Uma nova droga para a prevenção da Aids começou a ser testada pela Fiocruz. Desenvolvido nos EUA, o cabotegravir já vem mostrando bons resultados em testes para o tratamento da doença, e agora será avaliada sua eficácia também na prevenção do HIV em grupos vulneráveis, como homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo, usuários de drogas injetáveis e travestis.
Para ser colocado no mercado, um medicamento passa por várias etapas de testes, primeiramente in vitro e em animais e, depois, em humanos. Nesse último, chamado de estudo clínico, há geralmente três fases (e uma quarta, já no mercado). Esta nova pesquisa está em fase II, ou seja, a segurança do remédio será testada em voluntários saudáveis. Serão 170 pessoas, em países que incluem ainda África do sul, EUA e Malauí. No Brasil, o teste ficará a cargo do Laboratório de Pesquisa Clínica em DST e Aids, da Fiocruz, no Rio, onde serão avaliados 22 voluntários.
— É raro realizarmos pesquisa numa fase precoce de desenvolvimento da droga — afirma a coordenadora do laboratório e do estudo, Beatriz Grinsztejn. — O processo regulatório é muito lento, não conseguimos ultrapassar a burocracia a tempo de iniciar os estudos junto a outros países, então geralmente ficamos de fora.
DIFICULDADES BUROCRÁTICAS NA PESQUISA
Estudos de fase I e II são os que mais agregam conhecimento científico, e são liderados geralmente por EUA, Europa e Japão. Aqueles de fase III precisam de um número de voluntários de diferentes nações, já vêm dos centros com os protocolos mais definidos, apenas replicados no país de teste. Além de uma questão de soberania científica, realizar estudos clínicos no país é importante por levar em conta as características genéticas da população.
Segundo Beatriz, o laboratório se empenhou em acelerar o processo de aprovação. Agora busca voluntários, homens e mulheres, de 18 a 65 anos, não infectados e com baixo risco de contrair o vírus (mais detalhes: http://on.fb.me/1Dfpyus). O remédio, da GSK, é injetável, aplicado a cada três meses, e o acompanhamento dura dois anos. Cinco voluntários já participam do estudo, e não tiveram reações adversas até agora. Pela legislação brasileira, é proibido pagar para eles participarem de pesquisas.
— Buscamos pessoas saudáveis, altruístas, que estarão contribuindo para o avanço da ciência — afirma Beatriz.
Líder mundial do projeto, Raphael Landovitz, pesquisador do Centro de Educação e Pesquisa Clínica em Aids, na Universidade da Califórnia em Los Angeles, explica que, se esta etapa for bem-sucedida, o estudo passará para a fase em que será testada a eficácia do medicamento:
— O objetivo é ter informações de segurança suficientes para seguir a um estudo de eficácia plena.
Landovitz acrescenta que a prevenção da Aids precisa englobar não só um remédio, mas uma ampla estratégia, que inclui o uso de preservativos, tratamento de saúde mental, de abuso de drogas, prevenção da transmissão de mãe para filho, troca de seringas etc.
O relatório da Unaids divulgado ontem destacou a dificuldade de se imunizar contra ou mesmo curar a Aids. O desafio é que o vírus tem várias cepas circulantes, além de conseguir se esconder no organismo. Mas há uma série de estudos clínicos, em diferentes estágios, sendo realizados.
Uma expectativa de um estudo de fase III é a da vacina RV144, conhecida como o ensaio tailandês. Ele teve uma redução da taxa de infecção modesta (31%), testada em 16 mil pessoas. Segundo o relatório, a proteção conferida a ela não durou. Mesmo assim, seu relativo sucesso tem sido um incentivo a cientistas