Não há dúvidasue os avanços tecnológicos têm melhorado a qualidade de vida das pessoas. Agora, quando se trata de tecnologia aliada à medicina, os resultados são surpreendentes. No Brasil, o Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP de São Paulo (InCor), fundado há 47 anos, é referência no uso de tecnologias para auxiliar no diagnóstico e tratamentos de doenças cardíacas.
Atualmente, a instituição conta com a impressão de órgãos em 3D, uma tecnologia considerada pela medicina como uma evolução e complemento dos exames já existentes como tomografia, ecocardiograma, radiografia, ressonância magnética e outros. “Através da impressão em 3D é possível imprimir um coração e fazer uma reprodução fiel do órgão. Este tipo de tecnologia nos permite não só ter um diagnóstico preciso, mas como estudar e discutir, previamente entre os médicos, o tratamento mais adequado. Não tenho dúvidas de que esta tecnologia veio para ficar”, ressalta Marcelo Jatene, Diretor da Unidade Cirúrgica de Cardiologia Pediátrica do InCor.
Além da impressão do modelo em 3D para auxiliar no planejamento de tratamentos e cirurgias cardíacas, o InCor tem explorado mais o uso da tecnologia também para o treinamento de futuros cirurgiões. “O laboratório do InCor é um dos primeiros no Brasil que está desenvolvendo, especificamente, essa tecnologia na área médica e cardiovascular. Com a impressão em 3D, o profissional tem a oportunidade de compreender, de forma precisa, as cavidades e as peculiaridades do coração.
Um recurso único, que nem a ressonância e nem tomografia entrega esse tipo de informação. Desde que o InCor foi fundado, existe uma vocação para o desenvolvimento de novas tecnologias. Os idealizadores do InCor entenderam que o suporte de uma tecnologia é muito importante para o sucesso do atendimento médico”, complementa o médico e coordenador do projeto de impressão em 3D do InCor, Ismar Cestari.
Já existem casos de sucesso com o uso da impressora 3D no tratamento de condições cardíacas. Um jovem de apenas 15 anos , que nasceu com “metade do coração”, se tornou a primeira pessoa na América Latina com essa malformação cardíaca a receber um ventrículo artificial. De acordo com o cirurgião cardiovascular pediátrico do InCor, Luiz Fernando Caneo, médico que liderou a equipe durante o procedimento, o menino nasceu com apenas um dos dois ventrículos do coração e já havia passado por três cirurgias.
O caso era grave pois ele estava evoluindo com insuficiência cardíaca - quando o coração não consegue bombear a quantidade de sangue de que o corpo precisa - e com oxigenação sanguínea muito baixa (hipoxemia). “O próximo passo seria um transplante de coração, mas ele não resistiria. Então, optamos pelo implante de um ventrículo artificial e a cirurgia foi um sucesso”, ressalta Caneo.
Dr. Luiz Fernando conta que os estudos para o procedimento inédito na América Latina, realizado no garoto, começaram com a impressão de seu coração em 3D, uma tecnologia capaz de reproduzir um órgão e partes humanas em sua anatomia real, e simular tecido, músculos, ossos, artérias e radiopacidade. Na oportunidade, o coração impresso em 3D foi apresentado durante um congresso nos Estados Unidos, para que outros médicos especialistas na área pudessem avaliar e opinar sobre o caso. “O InCor tem um grande legado, é praticamente um dos pioneiros na cirurgia cardíaca no Brasil, uma escola brasileira de cirurgiões, um grande centro de transplante cardíaco, e que quando comparado a outros centros, está entre os dez maiores do mundo”.
Outro caso bem emblemático na instituição foi de duas crianças gêmeas xifópagas, coladas pelo tórax e pelo abdômen. Depois de alguns meses de preparação, a equipe de diagnósticos forneceu imagens precisas e tridimensionais, que foram computadorizadas em realidade virtual, para auxiliar a equipe na compreensão da anatomia das bebês e analisar a possibilidade de separação. Uma semana antes da cirurgia, foi realizada uma simulação in loco com todos os profissionais envolvidos para avaliarem e treinarem cada passo do procedimento. “A impressão foi essencial para o planejamento cirúrgico, e o mais importante, nos deu condições para tomar uma decisão mais assertiva”, destaca Dr. Marcelo Jatene.
A impressora 3D utilizada no projeto foi a J750W Polyjet da Stratasys, uma marca americana, que tem representação no Brasil através da LWT Sistemas. De acordo com Marcos Dadário, gerente Técnico da LWT Sistemas, o processo Polyjet é muito similar ao de uma impressora Jato de Tinta 2D. “Assim como na impressora 2D, onde é possível combinar diferentes cores - no processo Polyjet, além de cores - texturas, transparências, resinas, que simulam borracha, polipropileno, etc. Em 2019, a Stratasys lançou o sistema Digital Anatomy Printe (DAP), que possibilita trabalhar até sete materiais simultâneos, simulando tecidos e músculos, ossos e radiopacidades.
Os materiais DAP nos trouxeram um alto realismo para simulação de suturas, perfurações para pinos e fixação de placas, além de contar com uma grande ferramenta para treinamentos e, principalmente, para planejamentos cirúrgicos”, explica Dadário. Para o diretor da LWT, Vitor Hugo Jacob, “ver os resultados da impressão em 3D fazendo a diferença na vida das pessoas, é gratificante e consolida a inovação”, comemora.