Tecnologia desenvolvida pela Portal Telemedicina mostrou potencial de aumentar o índice de imunização infantil em 8,4% em um ano. O resultado foi obtido após três meses de projeto-piloto com a ferramenta no município de Tarumã (SP). A empresa brasileira foi uma das nove organizações do mundo escolhidas pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) Venture Fund para desenvolver uma solução de inteligência artificial (IA) que contribua com a melhoria do índice de desenvolvimento infantil.
Ao longo de um ano e meio, foi desenvolvida uma solução para compilar dados de vacinação e um mapa que emite sinais de alerta vermelho em crianças com maior número de vacinas atrasadas. A solução também aponta as regiões onde a situação é mais preocupante. Isso permite que os agentes de saúde e gestores públicos tenham uma visão ampla e simplificada da situação, além de servir de embasamento para adoção de medidas mais rápidas para aumento da cobertura vacinal.
Tarumã, cidade de 15 mil habitantes, de acordo com último Censo (2022) , localizada no interior do Estado de São Paulo, foi escolhida para a implementação da fase de teste da ferramenta. O projeto-piloto foi realizado com 3.876 crianças com idade de 0 a 15 anos e gerou 3.544 alertas referentes a vacinas em atraso, segundo o protocolo do Previne Brasil. Um alerta é gerado para cada vacina atrasada, por isso uma criança pode ter vários alertas.
Após os três primeiros meses de implantação (julho, agosto e setembro de 2023), houve um aumento de 3% na cobertura vacinal, saindo de 53% para 56%. O aumento de 0.7% ao mês mostra potencial para crescimento de 8,4% ao ano na taxa de cobertura vacinal com a ferramenta.
Considerando apenas duas vacinas do protocolo Previne Brasil, a poliomielite inativada e a pentavalente, o percentual de aumento foi ainda maior, saindo de 50% para 54% em 3 meses. O Previne Brasil é um programa do governo federal que prevê um modelo de financiamento do Ministério da Saúde para os municípios que cumprirem metas relacionadas à atenção primária.
A líder do projeto, Taciane Vendrusculo, afirma que os dados ainda são muito incipientes, pois o período de aplicação é curto, mas são muito satisfatórios porque já mostram impacto e o potencial da ferramenta para resultados ainda melhores nos próximos meses.
“Os resultados, embora ainda preliminares, nos mostram o potencial de impacto da compilação destes dados. A implantação da ferramenta por si só já gera um impacto no poder público porque remete os gestores a terem de organizar melhor as informações de saúde e a perceber a importância de ter esses registros cadastrados no sistema. Além da visão em tempo real sobre a cobertura vacinal, com essa ferramenta eles conseguem medir rapidamente o efeito de ações, como campanha de vacinação ou visitas de agentes de saúde em comunidades onde há índice de atraso maior, por exemplo”, explica.
A secretária de saúde de Tarumã, Elvira Alice Gozze da Silva, diz que a utilização da ferramenta desenvolvida pela Portal Telemedicina “foi como tirar uma venda dos olhos”, já que permitiu que ela tivesse uma visão dos dados que até então não tinha, além de ter possibilitado a identificação de problemas em relação a marcação de informações no sistema do município e os gargalos da vacinação infantil.
Elvira explica que, após a implementação do sistema, a primeira descoberta foi de que o índice de vacinação do município era melhor do que o que aparece no e-Sus, sistema utilizado pelo governo federal. Com base nos dados, o município começou a fazer busca ativa por crianças com vacina em atraso e viu que algumas tinham as doses, mas o registro delas não havia sido feito no sistema digital.
A principal dificuldade de implementação do projeto foi reunir dados de saúde digitalmente. O município onde ocorreu o projeto-piloto, Tarumã, é referência nacional na utilização de tecnologia para melhorar índices de saúde.
Além de teleconsulta para a população, a prefeitura utiliza telemedicina para emissão de laudos de eletrocardiograma à distância. A iniciativa levou a uma redução de 45% em um ano do número de mortes por doenças crônicas não transmissíveis, como infarto agudo do miocárdio. Também gerou um reconhecimento ao município, pelo Governo de São Paulo, como iniciativa inspiradora a ser seguida no Estado.
Um dos principais desafios da prefeitura para inclusão de dados no sistema é cadastrar imunizações que estão registradas apenas em carteira de vacinação de papel, o que ocorria até a adoção de sistema digital.
“Ao longo do projeto vimos a necessidade de desenvolver uma feature que não havia sido mapeada no início para leitura de dados. Nossa ferramenta permite que dados sejam inseridos no sistema manualmente, como por exemplo vacinas anteriores que apenas estavam registradas na carteira de vacinação física. Caso haja mais uma etapa desse projeto, queremos desenvolver também uma inteligência artificial capaz de ler dados escaneados desses documentos para fazer isso de forma mais automatizada e rápida”, explica o engenheiro de machine learning da Portal Telemedicina, Rodrigo Toledo.
O projeto realizado em parceria com a Unicef é de código aberto, o que permite que outros desenvolvedores do mundo todo possam contribuir com o seu desenvolvimento. O Portal Telemedicina espera ampliar a parceria com a Unicef e está em busca de parceiros internacionais que possam ajudar a financiar a expansão dessa iniciativa por outros países, além de aprimoramento da ferramenta.
Uma possível próxima etapa do projeto inclui o desenvolvimento de tecnologia para emissão automática de alertas a pais e responsáveis pelas crianças com vacinas em atraso, falando da importância dessa atualização.