A transformação digital, quando aplicada ao contexto da saúde, é um elemento que está trazendo mudanças radicais aos serviços. Se antes da pandemia da Covid-19 isso era considerado apenas uma opção, a aceleração aliada à necessidade tornou a digitalização uma exigência para atender às demandas crescentes do setor. 

A integração da telemedicina, por exemplo, demonstrou seu valor inestimável durante a pandemia, mostrando que o cuidado à distância não é somente viável, mas muitas vezes preferível em certas circunstâncias.
 

No entanto, a transformação digital na medicina é mais do que uma tendência: é uma evolução essencial. O uso de big data e inteligência artificial está mudando a maneira como diagnosticamos e tratamos doenças. A análise de grandes volumes de dados de saúde pode revelar padrões, eficácia de tratamentos e possíveis riscos, proporcionando um atendimento personalizado e mais eficaz.

Temas que passaram pelo I Simpósio de Transformação Digital do Hospital Moinhos de Vento, realizado em dezembro pela instituição. Foi um evento que marcou um ponto de virada na interseção entre tecnologia e cuidado médico, destacando a crescente importância e o interesse acelerado em torno da saúde digital. 

O simpósio foi um caldeirão de ideias inovadoras, reunindo especialistas de diversas áreas, incluindo profissionais de saúde, executivos, tecnólogos e representantes da indústria farmacêutica e de tecnologia da informação. As discussões giraram em torno de temas como big data, inteligência artificial, experiência do paciente, interoperabilidade dos dados e cibersegurança.

A resposta entusiasmada do público, tanto presencial quanto virtual, refletiu o crescente reconhecimento da necessidade de integrar soluções tecnológicas avançadas no setor de saúde. O evento não foi apenas uma conferência, mas um diálogo produtivo sobre como a tecnologia pode ser utilizada para melhorar a eficiência, a precisão e a acessibilidade dos cuidados de saúde.

O panorama da saúde no Brasil

O Brasil, com seus mais de 7.300 hospitais, enfrenta desafios únicos em sua jornada de transformação digital. Diversidade geográfica, disparidades socioeconômicas e infraestrutura variável são fatores cruciais a considerar. A digitalização nesse contexto deve ser abordada não apenas como uma inovação tecnológica, mas também como uma ferramenta de inclusão e eficiência.


 

Pilares da transformação em solo brasileiro

Tecnologia da Informação: desafios de infraestrutura - para muitos hospitais, especialmente em áreas remotas, a infraestrutura básica de TI ainda é um desafio. Investir em sistemas robustos de registro eletrônico de saúde é um passo fundamental para integrar as unidades de saúde em uma rede mais eficiente.

Big data e análise de dados: maximizando recursos - em um país com recursos limitados, utilizar big data para otimizar a alocação de recursos pode ser um diferencial. Isso inclui desde a gestão de leitos hospitalares até o direcionamento de campanhas de saúde pública.

Inteligência artificial: superando barreiras de acesso - grande hype do momento, a IA pode ser uma aliada importante na superação das barreiras de acesso, oferecendo diagnósticos remotos e suporte à decisão clínica em áreas onde especialistas são escassos.

Telemedicina: conectando extremos - a telemedicina tem um potencial enorme no Brasil, dada a sua extensão territorial. Pode conectar pacientes em áreas remotas a especialistas em centros urbanos, superando limitações geográficas.

Desafios específicos no contexto brasileiro

Segurança de dados e regulamentação - além dos desafios globais de segurança de dados, o Brasil deve navegar por um cenário regulatório complexo, equilibrando inovação e conformidade.

Capacitação e educação digital - investir na capacitação dos profissionais de saúde em tecnologias digitais é vital, especialmente considerando a diversidade de contextos e níveis de familiaridade com a tecnologia.

Infraestrutura nacional diversificada - a heterogeneidade da infraestrutura de saúde no Brasil impõe a necessidade de soluções digitais adaptáveis e escaláveis, que possam atender desde grandes centros urbanos até áreas rurais isoladas.

O caminho à frente: integrando tecnologia e humanização

A transformação digital no setor deve ser encarada como uma oportunidade para não apenas melhorar a eficiência e a qualidade do atendimento, mas também para promover a equidade no acesso à saúde. A integração de soluções tecnológicas com abordagem centrada no paciente pode ser um divisor de águas na forma como o Brasil enfrenta os desafios de saúde pública.

Uma visão para o futuro

Espera-se que tecnologias emergentes, como a realidade aumentada e a impressão 3D, desempenhem um papel significativo na educação e na prática médica. Além disso, a personalização do atendimento por meio de tecnologias digitais está mais concreta, com tratamentos e planos de cuidados adaptados às necessidades individuais de cada paciente.

A adoção das tecnologias digitais nos hospitais brasileiros é um passo essencial para o futuro da saúde no país. Não é apenas sobre a implementação de novas ferramentas, mas sobre a criação de um sistema de saúde mais conectado, eficiente e acessível a todos. A transformação digital, com suas várias facetas, oferece uma chance para o Brasil superar barreiras únicas e avançar em direção a uma saúde mais inclusiva e inovadora.

Felipe Cezar Cabral - Gerente Médico de Saúde Digital do Hospital Moinhos de Vento

Vitor Ferreira - Gerente de TI do Hospital Moinhos de Vento