Fim das ilhas de excelência do SUS
26/06/2015 - por ENIO SALU

Na semana passada vimos em todas as mídias da imprensa o lamentável anúncio do Hospital São Paulo (UNIFESP) informando que as cirurgias eletivas seriam todas suspensas em função da falta de recursos.

Hoje foi o Hospital Universitário (USP) informando que perdeu 20 % dos seus leitos neste ano devido ao corte de despesas.

No ano passado ficou em evidência a agonia da Santa Casa que mesmo com movimentos de reorganização que dão alguma esperança, ainda está muito distante de superar sua crise.

Na Cidade de São Paulo, só falta o HC e o Dante anunciarem cortes no atendimento, e infelizmente é sabido que o orçamento destes hospitais foi reduzido – não gostamos de pensar nisso, mas tudo leva a crer que é uma questão de tempo para o anúncio.

Para as pessoas que podem pagar planos de saúde isso passa praticamente desapercebido, mas para quem é do segmento, e para os que dependem exclusivamente do SUS, isso significa o fim da quase inexistente rede de excelência de atendimento SUS na Cidade de São Paulo.

Infelizmente são poucas pessoas que entendem o significado do momento que estamos passando:

  • Em todo o Estado de São Paulo, além destas instituições citadas, apenas mais alguns poucos hospitais públicos atendem SUS com padrão de excelência;
  • Estes hospitais não são importantes apenas para a Cidade de São Paulo – basta circular pela Av. Dr. Enéas de Carvalho (HC) para notar a infinidade de placas de ambulâncias e veículos de outras cidades que buscam atendimento no HC de São Paulo. E não são apenas cidades da Grande São Paulo – vêm até de outros Estados;
  • E estes hospitais não são particularmente importantes porque atendem SUS, mas sim porque formam mão-de-obra multidisciplinar de excelência, que os hospitais privados não têm nem condições nem interesse em formar: médicos, enfermagem, fisioterapia, etc.

Quando vemos na mídia uma personalidade sendo atendida em um hospital privado considerado ‘top’, ‘vem de carona’ o médico que é professor da UNIFESP, da USP, da Santa Casa, da UNICAMP…

É muito comum quando somos atendidos em um hospital destes observar o médico utilizando o ‘jaleco’ da universidade, como um autêntico e verdadeiro ‘cartão de visitas’.

O ministro, o secretário estadual, o secretário municipal da fazenda não tem a dimensão do que significam estes hospitais para o sistema de saúde:

  • O mesmo médico assistente que participa de 1 ou 2 cirurgias por semana em um hospital privado, participa de 10 em um hospital destes (até 20 dependendo da especialidade), orientado por um professor e sua equipe, que por sua vez já participou de milhares delas. Se estes hospitais perderem orçamento para atender SUS, não existirá modo de formação de mão-de-obra tão qualificada, e nem de prover o SUS de atendimento com esta qualidade;
  • Cortam o orçamento da saúde como se fosse uma atividade como outra qualquer: não levam em conta que a população cresce independente da crise, e a saúde necessita de orçamento proporcional ao crescimento da população. Não levam em consideração que ‘o doente’ e o ‘morto’ não anda de bicicleta, não viaja e não estuda – cortar orçamento de construção de ciclovias, estradas e programas educacionais é ‘dolorido’ mas é possível, enquanto cortar o orçamento da saúde é decretar ‘pena de morte’ para quem necessita de assistência.

Não lógica alguma: a saúde pública que há alguns anos não tem orçamento adequado e presta um péssimo serviço à população, ainda tem corte de orçamento!

O corte do orçamento deste tipo de hospital arruína o SUS imediatamente, e traz danos irreversíveis à saúde suplementar no médio prazo.

O pior é que as próximas eleições para governo e presidente só ocorrerá daqui há alguns anos, ou seja, nem mesmo como argumento de campanha temos a perspectiva de que alguma coisa será feita no curto prazo para melhorar o cenário. As eleições do ano que vem (prefeitos) não têm como ajudar neste assunto, mesmo sendo objeto de campanha.

E ainda pior é a tendência de redução do número de pessoas que têm plano de saúde nos próximos meses devido à crise, em particular ao desemprego: isso significa um volume ainda maior de pessoas dependendo exclusivamente do SUS.

Utilizei os exemplos dos hospitais públicos de excelência da Cidade de São Paulo para comentar o assunto, mas evidentemente o cenário é exatamente o mesmo nos hospitais deste tipo no interior do Estado de São Paulo, e nos outros Estados da Federação, infelizmente.

Já que não posso fazer nada para mudar o cenário, além de demonstrar profunda indignação, que bom seria se pudesse avançar no tempo rapidamente e esquecer este ‘período sinistro’ da história da saúde no Brasil!





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