Atualmente, o ecossistema brasileiro de saúde enfrenta grandes dores em um contexto de desafios complexos de serem solucionados. A sustentabilidade financeira no setor de saúde suplementar, por exemplo, precisa superar adversidades que ficam evidenciadas por prejuízos operacionais alarmantes de cerca de R$ 4,3 bilhão no primeiro semestre de 2023, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Agravando o cenário, custos médicos têm experimentado um crescimento que supera os índices de inflação. Além disso, a questão do acesso à saúde no Brasil revela disparidades preocupantes.
De acordo com dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), cerca de 34% dos municípios brasileiros carecem de serviços privados de saúde, restringindo o acesso da população a alternativas além do Sistema Único de Saúde (SUS). Nesse tema, apenas 26,1% da população desfruta do benefício da saúde suplementar, reforçando a necessidade de estratégias que ampliem o alcance dos serviços de saúde aqui no país.
Hoje, o cenário de qualidade e desfecho no sistema de saúde apresenta desafios destacados por um modelo centrado no tratamento da doença, e não na promoção da saúde e prevenção. Essa abordagem reativa pode resultar em consequências adversas, evidenciando a necessidade de uma mudança paradigmática em direção a estratégias mais proativas. Somam-se a isso as dificuldades enfrentadas pelos pacientes na adesão aos tratamentos, que dificultam o alcance de resultados clínicos positivos.
Abaixo, confira os principais desafios e as tendências previstas para o setor em 2024:
A incorporação tecnológica, sempre relevante para a área, tem aumentado ainda mais o seu ritmo, complexidade e impactos. Produtos e serviços digitais, por exemplo, estão contribuindo bastante com ao menos dois aspectos fundamentais ao longo da jornada do paciente: engajamentos cada vez mais precoces e frequentes do paciente ao sistema de saúde e uma maior eficácia nos protocolos de prevenção e de tratamento. Novas tecnologias para medicamentos e equipamentos são geradas em um ritmo nunca visto.
Ao mesmo tempo em que este cenário gera diversas oportunidades, tanto de melhoria de desfecho quanto de negócios, pressiona o ecossistema a ser mais veloz na adaptação a melhorias e eficiente para conter custos adicionados, focando no que é mais relevante para as organizações e os pacientes. Cada vez mais será preciso focar em tecnologias e soluções baseadas no uso intensivo de dados e inteligência artificial, trazendo eficiência para as áreas assistenciais, operacionais e administrativas de todos os envolvidos.
O conceito de “open health” (em português, saúde aberta) nunca esteve tão forte nas discussões. Ele é baseado no princípio de promover a abertura de dados e informações de saúde em um ecossistema colaborativo e integrado entre diversos agentes envolvidos no cuidado do paciente. A aplicação do princípio é fundamental para reduzir ineficiências deste ecossistema, que hoje não consegue, por exemplo, identificar eventos que um paciente tenha realizado em diferentes agentes. O assunto envolve ainda uma temática atual, ainda mais relevante com o advento da Lei Geral de Proteção dos Dados (LGPD).
O modelo atual do sistema é focado no tratamento da doença, em vez de cuidar da prevenção. A falta de coordenação nos níveis de atenção à saúde (primária, secundária e terciária) leva à duplicação de esforços, a exames e consultas desnecessárias e a gastos evitáveis. Assim, recursos bem alocados resultariam numa visão do todo com objetivo único de promover um cuidado integral e enfatizar a prevenção, a promoção da saúde e a coordenação de serviços para garantir tratamento abrangente e de alta qualidade.
Essa abordagem visa diminuir o adoecimento considerando diferentes fatores como o ambiente, a cultura, genética e os hábitos individuais. A governança clínica é essencial para entregar valor em saúde, reduzindo desperdícios e aumentando a qualidade dos processos com o objetivo de garantir que os pacientes recebam tratamento consistente com o quadro clínico atual e baseado em evidências, o que melhora a qualidade dos cuidados mantendo sempre o bem-estar dos pacientes como ponto central. Para uma boa execução desse contexto é necessário alteração de modelos de atuação que por sua vez acabam impactando na revisão de estrutura, processos, tecnologia e pessoas.
O sistema de saúde é cada vez mais visto como um ecossistema, do qual fazem parte inúmeros agentes. Entre eles, players atrelados à cadeia de saúde como, por exemplo, operadoras, clínicas e hospitais; a cadeia do setor farmacêutico, incluindo as indústrias, empresas de distribuição e varejo, além de empresas de tecnologia, startups, instituições de ensino e pesquisa e investidores privados e sociais; bem como empresas do terceiro setor, associações, voluntários, agências regulatórias, pacientes e corpo clínico.
O local do cuidado, antes atrelado a players tradicionais, é cada vez mais descentralizado neste ecossistema, realizado hoje desde a casa do paciente, por meio da telemedicina, a farmácias e/ou locais que buscam entregar melhores experiências aos pacientes. Cada dia mais, observamos diferentes healthtechs buscando ofertar soluções (muitas vezes praticamente iguais) para dores do ecossistema, de forma não coordenada.
Em um cenário de transformações, promover e melhorar o acesso à saúde das pessoas, controlando custos e agregando qualidade na entrega do serviço, tornam-se desafios. A implementação de novos modelos de remuneração gera demandas significativas na gestão hospitalar, uma vez que a remuneração baseada em valor exige um alinhamento de incentivos na cadeia, envolvendo pagadores, prestadores, indústria e pacientes.
À medida que o mercado passa por mudanças contínuas, os sistemas enfrentam uma série de adversidades, como a melhoria da qualidade assistencial, com desfechos clínicos que tragam maior valor para usuários, reduzindo custos gerados sem direcionamento adequado e integrando às partes envolvidas um conceito mais sustentável. A busca por um modelo de assistência médica de alta qualidade enfrenta desafios complexos, como a diminuição da variabilidade, otimização dos custos, aderência aos protocolos clínicos e gestão da rentabilidade, garantindo que recursos sejam direcionados adequadamente.