A saúde está enfrentando um novo desafio no Brasil. Com o envelhecimento da população e o crescimento da obesidade, doenças crônicas e complexas estão se tornando mais frequentes. Muitas delas requerem tratamentos contínuos e, por vezes, com terapias modernas. O custo disso é inviável para mais da metade da população.
Hoje, os gastos com saúde aparecem em terceiro lugar no ranking de gastos da família, segundo dados do IBGE. Mesmo com o suporte crescente do Ministério da Saúde, que aumentou de 10,2% para 13,8% do orçamento os gastos com medicamentos entre 2005 e 2014, ainda falta acesso para muitos tratamentos.
De um lado, o paciente brasileiro não tem recursos financeiros para custear o próprio tratamento. De outro, o SUS nem sempre pode oferecer os tratamentos mais modernos. O resultado tem sido o aumento das ações judiciais contra o Ministério da Saúde para obrigar o governo a custear tratamentos.
Nos últimos três anos, o valor pago na chamada “judicialização da saúde” saltou de R$ 367 milhões em 2012 para R$ 844 milhões em 2014; um aumento de 129%. O acumulado desse período é de R$ 1,76 bilhão.
Novo perfil de doenças
Esse cenário complexo da saúde brasileira, em que o acesso a terapias já está bastante comprometido, tende a piorar nos próximos anos. Isso porque a população brasileira está envelhecendo e isso reflete diretamente no perfil de doenças do país.
Os idosos já representam 7,4% dos 201 milhões de brasileiros e, com a expectativa de vida de 71 anos para homens e 78 para mulheres, esse percentual continuará aumentando nos próximos anos.
A idade é um dos principais fatores de risco para muitas doenças, ligadas ao desgaste natural do organismo. O câncer é uma delas e deve registrar cerca de 600 mil novos casos neste ano, segundo o INCA (Instituto Nacional do Câncer). Também avançam as doenças cardiovasculares, o mal de Parkinson e a doença de Alzheimer, entre outros males.
O combate a esse problema crescente requer duas frentes de ações. A primeira focada no desenvolvimento de novas terapias. “Estamos caminhando rapidamente para a individualização dos tratamentos”, observa Antônio Britto, presidente-executivo da Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa). A segunda é ligada ao acesso a essas inovações, desafio que tem gerado grandes preocupações no país.
“A saúde é como um prédio, em que no térreo estavam as doenças transmissíveis que o SUS conseguiu resolver muitíssimo bem, mas faltam soluções no segundo, terceiro, quarto e quinto andares de inovação, de um edifício que não para de subir com as doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, e com as doenças complexas, como o câncer”, afirma Britto.