A saúde pública no Brasil enfrenta desafios complexos, desde a demanda crescente por serviços até a necessidade de garantir atendimentos mais eficientes e acessíveis à população. Com mais de 150 milhões de pessoas dependentes exclusivamente do SUS, os custos elevados, a demanda superlativa e os desafios operacionais representam batalhas constantes enfrentadas pelos gestores públicos.
Nesse contexto, as Organizações Sociais de Saúde (OSS) têm desempenhado um papel fundamental para complementar e fortalecer os serviços prestados pelo SUS. Oficializadas e regulamentadas pela Lei Federal n° 9.637/98, essas parcerias de gestão integrada com as secretarias de saúde municipais e estaduais têm promovido aprimoramentos substanciais.
Dentro desse cenário, o Instituto de Responsabilidade Social Sírio-Libanês (IRSSL), uma OSS que está completando 15 anos de atuação na saúde pública de São Paulo, tem se consolidado como um dos grandes protagonistas do setor, à frente da gestão de 10 unidades, entre hospitais e ambulatórios médicos públicos.
Ao longo desses anos, a instituição cresceu estrategicamente, ampliando a assistência em saúde para a população do Estado de São Paulo com números que impressionam: já realizou mais de 12 milhões de exames laboratoriais, 2,8 milhões de atendimentos de urgência, 2,2 milhões de consultas, além de mais de 220 mil cirurgias e 2 milhões de exames de imagem.
Para dar conta de um volume tão grande de demandas, todas cruciais para a saúde de pessoas que, em sua grande maioria, não têm acesso à rede privada de assistência, o Instituto vem criando um movimento ainda inédito na saúde pública: além da humanização do atendimento, tem investido na digitalização como uma das soluções para agilizar atendimentos e tornar o sistema de saúde mais sustentável. Com esse desafio em sua estratégia para os próximos anos, o objetivo é que, até 2027, as unidades de saúde em São Paulo administradas pelo IRSSL se tornem paperless, e que, até 2024, a automação da marcação das consultas vire uma realidade na rede pública.
Esse modelo de automação, já comum na iniciativa privada, ainda é raro na área pública, apesar de ser importante para proporcionar mais comodidade e conveniência ao paciente, sem conflitar com a necessidade de assistência humana.
E aqui não estamos falando de sonhos, mas de objetivos concretos: em 2022, chegamos a implantar o agendamento por hora marcada para oferecer mais conforto e facilidade para a população em uma de nossas unidades, que passou a oferecer atendimento sem longas filas de espera. O serviço com hora marcada é benéfico também para a gestão dos ambulatórios, reduzindo o índice de faltas e as filas para o atendimento. Antes da implantação do projeto, o tempo médio de espera chegava a 3h; hoje, os pacientes são atendidos no horário marcado.
A transformação digital no IRSSL não se limita à modernização dos processos de agendamento, mas engloba toda a jornada do paciente. A busca por digitalizar os processos internos e otimizar a gestão é uma prioridade, visando aprimorar a eficiência e garantir uma experiência cada vez mais satisfatória para os usuários do SUS.
Centros de referência no SUS
Um dos projetos que mais se destacam é o programa para crianças com fissura labiopalatina, uma má formação congênita que, por conta do Programa Municipal para Fissurados, transformou a vida de milhares de crianças e mães da capital paulista e cidades vizinhas.
O Hospital Menino Jesus se tornou referência no tratamento dessa condição, atendendo, em média, 150 pacientes por ano dentre os nascidos em maternidades do SUS na cidade. Essa parceria entre setores público e privado possibilitou atendimento médico hospitalar com mais eficiência e qualidade, melhorando a atenção aos serviços de saúde especializados de alta complexidade.
Na esfera estadual, outro grande exemplo é o Hospital Geral do Grajaú (HGG), que implementou, a partir da experiência clínica em neurologia compartilhada pelo Hospital Sírio-Libanês, um protocolo ágil para atendimento de AVC (Acidente Vascular Cerebral), garantindo maior rapidez na identificação e tratamento dos pacientes. Os atendimentos nessa unidade passaram a ser realizados em até 13 minutos, superando as metas ideais para minimizar sequelas e salvar vidas.
O Instituto vem atuando intensamente no desenvolvimento do SUS com inovação e eficiência. O Hospital Regional de Jundiaí, também sob gestão do Instituto, utiliza um treinamento inspirado na metodologia Escape Room para promover cirurgias seguras. Outra grande conquista do Instituto é o Ambulatório Médico de Especialidades (AME) Dra. Maria Cristina Cury, em Interlagos, que alcançou um marco impressionante na redução do tempo para diagnóstico de câncer de mama. Sob a gestão do IRSSL, o ambulatório reduziu o tempo médio de diagnóstico para menos de 20 dias, representando uma diminuição de 36% em relação à média anterior, que era de 52 dias.
A unidade implementou a metodologia PDCA para enfrentar a demanda reprimida por biópsias de mama e reduzir o tempo de espera para o encaminhamento das pacientes aos serviços terciários. O resultado é uma melhora significativa no atendimento e no início do tratamento, oferecendo prognósticos melhores para as pacientes e consolidando o compromisso do AME Interlagos em fornecer serviços de saúde de qualidade.
Integrado aos avanços clínicos implementados nessas unidades, o Instituto segue acelerando a jornada de transformação digital no SUS, um movimento essencial para aprimorar os indicadores de atendimento, melhorar os desfechos clínicos e buscar a sustentabilidade no sistema público de saúde.
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* Carolina Lastra é diretora-executiva do Instituto de Responsabilidade Social Sírio-Libanês, possui sólida carreira na área de gestão em saúde, gerenciando equipes de alta performance, controlando e medindo indicadores e garantindo resultados de qualidade.