Quando falamos de tecnologia e, principalmente de tecnologia digital em saúde, apesar de ser um assunto já conhecido, muitas vezes pode parecer tema secundário perante os gigantescos desafios do setor. Mas, acredite, é bem maior e mais impactante do que pode parecer em um primeiro olhar. Seja pela sua atuação hoje, mas pelo potencial de transformação futuro, notadamente a partir da incorporação de tecnologia artificial. Sob esta luz, gostaria de compartilhar aqui um pouco do que está se passando na HIMSS, conferência de saúde digital do mundo.
Antes de entrar em conteúdos específicos vale compartilhar um pouco de contexto do que é este evento e porque é tão relevante. A HIMSS – Healthcare Information and Management Systems Society – é uma organização americana sem fins lucrativos dedicada a aprimorar os cuidados de saúde em qualidade, segurança, custo-benefício e acesso pelo melhor uso da tecnologia da informação e sistemas de gestão. Seu evento anual, que este ano vai até o dia 15 de março, em Orlando, nos Estados Unidos, reúne mais de 35 mil pessoas.
Neste evento, stands, palestras e demais interações estão focadas em um tema: saúde digital. Tema tão relevante, quanto é grande o setor da saúde e tecnologia nos Estados Unidos. Como referência, se considerarmos apenas a soma do valor de mercado dos cinco maiores provedores de saúde dos EUA é de US$ 740 bilhões, o equivalente a cerca de R$ 3,8 trilhões. Fazendo um recorte somente para empresas de tecnologia digital para a saúde, o valor de mercado somado equivale a R$ 700 bilhões.
E o que os agentes responsáveis por estas somas estratosféricas estão falando a respeito disso na HIMSS?
O evento começou com dois palestrantes-chave que deram o tom das discussões que se desenrolaram ao longo do dia: Robert Garret, CEO do Hackensack Meridian Health, e Matt Renner, presidente global de startups no Google Cloud.
Robert é responsável por uma frente de discussão sobre saúde no Fórum Econômico Mundial e destacou as prioridades para os sistemas de saúde global:
De maneira transversal, ficou claro que o grande tema é como a Inteligência Artificial pode contribuir para a resolução desses grandes problemas, com soluções que hoje estão sendo aplicadas em estágios iniciais por diversos agentes, apesar de ainda não ter visto um hospital apresentar uma solução já implementada em grande escala. As iniciativas em andamento podem ser segmentadas em três grandes blocos:
Destes três blocos, nota-se claramente um avanço maior no segundo. Aplicações que aumentam a produtividade do corpo clínico como soluções de voz para prontuário eletrônico têm gerado benefícios notáveis na redução do trabalho burocrático desses profissionais, ampliando o tempo dedicado ao paciente. A ideia é que não deveríamos ter uma tela entre o paciente e o médico, o olhar deve estar no paciente, a IA pode capturar a consulta, organizar e registrar o essencial.
Outro ângulo de aplicação está no uso de Inteligência Artificial para a automação do processamento e envio de contas médicas, bem como na governança de trocas e contratos entre prestadores e pagadores, conhecido como ciclo da receita.
Apesar de serem aplicações muito promissoras, uma preocupação fica destacada em todas as falas: a segurança de dados e do paciente. A questão da segurança e privacidade dos dados toma grande proporção no debate, pois ainda é incipiente o conhecimento sobre como novas tecnologias poderão disponibilizar informação de maneira mais organizada e ampla, ao mesmo tempo em que preserva a natureza confidencial destas informações.
Nesta linha Matt Renner, do Google, indica o caminho em três passos simples para hospitais e outros provedores de saúde levarem em consideração:
Terminamos o dia então reconhecendo os grandes desafios globais para o setor da saúde, conhecendo possíveis casos de uso, ainda que incipientes, de inteligência artificial e o quanto a questão da segurança é chave na equação da adoção de tecnologia.
*Rafael Barbosa é CEO da Bionexo.