Hapvida radicaliza na verticalização
14/07/2015
Pouco conhecido no eixo Rio-São Paulo, o Grupo Hapvida vem chamando atenção no mercado de planos de saúde. Desde 2011, a empresa triplicou de tamanho e já é a terceira maior do setor - só atrás das gigantes Amil e Bradesco Saúde. E, mesmo neste ano de desemprego elevado, a previsão do Hapvida é que o faturamento cresça 20% e atinja R$ 3 bilhões. Trata-se de um desempenho muito superior ao do setor de convênios médicos, que cresceu 50% entre 2011 e 2014 e se esforça para que a receita neste ano pelo menos empate com a do ano passado. 

Mas o que faz esse grupo familiar de Fortaleza destoar tanto de seus pares? A resposta é a combinação de um modelo totalmente verticalizado, uso intensivo de tecnologia, atuação em regiões com baixo número de pessoas com convênio médico e gestão espartana dos fundadores - a família Pinheiro é avessa a endividamento bancário. 

A característica que mais se destaca é a verticalização - modelo em que empresas de planos de saúde são donas de hospitais, clínicas ou laboratórios para ter controle total de custos. Essa estratégia é adotada também por operadoras como Intermédica, Amil e as Unimed s. Mas no Hapvida, a verticalização vai além do atendimento médico. Todos os demais serviços - construção das unidades, telemarketing, lavanderia, desenvolvimento de sistemas tecnológicos - são feitos por empresas do grupo. 

Graças a esse modelo, o Hapvida conseguiu construir uma nova ala de um hospital pediátrico, em Fortaleza, com 40 leitos em menos de três meses. Um dos segredos para uma obra tão rápida é que as 210 unidades próprias (hospitais, clínicas e laboratórios) têm o mesmo padrão arquitetônico, o que torna o grupo um grande comprador de porcelanato, por exemplo, um tipo de piso usado em todas as instalações voltadas aos clientes. Nos prédios administrativos, inclusive nas salas da diretoria e da presidência, a decoração é bem simples. 

Atualmente, o Hapvida é dono de 21 hospitais, o que contribui fortemente para seu controle de custos. As internações hospitalares representam quase 60% das despesas de um plano de saúde. 

O conceito de escala é replicado para todas as áreas de negócios. Essa estrutura robusta é a responsável pelo faturamento do grupo, mas a rentabilidade é reflexo de uma gestão fortemente apoiada em tecnologia, desenvolvida dentro de casa há cerca de cinco anos. Uma central repleta de monitores, ao lado da sala da presidência, acompanha em tempo real os passos do paciente. Cada procedimento tem um tempo pré-determinado de atendimento. "Hoje, 75% dos clientes da emergência são atendidos em 15 minutos. Com essa tecnologia também conseguimos agendar as consultas num tempo inferior ao exigido pela ANS", disse Jorge Pinheiro, 42 anos, presidente do Hapvida. 

Desde 2011, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) exige que as consultas médicas sejam agendadas em sete dias, mas muitas operadoras até hoje têm dificuldade para cumprir esse prazo e, por isso, são proibidas de expandir suas carteiras. 

Os hospitais, clínicas e laboratórios do Hapvida trabalham com uma única plataforma tecnológica. Todos os procedimentos ficam arquivados no sistema, reduzindo o número de pedidos de exames, uma vez que o médico tem acesso ao histórico do paciente. "Nosso público é da classe C, que muitas vezes deixa de trabalhar para vir ao médico. Se demorar muito, ele vai embora", disse Pinheiro. 

Outro sistema criado internamente, que usa a biometria para identificar o usuário, fez o número de fraudes no Hapvida cair 23%. No Norte e Nordeste, apenas 6% da população têm convênio médico e muitas pessoas emprestam a carteirinha do plano para um colega desprovido do benefício. 

O desempenho dos médicos também é acompanhado com a ajuda da tecnologia. O fundador do Hapvida, o médico Candido Pinheiro, que preside o conselho de administração, é quem analisa os relatórios. "Eu chamo os médicos para conversar quando há queda de desempenho. Às vezes, o profissional está passando por algum problema pessoal. Mas na área da saúde, não há muito espaço para erros e se eles se repetem por muito tempo temos que dispensar", disse Candido, pai de dois filhos que estão no negócio. 

Administrador de empresas, o primogênito Candido Pinheiro Junior, de 44 anos, é o responsável pela área comercial. A ele é creditada a forte expansão da carteira do Hapvida, que desde 2011 ampliou o número de usuários de 1 milhão para quase 3,5 milhões. Uma das alavancas de expansão foi o plano odontológico, que em cinco anos de existência conquistou 1,3 milhão de clientes. Ao contrário do convênio médico, não há dentistas próprios. No fim do ano passado, a operadora odontológica passou a ter atuação nacional. Para equacionar a questão do atendimento, o grupo decidiu "comprar" a agenda de dentistas. Durante alguns dias por semana, reserva horários para atendimento exclusivo de funcionários de empresas clientes. "Detectamos em quais bairros há o maior número de clientes, que pode ser a região onde fica uma empresa com muitos funcionários. Então, compramos a agenda de dentistas nesses bairros", disse Pinheiro Junior. No ano passado, 235 mil pessoas foram atendidas por meio da agenda comprada 

Dívida de paciente foi 'inspiração' 

No início dos anos 80, o médico Candido Pinheiro dedicava-se à sua clínica de atendimento ambulatorial oncológico. Os casos complexos que demandavam cirurgias eram encaminhados para um hospital da cidade. No entanto, um de seus pacientes recebeu alta do hospital e não pagou a conta, que foi repassada para o médico. "Preenchi o cheque, paguei a conta. Mas se eu tenho uma vaidade nesta vida é não ter que depender do outro. Dai resolvi criar meu próprio hospital. Nunca quis ter plano de saúde ou hospital, as coisas foram acontecendo", conta o fundador do Hapvida, hoje com 68 anos.

O nome Hapvida que, para muitos vem da palavra inglesa happy, é na verdade a sigla de Hospital Antonio Prudente, renomado oncologista que foi seu professor durante a residência médica. 

O plano de saúde foi criado em 1993. Sete anos depois, o fundador foi para o conselho de administração, dando espaço para seus dois filhos assumirem o negócio. Ainda hoje dá expediente de seis horas, mas diz que sua esposa, a enfermeira Ana Lima, 66 anos, é quem ainda está no batente. Ana percorre todas as unidades do Hapvida para checar desde procedimentos médicos até a limpeza dos hospitais. 

Há 20 anos, Candido e sua família converteram-se ao judaísmo após o médico descobrir que tem quatro raízes diferentes: brancos, judeus, índios e negros. Há duas décadas, o fundador do Hapvida iniciou estudos para descobrir sua origem e a do povo cearense e, desde então, já publicou cinco livros sobre o assunto, editados pela Fundação Gilberto Freyre. "A crença de fé dos judeus era a que mais se aproximava da minha. Mas somos todos uma mistura de raças. Isso em todo o mundo", disse Candido, no mesmo dia em que terroristas islâmicos atacaram a França, a Tunísia e o Kuwait. (Beth Koike - Valor Online)
Fonte: Unidas




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