação, garantindo empregabilidade e reconhecimento por ser mais eficaz e eficiente.
  • Promova a fluência em dados em todos os níveis da organização: Desde médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, farmacêuticos, incluindo outros trabalhadores das mais diversas áreas da empresa, sem exceções, como higienização, manutenção, técnicos de laboratórios, administrativos de recepção, segurança e tantos outros.
  • Invista em treinamento e capacitação: Habilitar os profissionais, não apenas a entender os dados já gerados, mas manipulá-los tornando todos capazes de produzir o tipo de análise, painel e algoritmo que precisarem para o seu dia-a-dia de forma autônoma.

A abordagem orientada a dados proporciona melhorias substanciais na tomada de decisões estratégicas, pois ao basear-se em informações concretas e confiáveis, as empresas conseguem tomar decisões mais assertivas, embasadas em dados relevantes. Esse processo reduz incertezas e riscos, permitindo que tracem estratégias mais eficazes e alinhadas aos seus objetivos estratégicos. Conseguem implementar medidas corretivas e preventivas, otimizando a alocação de recursos e eliminando gastos desnecessários, consequentemente, no aumento da lucratividade das empresas. Portanto, a cultura analítica é uma ferramenta preciosa para o sucesso e a sustentabilidade das organizações no longo prazo.

É evidente que ainda há muito a ser feito, e há uma importante assimetria entre as empresas e profissionais de saúde, no que tange Data Literacy, mas o caminho está traçado, mostrando a direção do futuro, segue quem quer chegar antes!

 

Diana Jardim

Atual gerente de Inovação na Unimed Porto Alegre e uma das lideranças da vertical de saúde digital do Pacto Alegre.





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